Desta vez, no entanto, Montevidéu foi o destino. Fomos passar o fim de semana, para conhecer um pouco da cidade e do vinho do país. Antes de sair de viagem, um contratempo trouxe uma sensação de mal agouro, e vi o planejamento do fim de semana começar a ruir. Eu mandei um email de confirmação à Bodega Filgueira, que tinha sido minha escolha de visita vinícola, pois tinha feito a reserva com 2 meses de antecedência, e não nos havíamos mais contactado desde então. Qual não foi minha decepção ao receber a resposta de que eles não poderiam nos receber, pois já estavam lotados para o fim de semana. Sem obter resposta de outras duas vinícolas, o máximo que conseguimos foi uma visita guiada à Bodega Bouza, por $200 pesos (R$20) por pessoa, sem possibilidade de degustação nem de almoço, pois estariam lotados.
A Bouza Bodega Boutique
Seguimos à bodega, mesmo com a programação um pouco decepcionante. Ela fica próxima ao centro de Montevidéu, no entanto só acessível de carro ou táxi. Bonita, com gramado, bem cuidado; uma casa de tijolos aparentes que faz as vezes do restaurante; uma construção parecida a uma igreja, onde ocorre a elaboração do vinho; alguns elementos decorativos, como uma caixa d'água tomada por uma vinha, e um vagão de trem; algumas parcelas de vinhas à vista; um cercado com árvores frutíferas; carneiros e pássaros, que completam a paisagem, à distância; e o galpão com a coleção de carros antigos do Sr. Bouza.Tão logo nos apresentamos, a recepcionista nos agraciou com a boa notícia: houve um cancelamento, e portanto poderíamos almoçar ali.
Na visita, vimos a coleção de carros, ouvimos sobre manutenção das vinhas, que já perdiam as folhas a caminho da hibernação, visitamos a sala de vinificação, onde as máquinas de desengace e prensa já estavam paradas e limpas, esperando a colheita do próximo ano - e onde alguns vinhos deste ano ainda fermentavam - e também visitamos a adega, onde os vinhos já fermentados descansavam, em barricas de carvalho ou tanques de aço inox.
A bodega fez oficialmente 10 anos em 2012, pois em 2002 foram colhidas as primeiras uvas a serem vinificadas. As suas vinhas estão distribuídas em duas propriedades diferentes, ambas no município de Montevidéu. A primeira, em Las Violetas, foi comprada já com vinhas de 30 anos, e outra, onde estávamos, que recebe os visitantes, em que as uvas foram plantadas há apenas 10. A bodega trabalha com 5 cepas diferentes: Chardonnay, Tannat, Merlot, Tempranillo e Albariño, plantadas em diversas parcelas. A condução das vinhas é unidirecional, em espaldeiras, e em cada galho é mantido apenas um cacho, visando aumentar a concentração de açúcares e aromas. A colheita é 100% manual, e noturna. Uma curiosidade é que havia bastante vegetação rasteira aos pés das vinhas (salsa, cebolhinha, beterraba, e mato, também), demonstrando que não viam necessidade de utilizar herbicidas: menos agrotóxicos nas uvas.
Além dos vinhos varietais, eles possuem alguns cortes. Mas seus vinhos mais especiais são os 'Parcela Única'. Na análise das uvas a cada ano, se os frutos de uma parcela se destacam em relação às outras da mesma cepa, esta parcela é usada para a produção do Parcela Única, enquanto as outras são fermentadas juntas, para a produção das linhas regulares.
O almoço e os vinhos
O restaurante é um ambiente relativamente pequeno, aconchegante e sofisticado. Fomos conduzidos a uma mesa junto a uma porta de vidro, fechada, que nos agraciava com uma bela vista externa. De entrada, pedimos polvo na grelha, acompanhado por um Albariño 2011. É pouco comum encontrarmos Albariño (ou Alvarinho, em Portugal) cultivado fora de Portugal ou Espanha. Esta cepa foi escolhida pela bodega por ser de origem galícia, assim como os pais do Sr. Bouza. Da safra de 2011, 20% foi envelhecido por 3 meses em carvalho. Os aromas frutados são sutis, como eu gosto, com um leve toque da madeira, e acidez bem equilibrada. A cor palha bem pálida, com reflexos esverdeados revelando um vinho bem jovial, muito agradável.De almoço, minha mulher pediu um risoto de frutos do mar. Já eu pedi 'un de los nuestros carneros a la parrilla', e quanto ao vinho migrei para o corte Tannat-Merlot. O irmão de algum dos carneirinhos que avistava pela janela estava acompanhado no prato por uma salada e uma pilha de fatias sobrepostas de abobrinha, berinjela e tomate, que chamaram de 'lasagna de legumes'. Tudo estava feito à perfeição. A carne muito saborosa, os acompanhamentos deixavam o prato mais leve, e o conjunto de molhos servidos à parte davam frescor ou intensidade à carne, ao alterná-los. O Tannat-Merlot 2010 foi vinificado com uvas dos vinhedos de Las Violetas e amadureceu por 8 meses em carvalho. Rubi violáceo intenso, com aroma também intenso. A baunilha se sobressai às frutas, a acidez é singela, o teor alcoólico adequado, e os taninos redondos. O vinho me agradou, e foi um bom par para o cordeiro, mas para o meu paladar a baunilha poderia ser mais discreta.
Com as porções muito bem servidas, nem conseguimos pedir sobremesa. Mas fomos embora muito satisfeitos com a visita, com o almoço, com o atendimento, com os vinhos e com a bodega.
Links e referências:
Bodega Bouza: http://www.bodegabouza.com"Los caminos del vino": http://www.uruguaywinetours.com/
É uma associação de alguns produtores de vinho uruguaios, que pode servir como ponto de partida para busca.
Vinosuy: www.vinosuy.com
É um site de venda de vinhos on-line no Uruguai, onde podemos ter idéia de preço dos vinhos. Os preços no site são muito próximos aos preços praticados na vinícola Bouza, ao de lojas de vinho que visitei, e mesmo ao Free Shop no aeroporto.
Loja de vinhos:
Carpe Diem
Juan Benito Blanco 714 esq. Solano Antuña
Pocitos
02 711 9130
Esta loja estava próxima ao hotel em que me hospedei, tinha uma boa variedade de vinhos uruguaios, e quando estive lá, abria sábado até 22h, e até no domingo, de 10h a 13h30.
Eu estava lá também :)
ResponderExcluirA vinícola é muito charmosa, o atendimento atencioso e muito organizado. Comida "muy rica".