Com uma câmera fotográfica chamativa pendurada ao pescoço, um bloco de notas para registrar minhas impressões, e fazendo muitas perguntas, fui até tomado por jornalista! Passei 4 horas no evento, aprendendo muito, e provando diversos vinhos que de outra forma eu não teria a oportunidade de provar. Eu não visitei todos os expositores, pois com os que conheci, já obtive um mundo de informação (e álcool) para processar. Os outros, visitarei ano que vem. Abaixo seguem minhas impressões:
ChezFrance
De capital franco-brasileiro, a importadora só trás rótulos exclusivos de pequenos produtores. Guillaume, o representante na feira, me apresentou em sotaque francês os vinhos, dentre os quais, o rosé Domaine de Saint Ser 2010, da Provence. É o que se pode esperar de um típico rosé da região: refrescante e elegante, com aromas de frutas vermelhas frescas, e um toque de merengue.Em seguida, provei um Appéllation Bourgogne Aligoté controlée, do Domaine Taupenot-Merme, e um Chardonnay do Domaine Glantenet, ambos de 2009 da Borgonha. São dois vinhos brancos de aromas complexos - com os minerais se destacando sobre os florais e frutados - muito mais interessantes que os brancos típicos do novo mundo.
La Cave Jado
Outra importadora trabalhando exclusivamente com vinhos franceses, estava representada pelo Sr. Jean Raquin, com sotaque francês, por Diego 'Raquin', com sotaque 100% brasileiro. Diego me explicou que seu sobrenome, na realidade, é Vieira, mas a organização se equivocou na elaboração de seu crachá.Se na primeira importadora francesa, me impressionaram os brancos, nesta, um tinto foi o destaque. O Borgonha Domaine Nudant 2009, apresentava um aroma mais austero, onde se sobressaía o sous-bois (aromas de terra e folhas úmidas). Mas no paladar, revelou uma muito agradável harmonia de frutas vermelhas e um leve tostado.
Vinhos da Áustria
Não é fácil encontrar vinhos austríacos no país. Um grupo de amigos encontrou um nicho de mercado, e criou uma importadora, com marca registrada no Brasil como Vinhos da Áustria, e começou a trabalhar com exclusividade com os vinhos do país. Tomei uma eternidade de tempo de Lucila e Maurício, que representaram a importadora na feira, e me apresentaram rótulos brancos e tintos.Dentre os vinhos degustados, todos biodinâmicos, pudemos conhecer algumas castas típicas do país. A branca Grüner Veltliner compõe o vinho Loimer Terrassen Reserve 2009, com alta acidez e paladar semi-seco, mesmo que, de acordo com o Maurício, a concentração de açúcar fosse de apenas 1,1 g/L. Já a uva tinta Blaufränkisch foi representada pelo Prieler Leithaberg 2008. Lucila me explicou que este último envelheceu em carvalho austríaco, que não necessita tosta para se envergar as ripas e montar os tonéis, de 5000L. Como não há tosta, os aromas de café e chocolate conferidos pela madeira se tornaram mais evidentes.
Também com uvas francesas, trabalham os austríacos. A importadora trouxe da vinícola Wenzel o branco Gelber Muskateller 2009, da uva conhecida na França como Muscat blanc à petit grains, e o Rusterberg 2007, um exemplar de Pinot Noir elegante e frutado.
Ferratus
Maria Luisa Cuevas, produtora dos vinhos Ferratus, veio da região de Ribera del Duero, Espanha, apresentar seus vinhos: A0 (lê-se acêro) 2011, Ferratus 2007 e a jóia, seu orgulho, o Sensaciones 2006. Todos são 100% Tempranillo, plantados em sua propriedade de 2,5 hectares. Na poda são mantidos quatro galhos por vinha, com um cacho por galho, resultando numa produtividade de 2000 Kg/hectare, que é baixíssima, com o intuito de concentrar o máximo de aromas e açúcares nas uvas remanescentes. Além disso, estagiou 14 meses em barrica, e passou mais 4 anos amadurecendo na bodega.A primeira safra da linha foi a de 2003, e a de 2006 acaba de chegar ao mercado. É um vinho jovem, picante e com frutas, taninos redondos e madeira equilibrada. Na Espanha, pode ser comprado por €28. Aqui, ela procurava importador.
Ao me despedir, a Sra. Maria Luisa me disse que foi muito prazeroso conversar comigo, pois eu estava realmente interessado em conhecer o vinho. Fiquei lisonjeado.
Casa Valduga
Para fechar a noite, fui provar mais dois espumantes brasileiros. O primeiro, Casa Valduga Brut 2010, espumante safrado, que passou 1 ano em autólise - o processo final do espumante pelo método tradicional, em que, após a segunda fermentação em garrafa, o espumante fica em contato com as leveduras mortas, e estas vão se dissolvendo (em autólise), até que o restante não dissolvido seja retirado da garrafa.Em seguida, provei o Casa Valduga 130, espumante não safrado, que passou 4 anos em autólise, até março deste ano. Quanto mais tempo um espumante passa em autólise, mais se dissolvem leveduras nele. Mas as leveduras conservam o líquido, impedindo a microoxigenação necessária para que eles desenvolvam os aromas briochée. A evolução dos aromas só ocorre com o tempo após o processo de dégorgement. Sendo assim, a vinícola serviu o espumante cedo demais.
Meu último gole foi o vinho tinto Raízes 2009, de uvas plantadas na região da Campanha Gaúcha, próxima à fronteira com o Uruguai. Em uma avaliação às cegas promovida com jornalistas e sommeliers, foi eleito o melhor vinho do evento.
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