As uvas sempre vieram do Douro, mas de 1926 a 1978, era obrigatório que as empresas possuíssem seus armazéns de envelhecimento em Vila Nova de Gaia, proibindo a comercialização direta a partir do Douro. A partir de 1978, com o fim desta proibição, algumas quintas independentes da região, que antes se viam limitadas a produzir vinhos de mesa, ou a vender suas uvas aos grandes produtores, puderam lançar suas marcas de vinho do Porto.
Em viagem com minha mulher e meus pais pelo norte de Portugal, eu não podia deixar de visitar alguma destas propriedades, cujos vinhos dificilmente encontramos no Brasil. Eu queria ter ido em mais de uma, mas o tempo era curto, e escolhi a Quinta da Pacheca, localizada próximo a Peso-da-Régua, à margem contrária do Douro. A fase atual da história da quinta na produção de vinhos data de 1903, quando foi adquirida pela família Serpa Pimentel, os proprietários atuais. Mas já em 1756, quando o Marquês de Pombal demarcou os limites de produção dos vinhos do Porto, esta quinta recebeu um de seus marcos: uma pedra que ainda hoje se encontra na propriedade.
A Quinta, que não tinha um armazém em Vila Nova de Gaia, se dedicou sempre à produção de vinhos não fortificados, hoje com DOC Douro. Apenas a partir de 2000 começou o investimento na produção de Porto. No ano de 2011, a produção foi de 70 mil litros de Porto e 110 mil litros de vinhos do Douro, demonstrando que os últimos ainda são seu produto mais importante.
A visita
Eu telefonei à quinta no início do dia, verificando disponibilidade, mas não marquei hora, pois não sabia a que horas conseguiríamos chegar lá, já que estávamos a 75Km de distância, e ainda passaríamos na Quinta da Lixa (sobre a qual escrevi no texto anterior), no mesmo dia. Como resultado, após a visita dos vinhos verdes, uma parada para almoço na pitoresca cidade de Amarante, e um trajeto por tortuosas estradas pelas montanhas, e paisagens de tirar o fôlego - principalmente para quem tem medo de altura - lá chegamos às 15:15. Infelizmente, outro grupo havia marcado uma visita para as 16:00, e por isso a nossa ficaria um pouco corrida.A visita começou em uma parcela de parreiras ao lado da lojinha, onde as uvas - do tipo Tinta Barroca - estavam próximas do ponto de colheita: já estavam docinhas. Na propriedade, as uvas são plantadas em terrenos praticamente planos, o que é exceção na região. Em seguida passamos pelo terreiro em meio à casa da família e do hotel (a propriedade também é um hotel de turismo rural), e entramos no galpão do lagar de cimento, onde parte das uvas tintas são, até hoje, maceradas com os pés.
Chegamos enfim à cave, onde os vinhos envelhecem em barris, mas que também é um salão para eventos. Uma grande mesa de madeira ainda se encontrava no local, pois na véspera havia sido celebrada uma festa de casamento. A visita terminou na lojinha, onde fizemos uma degustação de 5 vinhos:
- Branco 2011: de cor palha, com 13% de álcool, untuoso e bastante corpo. Com boa complexidade aromática, mas pouco gastronômico.
- Tinto 2010: passou por 4 meses em barris de carvalho usados, tem taninos intensos, aroma majoritariamente frutado, sobrava um pouco em álcool, com seus 14%.
- Grande Reserva 2009: predominantemente de Touriga Nacional, passou 14 meses em barris de carvalho americano usados. Os taninos são bem mais redondos, o aroma mescla o frutado com um toque de madeira. Os 13,5% de álcool estavam em pleno equilíbrio com o vinho.
- Tawny 8 anos: feito com uvas de vinhas velhas (40 anos). Possui cor âmbar, com aroma intenso, mas simples, basicamente de uvas passas.
- L.B.V. 2008: também feito com uvas de vinhas velhas. De cor rubi violáceo, com bastante corpo, e aromas de compotas de frutas vermelhas e negras.
A Quinta da Pacheca, como outros pequenos produtores, focam em vinhos de alta gama. Os seus Tawnys ainda são jovens, pois mal faz 12 anos que começaram a produzir Porto. Já dentro do estilo Ruby, todos os seus vinhos são Vintage, ou LBV. Como a produção é em pequena escala, seus produtos tendem a ser um pouco mais caros, mas nada demais (os brancos e tintos básicos estão a €6 e €8, respectivamente). E valem o preço pela exclusividade de ser uma produção em pequena escala e pelo romantismo de ser um projeto familiar, originado pela paixão pelo vinho, passada de geração em geração.
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