
No entanto, na segunda metade do século XIX, a plantação de uvas na ilha foi dizimada com o ataque das pragas míldio, oídio e filoxera, reduzindo a produção vinícola ao consumo local. Apenas nos anos 70, seguindo um plano de reestruturação da produção vitivinícola da ilha, a produção de vinho voltou a ganhar importância econômica, e logo a Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico voltou a produzir um vinho licoroso no mesmo estilo de antes.
Nesta nova versão, a uva Verdelho divide espaço com a Arinto. Elas são fermentadas em cascos até o vinho atingir 14,5% de teor alcoólico, quando é então fortificado com aguardente vínica para chegar a 16,5% de álcool. Em seguida, amadurece por 3 anos em madeira, antes de ser engarrafado.
Eu o degustei na companhia de uma taça de creme de baunilha com compota de damasco, uma sobremesa muito rápida e fácil de se preparar. A compota foi feita com damascos secos, que foram cozidos com um pouco de água e açúcar mascavo até amolecerem. O creme, por sua vez, consiste de leite condensado com creme de leite, e raspas de uma fava de baunilha, tudo levemente aquecido no fogo. Em seguida, coloca-se ambos intercalados em taças, que devem ficar na geladeira até a hora de servir.
O vinho tem uma cor âmbar de intensidade média, o que corrobora o período de oxidação pelo qual passou. No nariz, se percebe essa oxidação, amenizada pelos aromas de mel e amêndoas. Ao colocá-lo na boca, verifica-se que é seco, com pouca acidez aparente, salgado, e alcoólico. Seria impossível tomá-lo como aperitivo, como se sugere. No entanto, ao lado da sobremesa, o incômodo causado pelos excessos de sal e álcool desapareceram, a acidez passou a ser perceptível, e os aromas agradáveis do vinho se mesclaram com os do doce.
Esta foi para mim uma experiência interessante, sobretudo pela harmonização. Mas não é um vinho do qual eu compraria outra garrafa.

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