28 de outubro de 2012

Lajido de Pico 2002

Este Vinho Licoroso de Qualidade Produzido em Região Determinada (VLQPRD) vem do Pico, uma das ilhas dos Açores, uma ilha vulcânica dominada pelo monte de 2351m de altura que lhe dá nome, e onde a casta Verdelho é plantada desde o século XVI, trazida por monges franciscanos. As uvas são plantadas em encostas íngremes, em fendas no solo conhecido como lajido, composto de basalto petrificado, protegidas por um 'labirinto' de muros de 1m de altura feitos de pedras soltas, que servem tanto para proteger do vento quanto armazenar o calor do sol que, liberado à noite, cria um efeito de estufa, gerando baixa amplitude térmica para as uvas, potencializando o teor de açúcar do fruto, em detrimento da sua acidez.A paisagem formada pelos muros na encosta da montanha foi classificada em 2004 pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade.

O vinho licoroso da ilha alcançou grande notoriedade a partir do século XVII, e se tornou importante produto de exportação. Documentos históricos atestam a presença frequente dos vinhos "Verdelho do Pico", em cartas de vinho de banquetes reais dos czares russos, e também se atesta que diversas garrafas foram encontradas em suas caves após a revolução de 1917.

No entanto, na segunda metade do século XIX, a plantação de uvas na ilha foi dizimada com o ataque das pragas míldio, oídio e filoxera, reduzindo a produção vinícola ao consumo local. Apenas nos anos 70, seguindo um plano de reestruturação da produção vitivinícola da ilha, a produção de vinho voltou a ganhar importância econômica, e logo a Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico voltou a produzir um vinho licoroso no mesmo estilo de antes.

Nesta nova versão, a uva Verdelho divide espaço com a Arinto. Elas são fermentadas em cascos até o vinho atingir 14,5% de teor alcoólico, quando é então fortificado com aguardente vínica para chegar a 16,5% de álcool. Em seguida, amadurece por 3 anos em madeira, antes de ser engarrafado.

Eu o degustei na companhia de uma taça de creme de baunilha com compota de damasco, uma sobremesa muito rápida e fácil de se preparar. A compota foi feita com damascos secos, que foram cozidos com um pouco de água e açúcar mascavo até amolecerem. O creme, por sua vez, consiste de leite condensado com creme de leite, e raspas de uma fava de baunilha, tudo levemente aquecido no fogo. Em seguida, coloca-se ambos intercalados em taças, que devem ficar na geladeira até a hora de servir.

O vinho tem uma cor âmbar de intensidade média, o que corrobora o período de oxidação pelo qual passou. No nariz, se percebe essa oxidação, amenizada pelos aromas de mel e amêndoas. Ao colocá-lo na boca, verifica-se que é seco, com pouca acidez aparente, salgado, e alcoólico. Seria impossível tomá-lo como aperitivo, como se sugere. No entanto, ao lado da sobremesa, o incômodo causado pelos excessos de sal e álcool desapareceram, a acidez passou a ser perceptível, e os aromas agradáveis do vinho se mesclaram com os do doce.
Esta foi para mim uma experiência interessante, sobretudo pela harmonização. Mas não é um vinho do qual eu compraria outra garrafa.



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