O desafio
No início dos anos 90 (época em que os supertoscanos vieram à moda), em visita à Itália, Hugh Jonhson reclamou que só lhe apresentavam vinhos feitos de uvas internacionais (Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, etc.). Ele disse que não era possível que um país com 700 castas autóctones não tivesse um grande vinho feito exclusivamente com as próprias variedades.Os três amigos gostaram do desafio, adquiriram a propriedade na região de Abruzzo, e iniciaram no mundo da enologia. O objetivo desde o início era obter um vinho concentrado, mas elegante, moderno e fácil de beber. Além disso, que estivesse pronto para consumo ao ser colocado no mercado, mas se tivesse bom tempo de guarda, melhor ainda. Optaram por não seguir nenhuma denominação de origem para não se verem limitados. Escolheram 5 castas para compor o vinho:
- Montepulciano: pela sua estrutura, e cor;
- Sangiovese: pela longevidade e taninos;
- Primitivo: pelos aromas frutados e adocicados;
- Malvasia Nera (ou Rossa): pela maciez (morbideza) dos taninos; e
- Negroamaro: pela estrutura e acidez.
A degustação
Em mais um ato de 'rebeldia', decidiram que os vinhos não seriam safrados. Com isso, pretendem expressar que o que importa é o conteúdo, não a safra. Mas sendo esta uma degustação vertical, como podem os vinhos não serem safrados? Em primeiro lugar, eles têm edições (daí o nome do vinho). Em segundo, cada edição tem sim uma safra de referência. Filippo sabia que a edição 12, por exemplo, é da colheita de 2010.A prova incluiu da 3ª à 12ª edição, exceto a 6ª, pois no ano de referência desta as uvas estavam ruins e preferiram não lançar o vinho no mercado.
Na análise visual, podia-se ver que todos os vinhos tinham cor muito intensa. A edição nº 12 apresentava reflexos púrpura, enquanto nº 9 já demonstrava um reflexo granada. A edição nº 5 tinha uma cor distinta dos outros, tendendo ao café, sem no entanto apresentar diminuição na intensidade da cor, nem gradiente de cor significativo. Era possível observar também que do nº 9 para baixo, todos apresentavam depósitos na taça, sendo que as duas primeiras tinham significativamente mais depósito. Mas nem os depósitos, nem a cor implicam em defeito no vinho.
Todos os vinhos têm muita estrutura, taninos intensos, porém macios, acidez destacada, aromas de frutas vermelhas e negras maduras. Todas as edições têm 14% ou 14,5% de álcool, mas ele não sobra. Nas edições nº 3 e 4, os aromas tendem mais a frutas em compota, enquanto na nº 5 o frutado perde intensidade, e o aroma de caramelo ganha destaque. Durante evolução na taça, dependendo da edição, apareceram aromas tostados, em seguida mentolados.
Avaliação final
Os produtores conseguiram o objetivo de obter vinhos com estrutura, mas fáceis de beber; prontos, mas com alguma longevidade. Na comparação que eu não poderia deixar de fazer com o Gê da vinícola Emiliana, que degustei horas antes, ele apresenta a acidez que faltou ao chileno, e nem passa perto do excesso de baunilha dele.As edições nº 5 e anteriores ainda estão boas, mas é bom não guardar muito mais tempo, sobretudo a nº 5. Já as edições mais novas podem ser guardadas por alguns anos. A sugestão da vinícola é até 10 anos. Na Europa, o vinho custa em torno de €30, e no Brasil, está a R$169, na World Wine.
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