18 de fevereiro de 2013

Whiskeys na Irlanda - parte 2: Bushmills

Este texto é a segunda parte dos relatos de minha visita à Irlanda, quando aproveitei para conhecer bastante a respeito do whiskeys locais. Caso ainda não tenha lido o anterior, vale a pena começar por lá!

Whiskeys na Irlanda - parte 1: Jameson


Minha segunda visita a destilarias na Irlanda foi a Old Bushmills Distillery, localizada na pequena cidade homônima, na Irlanda do Norte. Esta visita, ao contrário da Jameson, ocorre na própria destilaria, que possui licença de operação desde 1608, concedida pelo rei James I, da Inglaterra.

Isso significa que pudemos ver o tanque em que o grão é misturado em água quente (mashing); também vimos tanques de fermentação, onde o processo estava se iniciando; entramos no galpão de destilação, onde a temperatura ambiente ficava desagradavelmente alta, e tomava conta do ar o cheiro do produto fermentado, que era levemente adocicado, mas não de todo agradável - como cerveja fervendo; e seguimos o encanamento que levava do galpão de destilação, até o galpão de envelhecimento.

No cellar, só chegamos perto de barris vazios. Ali, o guia explicou várias características sobre o envelhecimento dos whiskeys da Bushmills, e cheiramos um barril que já chegou no fim de vida (3 usos na destilaria). Será que o cheiro no barril era de whiskey, ou de chocolate, baunilha, mel e cereja?

Na última parte da produção, passamos pelo setor de engarrafamento, onde vimos engarrafando Jamesons! De acordo com o guia, o whiskey da Jameson vem pronto, nos barris, para ser engarrafado ali, em um contrato de prestação de serviços; mas não existe nenhuma influência entre a produção de um e de outro. As duas destilarias até já fizeram parte do mesmo conglomerado, a Renaud Picard, mas esta vendeu a Bushmills (destilaria e marca) para a Diageo, outro conglomerado do mundo das bebidas.

Outra curiosidade do engarrafamento é sobre a limpeza das garrafas. O guia explicou que elas já estão limpas e secas, mas pode haver alguma poeira dentro. Por isso, ao entrarem na linha de engarrafamento, precisam ser limpas novamente. Para não correr o risco de se diluir a bebida com água, ela é limpa com whiskey, do próprio engarrafamento, que no entanto vai voltar no final, e também será engarrafado, sem perda de whiskey. Mas como que a poeira é eliminada desse whiskey, para que ele seja engarrafado, não sei dizer.

Semelhanças e diferenças

A produção da Bushmills possui muitas semelhanças com o Jameson: uso exclusivo de cevada; a maltagem (não é realizada no local) é feita com ar quente, sem fumaça; é tri-destilado, chega a 84% de teor alcoólico, e diluído com água desmineralizada; e em seguida envelhece em barris que foram de bourbon, ou jerez oloroso, evaporando 2% ao ano do conteúdo dos barris. Mas a diferença está nos detalhes.

A primeira diferença importante é que na Bushmills, só se produz malt whiskey, ou seja, 100% maltado. Porém, isso não significa que toda a sua linha seja de malt whiskeys. As duas linhas de entrada de gama - o rótulo branco, e o Black Bush - são blended, misturados com grain whiskey (100% não-maltado) da... da... Jameson!

Outra diferença está no uso dos barris. A linha 10 anos usa barris de bourbon e Jerez (50% cada). A linha 12 anos - só disponível própria destilaria - usa praticamente só cascos de Jerez. Em termos de sabor, é enorme a diferença entre ele e o primeiro. Apenas a linha 16 anos usa um pequeno percentual de barris de Porto.

Fim da visita

Assim como na Jameson, a visita na Bushmills termina com uma prova. Se lá na primeira nos ofereceram seu whiskey mais básico, aqui podíamos escolher entre as linhas de 12 anos ou menos, além de uma bebida que mistura whiskey e mel, o Irish Honey. Eu aproveitei a oportunidade e provei tanto o 12 anos, quanto o 10 anos. E com isso, tive certeza de que valia a pena levar pra casa o Bushmills 12 anos.

No próximo texto, visito outra destilaria, e comento a respeito de várias marcas antigas, e alguns whiskeys que fogem do padrão. Continue acompanhando!

(continua...)

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