5 de junho de 2013

Degustação comparativa de Rieslings


A Riesling é tida pela maioria dos críticos de vinho como a melhor uva branca para se obter vinhos de grande complexidade, estrutura e longevidade, a despeito das famosas Chardonnay e Sauvignon Blanc. No entanto, não é tão popular entre os consumidores, provavelmente por ser de origem alemã, país que carrega a imagem negativa dos Liebfraumilch.

A casta tem grande resistência ao clima frio, sendo por isso tão adaptada às principais regiões vinícolas da Alemanha, às margens do rio Reno. Ela é a principal variedade daquele país, e também na Alsácia, região francesa que fica à margem contrária do mesmo rio. Mas devido à grande estrutura, tem-se obtido bons resultados com ela em regiões mais quentes, notoriamente no novo mundo.

O último encontro de minha confraria, teve como tema a Riesling. O objetivo foi comparar Rieslings feitos em 5 países diferentes: Alemanha e França (Alsácia), é claro, mas também Chile, Austrália e Nova Zelândia. Segue a lista dos vinhos provados, abaixo:
  • Casa Marín Miramar Vineyard 2008: produzido pela Viña Casa Marín, uma bodega boutique iniciada em 2000, em uma das regiões vinícolas mais frias do Chile, o Valle de San Antonio. O nome remete ao vinhedo onde as uvas são plantadas, o mais alto da propriedade, a 300 metros sobre o nível do mar, muito exposto ao vento. É importado pela Vinea, e custa R$93,00.
  • Trimbach Riesling 2010: produzido pela Trimbach, uma empresa familiar da Alsácia, no ramo desde 1626, hoje na 12ª geração. Riesling é a principal uva da casa, tendo de 5 a 7 rótulos diferentes (os 2 últimos, só quando o tempo permite a colheita tardia e a botritização). Este é o rótulo mais básico, de vinhas novas, já que as mais velhas são reservadas para os rótulos mais caros. Trazido ao Brasil pela Zahil, é vendido pelo site da importadora a R$129,00.
  • Riesling Mort's Block Watervale 2011: a vinícola Kilikanoon é uma imensa empresa com mais de 2000 hectares de terras na Austrália, incluindo no vale de Clare, região considerada a melhor da Austrália para a Riesling. No entanto o melhor que a empresa tem a dizer de seu vinho é que queriam chamá-lo de "Two old Butts", mas escolheram outro nome por decoro. A degustação foi às cegas, mas adivinha qual o vinho eu votei como o pior da noite? E ele só não 'ganhou' o título por um voto.
  • Kiedrich Gräfenberg Kabinett Trocken 2007: produzido por Weingut Robert Weil, vinícola renomada da região do Rheingau, Alemanha, uma região privilegiada para produção de Rieslings. A empresa cultiva seus vinhos sem herbicidas, usando apenas fertilizantes orgânicos, e privilegiando a formação de um ecossistema em torno das vinhas. Eles produzem exclusivamente Riesling, nos mais variados níveis de açúcar residual. No entanto, o exemplar da noite é seco. Foi o único vinho da noite com alguma influência de madeira, tendo sido fermentado em barris de carvalho. É vendido pela Mistral, por R$155,00.
  • Pegasus Bay Riesling 2006: o vinho mais 'velho' da noite veio da Nova Zelândia, da Pegasus Bay, uma empresa familiar, que prega a agricultura sustentável - isto é evitam ao máximo o uso de pesticidas, mas mantém aberta a possibilidade caso achem imprescindível. Também opta pela intervenção mínima na vinificação, permitindo fermentação malolática, clarificação por deposição, sem aditivos. A empresa buscou neste vinho um estilo que descreveu como spätlese da Alemanha, o que na prática resultou em um vinho semi-seco, com açúcar residual perceptível. É importado pela Premium Wines, e custa R$160,00.

Comparação

O vinho australiano e o neo-zelandês representaram os dois extremos da noite, e juntos foram os mais votados como piores. O primeiro era o mais novo (2011), com acidez desbalanceada de tão intensa, e sem complexidade nem persistência aromática. Começou com aroma cítrico de intensidade baixa, e rapidamente 'morreu' na taça. Também no paladar, sumia tão rápido quanto era ingerido. Efêmero.

Já o neo-zelandês, além de o mais velho (2006), também era o mais complexo, com notas de frutas, mel, mineral, cera e manteiga. Na boca, era uma manteiga, evidenciando a fermentação malolática. A acidez era boa, e a persistência aromática muito longa. Na minha opinião, foi injustamente eleito o pior, e se deveu a uma rejeição à sua doçura, um pouco pelo preconceito que envolve o vinho semi-seco.

Os dois vinhos mais votados como os melhores (os europeus empataram) também eram muito diferentes entre si. O vinho alemão mostrava um bouquet próximo ao da Nova Zelândia, porém inferior. E mesmo tendo uma doçura perceptível, era muito mais sutil, por isso não teve rejeição. Já o francês tinha o estilo mais seco e jovem do australiano, porém mais equilibrado na acidez, e com aroma mais interessante (mineral evidente) e persistente.

O chileno ficou bem no meio. Nem no grupo dos melhores, nem dos piores, nem dos mais secos, nem dos mais evoluídos. Tem aromas joviais, e bastante mineral, tanto que foi tomado como sendo o francês por alguns confrades.

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