22 de agosto de 2013

Stambolovo Merlot Limited Release 1991, da Bulgária


Em 1990, oficialmente acabou o comunismo na Bulgária. Em junho desse mesmo ano, ocorreram as primeiras eleições diretas para o parlamento, que escolheu um presidente interino, e elaborou a nova constituição do país, que entrou em vigor em julho do ano seguinte. Dois meses depois, em setembro de 1991, começou a colheita das uvas que deram origem ao vinho que está nesta garrafa. Na prática, a produção deste ano 1991 ainda ocorreu sob gerência pública, já que a privatização da Stambolovo ocorreu apenas em 1997.

Na época, as colheitas em todo o país eram realizadas exclusivamente a mão, pois mão-de-obra era barata, e máquinas, muito caras. As vinhas deviam ter à época (da colheita) aproximadamente 30 anos, uma estimativa do produtor, já que aparentemente não têm registro da época dos plantios. Elas foram provavelmente plantadas no início do programa soviético, que incluía substituir as espécies autóctones pelas mais famosas variedades francesas. Este vinho passou 9 meses em barris de 450L, de carvalho tanto de origem francesa quanto de origem búlgara. Após este período, foi engarrafado, para não ficar com excesso de influência da madeira. E passou os 22 anos seguintes repousando na adega da vinícola.

Desde os anos 60, a Bulgária exportava vinhos também para países capitalistas, principalmente Reino Unido e Estados Unidos. Mas a fama era de vinhos simples e baratos. Porém, o fato que muitas vezes é esquecido é que o mercado principal dos vinhos búlgaros eram os países soviéticos, e a elite desses países sabia muito bem reconhecer produtos de alta qualidade. Por isso, havia investimento em uma parte da produção para vinhos de alta gama, destinados especialmente a eles.


A prova disso é que estes vinhos, 22 anos depois, ainda estão em grande forma. Um dos vinhos de maior fama era o Merlot vindo de Stambolovo, uma localidade na Trácia, ao sul do país. Hoje, a vinícola Stambolovo ainda tem guardadas garrafas de 1986 a 1991, período de transição do regime no país. A Winelands importou algumas dessas garrafas que foram vendidas pelo site da Sonoma. Ele foi posto a venda no dia 12/08, e em 4 horas, se esgotou. Com o sucesso, eles devem importar mais, inclusive de safras diferentes.

Independente disso, eu consegui minhas duas garrafas, e provei a primeira hoje. Nada de aerar: abri, e pus na taça. Tem uma cor bem granada/tijolo, de intensidade baixa. Senti inicialmente aromas de uvas passas, e de marmelada, depois de alguns minutos, o mel ficou muito evidente. Um toque de terra úmida e balsâmico (redução de Jerez) também estão sempre presentes. E na boca, nada doce, muita acidez, corpo leve, taninos macios, levinhos, álcool levíssimo (12%). O retro-olfato permanece, lembrando um Porto Tawny. Ele não tem nada de aromas tímidos, nem final tênue, em nenhum momento pode ser considerado inexpressivo. É um vinho leve, sim, em nada parecido com as bombas que ganham notas altas de críticos de vinho. Mas é um vinho de grande personalidade. É um exemplo de que vinho bom não é aquele que amarra a boca, muito menos queima pelo excesso de álcool.


A Stambolovo exibe um certificado de que o vinho é um AOC (denominação de origem controlada). A legislação do vinho do país, de 1978 (a vigente em 1991), especificava 27 regiões de origem controlada, chamados Controliran. A categoria Controliran era equivalente as AOCs francesas, e era aplicada a vinhos feitos com uvas especificadas, de vinhedos selecionados, com produção auditada, e que precisavam ser aprovados em painéis de degustação. (Fonte: http://www.bulgarianwines.com/index.php?action=about)

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