Acabo de conhecer este importador de nicho - de um nicho muito raro, diga-se de passagem - e ele já está com os dias contados para fechar as portas. O Empório Sorio vai encerrar suas operações, e aproveitou a MIV Campinas para promover uma queima de estoque. Conforme me disse Thierry Batistini, nativo da ilha e idealizador da importadora, as vendas vão bem, e seus produtos têm boa aceitação, mas eles terão que desocupar o imóvel onde hoje possuem loja e estoque, e não têm capital para investir na mudança. É uma pena.
Com eles, tive a oportunidade de conhecer um pouquinho sobre a produção de vinhos desta ilha. A Córsega, apesar de ilha francesa, tem relações culturais mais próximas com a Itália do que com a França. Um exemplo disso são as principais uvas utilizadas na ilha (e consideradas autóctones): Vermentinu, Sciacarellu (na Itália conhecida como Mammolo), e a Nielucciu (nome com que a famosa Sangiovese é chamada na ilha).
Os três primeiros vinhos que provei são da AOC Corse, a denominação de origem básica que corresponde a toda a ilha, mas que na prática se referem aos vinhos produzidos na costa oriental. Nessa região, os vinhedos são plantados em encostas orientadas a leste. Conforme me explicou Thierry, a topografia da ilha é composta de cadeias montanhosas, chegando a 2700m sobre o nível do mar. Isso implica que as montanhas da região mais central da ilha fazem sombra sobre os vinhedos no fim da tarde, reduzindo a exposição solar. Os vinhos que foram trazidos pela importadora pertencem ao grupo UVAL (Union des Vignerons du Levant), que possui 1300 ha de vinhas, e é responsável por 25% da produção, e 70% da exportação da ilha.
- Terra Nostra Vermentinu 2011: um vinho fresco, de cor amarelo-palha intenso, que mostra boa intensidade aromática, e boa acidez. Uma ótima opção de vinho de verão (ou para o calor que está fazendo hoje). Na feira, foi vendido por R$42,00.
- Terra Nostra Sciacarellu 2011: um rosé de cor delicada, que evoca frescor, com um aroma de morango já sutil, abrindo passagem para um merengue; no paladar se mostra seco, vivo e fresco. Mesmo preço que o branco (R$42,00), e também ótima pedida para os dias quentes.
O terceiro vinho desta região/produtor não se classifica na AOC, por usar uma uva 'estrangeira': a Pinot Noir. Foi o grupo UVAL que trouxe esta casta para a ilha, em 1986. E mesmo obtendo bons resultados - apesar de esta variedade não ter o costume de se adaptar bem em climas quentes, como o clima mediterrâneo da ilha - não conseguiu aprovar o seu uso em vinhos da AOC.
- O Corsican Nature Pinot Noir/Nielucciu 2010 leva 60% da primeira uva e o restante da segunda, e com isso se classifica como I.G.P. Île de Beauté. Parece predominar o estilo da Pinot, com um vinho tinto leve, pouca matéria corante, e poucos taninos. No nariz se destacam as frutas vermelhas, enquanto na boca se mostra um pouco mais austero, com predomínio de folhas secas. É um vinho fácil de tomar, que pode acompanhar comidas leves em uma noite mais quente. Foi vendido a R$43,00.
- Orenga de Gaffory 2010 é predominantemente Nielucciu, com 10% de Grenache, o máximo permitido pela AOC. É um vinho encorpado, com bastante acidez, taninos intensos, e aromas que levam a pensar que passou por barrica. Porém, a ficha técnica descreve que, após fermentação, o vinho descansou em tanques de inox. Saía por R$79,00, na feira.
- Orenga de Gaffory Cuvée Felice 2007: 100% Nielucciu, assim como o anterior, envelheceu em tanques de inox (12 a 18 meses), porém lembra aromas de envelhecimento em madeira. Também é denso, encorpado, com muitos taninos, porém os aromas de mostram mais evoluídos, apresentando notas balsâmicas e de terra úmida (mas ainda mantendo a fruta). Estava a R$106,00, e a importadora também possui a safra 2009, que deve apresentar aromas mais jovens, segundo Thierry.
Além de vinhos, a importadora trabalhava com outros produtos da ilha, como geléias, cervejas, e azeites de oliva. Eu provei na feira o Oliu de Corsica azeite com denominação de origem (A.O.P. Huile d'Olive de Corse), feito com duas variedades de azeitonas típicas da região (Biancaghja e Ghjermana di Casinca). Possui acidez 0,3%, extraído de azeitonas pretas, bem maduras, resultando em um sabor picante e intenso, com um final amargo. Um azeite de caráter forte e pouco comum, o que pode não ser bem aceito por algumas pessoas, mas eu apreciei muito. Só é um pouco caro, para o meu padrão de consumo de azeite: R$48,00 (garrafa de 0,5L). Por outro lado, tendo um conselho regulador para garantir a autenticidade do produto (e isso na França é levado realmente a sério), é certeza de não ser 'batizado'.
Enfim, se os produtos corsas não encontrarem outro importador no Brasil, num futuro próximo, eu vou ter que ir até a ilha, para trazer mais vinhos para mim, e com certeza algumas garrafas de azeite! Que boa desculpa!
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