Palestra da Inter Beaujolais para promoção dos vinhos Beaujolais no Brasil
A
Além do Beaujolais Nouveau
Esta região é mais famosa pelo Beaujolais Nouveau, um vinho que, acompanhado de uma estratégia de marketing bem sucedida, virou um sucesso de vendas em todo o mundo. Porém trouxe consigo uma má reputação, já que é um vinho simples, que se deteriora rapidamente, e por isso não é bem cotado pelos principais críticos de vinho.Uva Gamay * |
Para defenderem suas afirmações, eles têm fatos concretos. Estudos ampelográficos determinaram que a Gamay é um cruzamento espontâneo (ocorreu sem interferência humana) entre Gouais Blanc e Pinot Noir, assim como a Chardonnay. Ou seja, irmã da Chardonnay, e filha da Pinot Noir, ela tem os genes das uvas nobres. Ela teria, portanto, plena capacidade de desenvolver características complexas, assim como a Pinot Noir. Diz-se que o Beaujolais, com a idade, ele 'pinota', ou seja, adquire características de Pinot.
Além disso, Mr. Collet destaca que a região possui 2500 propriedades, com área média de 9,4ha, a colheita é sempre manual, e as poucas propriedades que usam máquinas, o fazem para tarefas como aragem, remoção de ervas (e provavelmente aplicação de defensivos agrícolas). Ele ainda ressaltou que o uso de carros de boi para arar a terra ainda é muito comum na região.
As 12 denominações de origem
Beaujolais é a terra da Gamay, que corresponde a 98% da produção local. É uma variedade de casca fina, por isso seus vinhos têm pouca estrutura e pouca matéria corante. São frutados quando jovens, mas quando envelhecem, tendem a adquirir aromas de sous-bois (terra úmida, folhas úmidas). Se dividem em 3 famílias: Beaujolais, Beaujolais-Villages, e os 10 crus de Beaujolais.Mapa das denominações * |
Responsável por 28% da produção, Beaujolais-Villages se localiza na zona mais central, em relação ao eixo norte-sul. São vinhedos de encostas, afastados do rio Saône. Possui solos mais pobres, graníticos, que ajudam a aumentar a concentração das uvas.
Os 10 crus, que abrangem as denominações mais conceituadas, se localizam ao norte, em solos completamente graníticos, e permitem apenas produção de tintos. Estão subdivididos em tenros (Fleurie, Chiroubles e Saint-Amour), e robustos (o restante). Os últimos são os mais estruturados, complexos, às vezes apresentando notas minerais, e com melhor potencial de guarda. A julgar pelos vinhos apresentados, eu recomendo Brouilly, Côte de Brouilly e Juliénas.
Degustação
Foram degustados 10 vinhos, todos de safras 2009 a 2011. De acordo com o Mr. Collet, foram 3 anos de excelente clima, sendo que 2009 foi a melhor safra de que se tem registro. Todos os 10 tinham corpo leve, cor de baixa intensidade, poucos taninos. A acidez também não é destaque em nenhum deles. Porém há de se considerar que essa é a proposta deles: serem leves e redondos, fáceis de se tomar. São até mais agradáveis em um clima quase sempre quente como o nosso.A maior diferença entre um e outro estava nos aromas. Basicamente, havia os de aromas jovens, e aqueles que 'pinotavam', isto é, apresentavam aromas de sous-bois. Além disso, havia aqueles que sumiram na taça, e aqueles que evoluíram.
Além de aromas de evolução, 3 vinhos apresentaram aromas de esparadrapo/acetona (indícios de contaminação por Brett), e uma das garrafas estava bouchonée (contaminação por T.C.A.). São aromas desagradáveis, e fica até difícil tomar o vinho. Por outro lado, demonstra que estes produtores preferem pequenas doses de contaminação (que não trás riscos à saúde) a encher o vinho de sulfitos (sendo que este sim, pode fazer mal se consumido em grande quantidade). A seguir, segue uma breve descrição de cada um dos vinhos.
- Beaujolais Laurent Chardigny 2010: evoluído, sumiu rápido na taça. Tinha aromas de frutas vermelhas, sous-bois e galhos verdes. Mas o que é isso, BeauLolais, em vez de Beaujolais? O rótulo continha um erro de grafia, mas passou pelas mãos de muitas pessoas, sem que ninguém percebesse.
- Beaujolais-Villages Abel Pinchard 2011: jovem, mas sem muita persistência. Aroma de merengue, framboesa, final levemente amadeirado.
- Domaine des Balloquets 2010: A.O.P. Brouilly. Plantados nas encostas do monte Brouilly, em solo de granito rosa. Vinho jovem, persistência média, era dos mais robustos. Aromas florais, de merengue e frutas vermelhas.
- Combe au Loup 2009: A.O.P. Régniér. Nariz evoluído, emanando muito sous-bois e esparadrapo. Na boca, era mais agradável, frutado e especiado (épicé). Desapareceu rapidamente na taça.
- George Duboeuf 2011: A.O.P. Fleurie. Dizem ser a denominação mais feminina, pelo caráter dos vinhos. Jovem, com nariz beaujolais: floral e bala de framboesa, com boa persistência. Na votação pelo melhor da noite, ficou em segundo.
- Clos de la Brosse 2010: A.O.P. Saint-Amour. Devido ao nome da A.O.P., é um sucesso de vendas nos países que celebram valentine's. Porém creio que este exemplar não faria sucesso em um jantar romântico, por causa do nariz 'pinotado' (champignon e sous-bois). Pelo menos na boca mostrou alguma jovialidade (merengue, ameixa seca, épicé). Também desapareceu muito rápido na taça.
- Domaine Ruet 2009: Côte de Brouilly. O solo é de granito azul, no topo do monte Brouilly, e as videiras, entre 50 e 60 anos, estão plantadas no máximo de densidade (10 mil pés/ha). Mais um de nariz 'pinotado' (sous-bois, oxidação) e paladar frutado (geléia e especiarias). Evoluiu muito bem na taça, exalando menta.
- Marcel Lapierre 2011: A.O.P. Morgon. Vinho natural, de caráter jovem (floral, frutas vermelhas, alcaçuz), e pequeno sinal de Brett (verniz, acetona). Infelizmente, com o tempo, o aroma de acetona não se dissipou, em vez disso, passou a dominar o conjunto.
- Beauvernay Juliénas Vielles Vignes 2009: A.O.P. Juliénas. Apesar de ser o único a alardear a idade das vinhas, elas têm apenas 30 anos. Mesmo assim, foi eleito o melhor da noite. Jovem (compotas de frutas vermelhas, especiarias, merengue), entre os de maior persistência aromática, e na taça evoluiu para um aroma mentolado intenso. Também foi o vinho de mais corpo, e com taninos mais perceptíveis.
- Henry Fessy Moulin-à-vent 2011: A.O.P. Moulin-à-vent. Foi identificada contaminação por Brett em mais de uma garrafa. Mas a minha taça mostrava um vinho jovem em que predominavam frutas frescas e merengue. Eu e aqueles que estavam ao meu lado tivemos a sorte de apreciar um vinho elegante e agradável.
Os vinhos seguintes são todos de vinhedos antigos, de 30 a 70 anos, dependendo do produtor. Um pouco por consequência das idades das vinhas, e um pouco pelas características das suas respectivas regiões, apresentam corpo e taninos um pouquinho mais destacados que os demais.
Para quem quer se aprofundar:
as características vitivinícolas do Beaujolais
Beaujolais se localiza ao ao sul da Borgonha, limitada pelo rio Saône a leste, e pelas montanhas do Maciço Central a oeste. As videiras são cultivadas às encostas das montanhas do Maciço Central, em altitudes de 200m a 400m. No inverno, predominam as influências continentais, sendo varrida por ventos frios vindos do norte e canalizados pelo vale do Saône. No verão, recebe ventos do mediterrâneo. O maciço Central protege os vinhedos da influência atlântica, mas às vezes permite passar alguma chuva.
Poda Gobelet * |
Os vinhos tintos abrangem 98% da produção, que usa exclusivamente a Gamay noir a jus blanc (ou simplesmente Gamay, para os íntimos). É uma casta muito fértil, e para limitar essa fertilidade - e garantir uvas mais concentradas, de maior qualidade - utilizam sistemas de poda curta, chamado Gobelet. Além disso, possuem alta densidade de plantio, de até 10 mil pés por hectare.
O modo de vinificação beaujolaise consiste de maceração semi-carbônica, com cachos inteiros (isto é, inclui os engaços). Os cachos são colocados em grandes cubas, e o peso faz com que as uvas de baixo sejam esmagadas, e iniciem a fermentação tradicional. O gás carbônico liberado sobe, isolando as uvas do oxigênio. As uvas do alto da cuba, por sua vez, fermentam dentro das cascas, o que é chamado de fermentação intracelular. A fermentação malolática também ocorre, reduzindo a quantidade de ácido málico.
Como a Gamay tem pele muito fina, os engaços são importantes para fornecer estrutura e taninos ao vinho. Por isso, a seleção dos cachos precisa garantir que eles também estejam maduros, sob risco de fornecer taninos demasiado verdes, arruinando o vinho. Às vezes, também se utiliza passagem por barrica, com esse mesmo propósito.
* As imagens marcadas com (*) são de autoria da Inter Beaujolais, e foram gentilmente cedidas para uso neste texto.
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