8 de dezembro de 2013

Nykteri Reserve 2009

Da última viagem dos meus pais da Grécia, minha mãe veio falando maravilhas de um vinho branco da ilha de Santorini. Tanto que fez questão de trazer uma garrafa. Na loja de vinhos, lhe disseram que, do que ela queria, não havia mais, mas havia do vinho 'primo', do mesmo produtor, que ela acabou trazendo. Na mesma loja ela havia comprado um Vinsanto, vinho de sobremesa que é tradicionalíssimo da ilha, e pertence a Denominação de Origem Controlada. Infelizmente, o Vinsanto se quebrou na mala, no regresso, mas o vinho branco chegou, e ela aguardou para tomá-lo comigo.



Eu não sabia, mas vinho branco na ilha é assunto sério. Santorini é a principal região do país para vinhos brancos, e conta com as variedades Assyrtiko (Ασύρτικο) - a mais nobre uva branca grega - além de Athiri (Αθήρι) e Aidani (Αηδάνι), que costumam entrar em cortes. A ilha até produz tintos, mas eles não ganham status DOC. No entanto, existe uma série de estilos possíveis de vinho branco na ilha. Desde brancos leves e refrescantes, que certamente foram os que caíram no gosto da minha mãe, passando por brancos mais estruturados, até chegar aos Nykteri, que são brancos com estágio de no mínimo 3 meses em barricas de carvalho.

E aí está o problema, o vinho que o vendedor empurrou para ela foi exatamente o Nykteri Reserve 2009, D.O.C. Santorini, produzido pela Santo Wines. E mais do que Nykteri, sendo Reserva, ele fermenta em barricas, e permanece nelas por 9 meses, antes de ser engarrafado. Isso lhe conferiu muita influência da madeira. Tem uma cor amarelo-ouro vívida, é encorpado, alcoólico (14%) e de boa untuosidade. Por outro lado, tem muita acidez para trazer equilíbrio ao conjunto, é muito seco no paladar, e apresenta final salobro. O aroma traz muita geléia de abacaxi (ou essência artificial de abacaxi, se preferir), carregada de influência da madeira, com muita baunilha e chocolate branco.

Gostei dele, da sua tipicidade, apesar de quê já provei outros brancos em que a madeira estava melhor integrada. Talvez se o tivesse guardado por alguns anos... mas como iria saber? Pior foi para minha mãe, acostumada a vinhos brancos mais leves, se decepcionou profundamente com o que trouxe. Em nada lembrava o que havia tomado na ilha. Do ponto de vista do produtor e do vendedor local, é um vinho de altíssima qualidade, mas não era o que ela queria.

Você sabia?

Em viagem à Toscana, eu conheci o Vin Santo, vinho de sobremesa típico da região, feito com uvas passificadas. Foi com surpresa que ouvi minha mãe contar sobre o Vinsanto de Santorini, que é feito em estilo muito semelhante. Houve, claro, uma disputa entre os países, acerca do nome. Porém, independente de qual seja mais antigo, e sem a possibilidade de rastrear se um teria dado origem ao outro - ambos são mais antigos que os seus respectivos países - a União Europeia acabou por reconhecer a ambas denominações. Há, no entanto, de se ter atenção às grafias de um e de outro.

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