Foi um evento pequeno, o espaço foi mais do que adequado, e foi bem organizado, com água disponível gratuitamente (como toda feira de vinho que se preza deveria fornecer), e um buffet de salgadinhos. Como diz o nome da feira, o assunto é vinho e sabores, e desta vez houve até um pouco mais de sabores do que no ano passado. Haviam produtores de embutidos, de patês de sardinha, e também de azeites, mel e vinagres, oferecendo degustações. Dentre os vinhos, vários rótulos de Vinho Verde, Porto, Douro, Dão, Moscatel, entre outros, apresentados por importadores, ou pelos próprios produtores.
Mesmo sendo uma feira relativamente pequena, não dava para visitar todos os estandes, e conversar com todos os expositores. Dentre os que conversei, alguns se destacaram, tanto pela qualidade de seus produtos, quanto pela atenção e simpatia: a Casa Ermelinda Freitas, Adega Cooperativa de Favaios, e a Adega Cooperativa de Cantanhede.
Adega de Cantanhede
O primeiro estande que visitei foi justamente da Adega de Cantanhede. Eu havia conhecido seus vinhos na feira passada (veja: Vinho e Sabores da Bairrada), e na época, eles já tinham fechado importação com a Santar. No entanto, um ano se passou, e eu não vi os produtos no mercado, nem no portefólio do importador. Pois foi o próprio representante da Santar, que estava presente no estande, que veio me explicar que houve atraso de um ano na importação, devido à burrocracia brasileira, mudanças de critérios do governo, rejeição da documentação, etc. mas finalmente, tudo foi resolvido, e os produtos já devem aparecer nas prateleiras a qualquer momento.Casa Ermelinda Freitas
Em janeiro de 2012, a revista Adega publicou a reportagem Mulheres de areia, a respeito desta vinícola, fundada em 1920 na arenosa península de Setúbal, que por infortúnios do destino foi sempre comandada por mulheres. A reportagem - uma entrevista com a Sra. Leonor Freitas, atual proprietária, a respeito da história da empresa - me marcou de forma positiva, por admiração à tenacidade dessas mulheres, e também por ser um exemplo concreto de como a vitivinicultura portuguesa evoluiu nas últimas décadas.Por isso, foi para mim uma grande honra conhecê-la pessoalmente. Foi uma honra, pela história que eu já conhecia, e um prazer, pela amabilidade e simpatia com que eu e Thais fomos atendidos. A sra. Leonor e o Sr. Arménio Campos compartilharam conosco a paixão que têm pela sua terra, e o orgulho pelos seus produtos. E nos fez almejar voltar a Portugal, e sem falta havemos de visitar sua propriedade.
Ela e o Sr. Arménio Campos estavam a apresentar alguns de seus vinhos, que já são importados pela Orion Vinhos. Da linha Dom Campos, o Branco 2013 e o Rosé 2013 me agradaram muito. Muito leves e frescos, com aromas muito agradáveis de frutas (lichia no branco, e cereja no rosé) e ervas aromáticas. Eu gosto muito deste tipo de vinho pra tomar na beira da piscina, e se eles realmente chegarem ao consumidor final nos preços que me disseram (R$16), eu devo comprar deles com muita freqüência.
Dos tintos, o que mais me chamou atenção foi o Trincadeira 2011. Foi a primeira vez que tomei um varietal desta uva, e gostei da tipicidade. Tinha um aroma distinto, muito agradável, principalmente floral, com algo de mentol, fruta menos evidente, e discreta influência da madeira. Dona Leonor explicou, como de costume nos vinhos portugueses, para eles, o principal uso da barrica é amadurecer o vinho, e o gosto da madeira é secundário. Por isso, a maior parte é de barricas usadas. E para se beneficiar das influências dos tipos mais comuns de carvalho, o corpo das barricas é feito de carvalho francês, e os tampos são de carvalho americano.
O principal produto da região são os fortificados doces, feitos a partir da variedade conhecida como Moscatel de Alexandria (é comum chamarem-na de Moscatel de Setúbal). Ela apresentou o seu Moscatel de Setúbal de entrada, com 2 anos de envelhecimento. Apresenta aromas mais frescos, como o doce de casca de laranja e um pouco de caramelo e amêndoas torradas, boa acidez necessária para equilibrar a doçura, e a longa persistência tradicional destes vinhos.
Adega Cooperativa de Favaios
A Adega Cooperativa de Favaios se localiza no Alto Douro, região dos vinhos do Porto. No entanto, diferentemente da maioria, sua vocação está nos Moscatéis do Douro. Os moscatéis da região são produzidos com Moscatel Galego, uma sub-variedade da mesma família, mas fora isso, a produção é grosso modo a mesma: longa maceração das uvas, fermentação interrompida com aguardente vínica, e anos de amadurecimento em barricas, submetidos a variações de temperatura, buscando a máxima oxidação.As representantes da cooperativa, que também foram destaque em simpatia na feira, nos apresentaram dois moscatéis mais envelhecidos: o Reserva (aproximadamente 7 anos de amadurecimento) e o 10 anos. São muito semelhantes entre si, mostrando aromas mais caramelizados e oxidados, como era de se esperar devido ao envelhecimento. No entanto, na minha opinião, eram um pouco mais enfadonhos, pois lhes faltava acidez para equilibrar o açúcar.
Em contrapartida, me chamou a atenção o espumante Sparkling Bruto, lançado no meio do ano passado. Em termos de espumante, a Moscatel é normalmente usada nos mais 'docinhos', que costumam pecar pelo excesso, e se tornam enjoativos. Seu produto, na versão bruta me pareceu mais equilibrado, com os aromas típicos da Moscatel remetendo à doçura, porém seco na boca, dando um equilíbrio muito interessante. Para quem prefere o mais doce, eles também produzem a versão semi-seca.
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