(...e um rosé maturado em tonéis, com 9 anos de idade)
Quem conhece a Apelação de Origem Protegida de Palette, conhece o Château Simone. É um ícone: o maior produtor, e de maior reputação. Inquestionável, reverenciado por todos que provaram seus vinhos. Por isso, em visita à região, eu não poderia deixar de visitá-los.
Foto cedida sob licença da Commons Wikimedia |
A partir da estrada local que sai de Aix em direção ao oeste, e à Sainte-Victoire, o GPS me fez entrar à direita, e passar por uma minúscula ponte de pedra, onde só passa um carro de cada vez, para transpor um córrego aparentemente insignificante. Por outro lado, este "córrego" só poderia ser o rio Arc, que divide a apelação de Palette em duas (Château Simone de um lado, e o restante, do outro). Só pode ser, pois não havia nenhuma outra ponte entre as duas partes da apelação. Logo após cruzar a ponte e virar à esquerda, cheguei ao Chemin de la Simone, e continuei mais uns poucos quilômetros, em subida leve, mas constante, ziguezagueando dentro de um bosque até chegar ao château.
O site informa que estão abertos de segunda a sábado. Então, fiz como vim fazendo na maioria dos lugares, e fui sem marcar horário, o que vinha dando sempre certo. Mas foi com certa decepção que recebi a informação da funcionária de plantão que eles não permitem uma visita à propriedade, nem oferecem degustação gratuita "pois a produção é muito pequena", segundo as palavras dela (como se não fosse a maior produção da região). Por outro lado, era possível adquirir os vinhos, e já que eu tinha chegado até ali, que eu pelo menos visse o que eles tinham.
Eu não consegui belas fotos do jardim, muito menos das vinhas velhas e misturadas que possuem, mas no fim, a visita não foi infrutífera. Em nenhum outro lugar eu conseguiria comprar uma meia-garrafa de seu vinho rosé da safra de 2005. Um rosé produzido para envelhecer, e hoje com 9 anos de idade. E só poderia mesmo ser a meia-garrafa, pois ela já estava no limite de preço que me impus gastar por garrafa.
Um pouco sobre os vinhos do Château Simone
A AOP Palette se situa a leste da cidade de Aix-en-Provence, a apenas 4 Km de distância. Ela foi estabelecida em 1948. É a menor denominação de origem da Provence, com apenas 45ha demarcados. Metade dela pertence ao Château Simone. Fundado por freiras carmelitas, pertence à família Rougier desde 1830. É um palácio charmoso, de cor predominantemente pastel, com jardins bem cuidados, tudo envolto por bosques que sobem as colinas.Apesar de maior produtor da apelação, eles produziram apenas 90 mil garrafas na safra passada. Eles produzem vinhos nas três cores, mas a maioria (50 mil garrafas) é de vinhos brancos.
Seus vinhedos são plantados com variedades misturadas, apenas separando as variedades brancas das tintas. A média de idade das vinhas é de mais de 50 anos, sendo que várias são centenárias, principalmente entre as brancas. O replantio de pés é criterioso para garantir perpetuação de algumas variedades muito raras. O trabalho do solo é feito manualmente, sem uso de substâncias herbicidas. A colheita é, também, sempre manual, com triagem na vinha e na cave.
Curiosamente, e fugindo à regra geral de que, no hemisfério norte, os melhores vinhedos são os de encostas direcionadas ao sul (para maximizar a exposição solar), no Château Simone os vinhedos são plantados na face norte do maciço de Montaiguet.
Todos os vinhos (sim, inclusive os rosés) são maturados em madeira (seja em pequenos tonéis, ou barricas bordalesas). As barricas são sempre usadas, e não apenas são do estilo chamado bordalês, mas elas realmente são originárias de Bordeaux. O Château Simone compra barricas descartadas dos produtores daquela região. Isso porque, segundo a funcionária, eles têm por objetivo apenas oxigenar os vinhos, e não embutir gosto de madeira.
Château Simone Rosé 2005
Eu não pude degustar os vinhos antes de escolher, mas tinha que comprar uma garrafa deste ícone, para tomar em casa. Na realidade, comprei duas meias-garrafas. Para a primeira, minha curiosidade enológica não resistiu à primeira chance que tive de tomar um rosé envelhecido (para ver no que dá). E a segunda tinha que ser de um branco, afinal é a principal produção deles, é o vinho a que dão principal atenção. O branco, ainda não tive a oportunidade de abrir, então deixo o relato para outra ocasião. No momento, me atenho ao rosé.A AOP Palette determina que as principais variedades para rosés são Grenache, Mourvèdre e Cinsault, que correspondem a 80% do vinho. Outras variedades secundárias são permitidas, completando os outros 20%. Dentre elas, há castas tradicionais da Provence, como Syrah e Carignan, e outras raras, como Castet e Manosquin.
O mosto é parcialmente obtido de prensagem direta, e parcialmente de sangria. (Sangria é o nome dado ao processo de retirar parte do suco que está macerando para virar tinto, para concentrar o mosto do tinto). Ele fermenta em pequenos tonéis de madeira, e descansa por 9 meses sobre as borras. Ele é filtrado apenas por decantação.
Château Simone Rosé 2005: Um vinho guardado tanto tempo, precisa respirar. Vinho cristalino, nada de depósitos, ou de turbidez. Cor de intensidade média com matiz alaranjada predominante, evidenciando a idade. Leve aroma iodado no princípio, seguido de bala de morango, tâmaras, flores, avelãs e um toque de mel. Tudo bem discreto. Nada que evidencie madeira, apenas a idade. Seco, acidez presente, mas no início, o álcool (12,5%) ficou ligeiramente em evidência. Após respirar um pouco, suavizou. Um vinho com corpo médio, ficou melhor servido na temperatura de vinhos tintos (18ºC).
Mesmo que o vinho não esteja mais tão equilibrado, foi uma experiência única, e mais do que compensadora. Os aromas são muito interessantes. Foi uma grande honra ter a oportunidade de tomar um rosé com tanta idade. No entanto, estes vinhos são mesmo melhores se consumidos mais jovens.
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