15 de outubro de 2014

Vinhos da Azienda Agricola Livon, Friuli

No final do mês passado, em função da degustação de vinhos laranjas na ABS, falamos da região de Collio, uma pequena DOC na fronteira com a Eslovênia. Nesta região, Josko Gravner faz os seus vinhos laranjas, que são a referência neste estilo. Mas a região já tinha grande reputação com seus vinhos brancos, muito antes dos vinhos laranjas de Gravner.

Coincidentemente, esta semana, a loja Excelência Vinhos - junto com o importador Mercovino - realizou uma degustação de vinhos com produtos da Azienda Agricola Livon, cuja sede se localiza nesta mesma região. Foi uma grande oportunidade de conhecer mais os vinhos da região, e comprovar a qualidade de seus brancos. A degustação foi um evento descontraído, um coquetel sem formalidades - como ocorre de praxe na loja - e contou com a presença do representante comercial da vinícola, Maurizio Dalmasson. Foram degustados 8 vinhos, sendo 6 brancos, já que é o principal produto do Friuli.

A empresa foi fundada em 1964 pelo Sr. Dorino Livon, com uma propriedade na DOC Collio. Aproveitou o excelente terroir, mas também investiu na qualidade das uvas: alta concentração de vinhas, poda curta e baixa produtividade por hectare (para concentração dos frutos). Com isso, a empresa obteve sucesso rápido, e se expandiu, com propriedades adicionais em Friuli Grave, na Toscana e na Umbria. Hoje ela é gerenciada pelos filhos do fundador.

Friuli Grave

Os dois primeiros vinhos degustados são da propriedade Villa Chiòpris, localizada na DOC Friuli Grave. Nesta região, mais plana, as uvas são colhidas com máquinas, e destinadas a vinhos mais simples, jovens e frescos, a serem servidos em restaurantes, wine bars e afins.
  • Villa Chiòpris Sauvignon Blanc 2012 (R$63): o frescor esperado da Sauvignon Blanc, porém mais leve e elegante que os exemplares do novo mundo, e sem o característico herbáceo que frequentemente passa do ponto. Notas cítricas leves acompanhadas de maçã verde.
  • Villa Chiòpris Friulano 2012 (R$63): feito a partir da variedade uva autóctone Friulano (que já foi conhecida como Tokai Friulano), também apresenta muito frescor, mas com um leve toque de cera e mel, que lhe dá mais complexidade.

Collio

Os vinhos seguintes são da propriedade sede, localizada na DOC Collio. As vinhas são plantadas em terraços, nas encostas das colinas que definem a fronteira entre a Itália e a Eslovênia, em solos pobres e com ótima drenagem, que fazem com que as raízes se aprofundem mais. Os terraços impedem o uso de maquinários de forma que todo o cultivo é feito manualmente. Este vinhos dão um salto de qualidade e de preço, em relação aos anteriores.
  • Livon Pinot Grigio 2013 (R$89): a uva Pinot Grigio facilmente gera vinhos chatos e pesados, se não for muito bem cultivada. A Livon mostrou que tem um ótimo terroir para a uva, e fez um vinho delicioso, de médio corpo, mas com uma bela acidez que lhe faz parecer leve, e só nos faz querer beber mais.
  • Livon Friulano 2013 (R$89): outro vinho feito com a uva Friulano, porém agora na região de Collio. A verdade é que não me agradou muito, e me pareceu um pouco desequilibrado, com álcool incomodando um pouco. Faltou-lhe frescor, comparado aos outros brancos.

Os Gran Crus

Os quatro vinhos anteriores não passaram por barrica. Quanto aos próximos, o primeiro foi 50% fermentado em barricas, e mantido nas mesmas barricas por 8 meses, em temperatura controlada, enquanto o restante fermentou e estagiou em inox. O segundo, foi 100% em barricas novas, e permaneceu os mesmos 8 meses. Ambos apresentam cores mais intensas, com matizes douradas, mais corpo e aromas que remetem à madeira. Além disso, são os topos de gama, feitos cada um deles com uvas provenientes de um único vinhedo, que a empresa classifica como Gran Crus.
  • Manditocai 2012 (R$190): mais um 100% Friulano, mas desta vez proveniente de vinhedo único com vinhas de 40 anos. Foi o melhor da noite, para mim. A influência da madeira deu um toque de complexidade, com notas sutis de baunilha e de defumado. Na boca, é mais encorpado que os anteriores, com leve untuosidade devido à parte que ficou em barricas, e final longo, fresco e defumado.
  • Braide Alte 2011 (R$219): 80% é composto de Chardonnay e Sauvignon Blanc, e o restante de Moscatel (Moscato Giallo) e uma variedade autóctone chamada Picolit. É um vinho mais intenso. Desde a influência da barrica, que se mostra mais intensa tanto nos aromas quanto na presença de boca, até a acidez, que acompanha a intensidade. É obviamente o mais caro, inclusive mais caro que os tintos. O final é muito longo, mais intenso. Só achei que as notas de baunilha se excederam na boca, e por isso preferi o Manditocai.
Curiosidade: o formato pouco usual da garrafa do Manditocai foi desenvolvido e registrado pelo Conselho Regulador de Collio. O novo modelo tem apenas 5 anos, e não está muito difundido, mas seu uso deverá se estender nos próximos anos. Além da função de marketing, o Sr. Dalmasson explicou que também tem uma função na conservação do vinho, já que o gargalo é mais estreito por dentro, diminuindo a quantidade de ar que permanece dentro da garrafa, ao ser tampada com a rolha.

Os tintos

A verdade é que eu até provei, mas não me ative muito aos tintos, já que estava mais interessado nos brancos. Mas os tintos também são Gran Crus. Como Collio é uma região com pouca tradição em vinhos tintos, as principais variedades internacionais rapidamente se popularizaram, sendo muito comum vinhos com Merlot e/ou Cabernet Sauvignon. Mais curioso é um vinho feito com uma uva autóctone chamada Schioppettino. De acordo com o Sr. Dalmasson, este é o único exemplar produzido 100% com esta uva.
  • Picotis Schioppettino 2008 (R$177): este tinto é um varietal de Schioppettino. A fermentação levou 18 dias, com temperatura controlada de 20ºC (temperatura mais baixa que o normal para vinhos tintos). Depois, passou 13 meses em barricas. A cor apresentava matizes granada da evolução, aromas sutis em que couro e um toque herbáceo apareciam em primeiro plano. Taninos muito macios, boa acidez, corpo médio.
  • TiareBlu 2007 (R$186): um corte de Merlot com Cabernet Sauvignon. Com o mesmo tempo de fermentação, e estágio em barricas mais longo, é um vinho mais encorpado que o anterior, mas ainda assim, elegante, com frutas vermelhas e um toque herbáceo da Cabernet Sauvignon, e taninos quase tão suaves quanto o anterior.

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