Texto da série: Descobrindo e Provando Portugal com a ViniPortugal
Este relato trata da minha visita a Portugal como convidado da Vinhos de Portugal. Caso ainda não tenha lido, leia o prólogo.Os últimos dois dias de nossa programação em Portugal estavam reservados para a participação na feira Essência do Vinho - Porto, no belo Palácio da Bolsa, na cidade do Porto. A feira é organizada pela Essência do Vinho, agência de organização de eventos enogastronômicos, que além da feira, publica a Revista Wine - Essência do Vinho, e organiza os cursos de Formação de Vinhos Portugueses no Brasil. Por falar nisso, as datas dos cursos em 2015 já foram divulgadas, e as inscrições já estão abertas. Quem sabe você não estará entre os próximos convidados de Portugal, no ano que vem?
Voltando à feira, esta foi a sua 12ª edição, realizada na cidade do Porto, mas não se trata apenas de vinho do Porto. Este ano, ela recebeu 23.700 visitantes para conhecer 350 produtores em exposição, de todas as regiões de Portugal, apresentando 3000 rótulos diferentes, além de diversas provas comentadas com o que de melhor se produzem Portugal. Em alguns casos, verdadeiras raridades centenárias. Veja o vídeo oficial da feira:
A feira
Além da feira em si, ainda houveram os almoços e jantares oficiais, e uma visita à maior fábrica de rolhas de Portugal (e conseqüentemente do mundo). Estes eventos foram reservados a poucos convidados, e que nós, convidados da ViniPortugal, tivemos a honra de poder participar. Com tantos compromissos na programação, o tempo na feira foi curto. Mal acabou o almoço, e já estávamos atrasados para a feira. Quando nos dávamos conta, já era hora de ir embora para o hotel, para nos prepararmos para recepção do jantar. Era uma correria só.Eu não ouso falar de destaques da feira, pois não tive tempo de provar nem mesmo 1% do que havia em exposição, e com certeza deixei de provar verdadeiras jóias. Mas em vez de correr para provar o maior número possível de vinhos, eu preferi conversar para conhecer bem um pequeno número de produtores.
DOP Madeirense
A Ilha da Madeira é famosa por seus vinhos fortificados, e apenas eles podem ser chamados como Vinhos Madeira. Mas também há vinhos brancos e tintos produzidos na ilha, e estes são classificados como DOP Madeirense. Na feira, tive a oportunidade de provar destes vinhos pela primeira vez, e me surpreendi com os brancos. Haviam dois produtores, dividindo o espaço no cantinho do saguão principal.Representando as Terras do Avô estava a neta Sofia Caldeira, uma das sócias do projeto. Seus vinhos são assinados pelo enólogo Paulo Laureano, uma referência no cenário vinícola português. O Terras do Avô Branco 2013 é 100% Verdelho, e aporta uma complexidade e originalidade que eu não esperava. Aromas de cera de abelha, flores, frutas exóticas, tudo envolto em um toque defumado. Na boca, muito frescor e maresia, sensação sápida, salobra, com final muito seco e boa persistência. Eu fico receoso de usar a palavra tipicidade, pois nunca havia provado um vinho Madeirense antes, mas seus aromas e sabor remetem exatamente ao meu imaginário sobre o terroir da Ilha da Madeira, com seus solos vulcânicos e a influência oceânica nas vinhas.
Logo ao lado estava o vinho branco Palmeira e Voltas 2013, produzido por Octávio Ferraz. É um corte de Malvasia, Verdelho e uma variedade rara chamada Arnsburger, que foi criada a partir de dois clones de Riesling, em 1939. E apesar do corte diferente, apresentou basicamente as mesmas características - salinidade, leve fumado, flor de amendoeira - ressaltando a minha concepção do que é a tipicidade dos vinhos brancos de lá.
Vinhos Terras do Avô |
O melhor vinho branco de 2015
Em uma das pontas do corredor central estava o stand da Quinta dos Carvalhais, uma quinta da região do Dão, que hoje pertence à Sogrape. Durante a viagem, em um jantar, nós havíamos tomado o Encruzado 2011 da quinta, vinho que me agradou em cheio. Fui ver o que mais eles tinham de bom, e quem me atendeu foi a enóloga Beatriz Cabral de Almeida. Ela me indicou o Quinta dos Carvalhais Branco Especial.Beatriz já trabalhava no time de enologia da quinta, e assumiu há dois anos a direção de enologia, quando Manuel Vieira - seu antecessor - se aposentou. Ela credita a ele a criação do vinho. É um lote (corte) de diferentes castas, e diferentes safras: 2004, 2005 e 2006, que envelheceram em barricas de carvalho, com diferentes graus de utilização. O lote e engarrafamento ocorreram no final de 2013, e ele foi lançado em 2014. O objetivo era mostrar o potencial de envelhecimento dos vinhos brancos do Dão. E o resultado foi certeiro, pois mostrou um vinho muito vivo, fresco e ao mesmo tempo intenso, com uma textura densa, aromas de damascos secos, coco, chocolate branco e resina. No dia seguinte, foi anunciado como sendo o melhor vinho branco de 2015, no jantar de premiação dos Top 10.
A foto que tirei da garrafa não ficou tão boa, por isso peguei emprestado do site da Sogrape |
José Maria da Fonseca
A empresa José Maria da Fonseca é a maior referência da Península de Setúbal. A empresa do Periquita ainda está na mesma família do fundador, hoje sob a gerência da 6ª geração. Além do Periquita e diversas outras marcas, é muito conhecido pelos seus vinhos generosos Moscatéis de Setúbal. O Moscatel de Setúbal 1911, lançado em 2014 em comemoração aos 180 anos da empresa, foi eleito o melhor vinho generoso (fortificado) da feira. Mas esta prova foi reservada para poucos, não estava disponível em seu stand.Mas o que havia no stand já era 'de se beber de joelhos'. O Alambre 20 anos é feito com vinhos de 19 safras diferentes, sendo a mais nova com 20 anos, e a mais antiga, com 80. Já o Moscatel de Setúbal Coleção Privada 2004 é feito de uma única safra, mas a fortificação foi feita com Armagnac, um reputado destilado francês. São dois exemplos do que esperar dos melhores Moscatéis de Setúbal, muito frescor, com uma excelente acidez para balancear a alta concentração de açúcar, e aromas intensos, que trazem a tipicidade da uva Moscatel lado a lado com deliciosos aromas de evolução.
Almoços e jantares oficiais
Os almoços e jantares oficiais da feira também eram eventos para apresentação de vinhos. Eu já comentei a respeito do almoço de abertura da feira. Em cada mesa foram servidos vinhos de um produtor, eu fiquei na mesa da Porto Cruz, onde foi servido o fantástico Porto Dalva Golden White Colheita 1963.O jantar do 1º dia de feira ocorreu no restaurante Cafeína, e teve como tema vinhos do Alentejo e da Ilha da Madeira. O nosso grupo dividiu a mesa com Luis Cabral de Almeida - o enólogo da Herdade do Peso - e com Luis Duarte - escolhido como enólogo do ano pela revista Wine - Essência do Vinho. A comida do restaurante não me empolgou, e o serviço foi muito demorado, mas os vinhos foram excelentes. De aperitivo, foi servido o Madeira Barbeito Sercial 1992. Eu sou fã dos vinhos Madeira de Sercial, e este, Colheita com 23 anos, estava espetacular. Na seqüência, vieram o Rubrica Branco 2013, de Luís Duarte, um branco complexo e encorpado; e o Herdade do Peso Reserva Tinto 2012, de um ótimo frescor, boa estrutura, e muito macio.
O jantar do segundo dia foi a cerimônia de premiação dos Top 10 da feira, e ocorreu no restaurante Vinum at Graham's. Este belo e espaçoso restaurante se localiza nas caves da Graham's, e divide espaço com as barricas de Vinho do Porto, que ficam logo do outro lado de uma parede de vidro, com uma iluminação decorativa aguçando a curiosidade dos comensais. Além do ambiente agradável, a comida também estava muito boa. A entrecôte servida como prato principal foi a melhor carne de vaca que já comi em Portugal. E para encerrar o jantar, foi servido um Graham's 30 years old Tawny. O vinho em si é um espetáculo, mas ser servido de uma garrafa de 3 litros foi um toque extra de glamour para a noite.
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