Terceiro texto da série: Descobrindo e Provando Portugal com a ViniPortugal
Este relato trata da minha visita a Portugal como convidado da Vinhos de Portugal. Caso ainda não tenha lido, leia o prólogo.Ainda na cidade do Porto, nosso segundo compromisso foi uma Master Class, que serviu como uma introdução ao programa. A aula aconteceu na Sala de Provas da Viniportugal, um espaço dentro do Palácio da Bolsa, que em geral está aberta para visitações, e onde promove-se degustações para os visitantes. Mas nesses dias, ela estava fechada para visitas, assim como o prédio da Bolsa, já que se realizavam os preparativos para a feira Essência do Vinho, que começaria dali a três dias.
O tema da aula foram os vinhos brancos portugueses, um assunto vasto, já que o país tem muita diversidade a oferecer. Produz-se vinhos brancos em todas as regiões do país, com uma grande quantidade de castas diferentes, e diversos terroirs muito particulares. Alguns são mais comuns, e fáceis de encontrarmos inclusive no Brasil, como os do Douro, os Alentejanos, ou ainda os Vinhos Verdes Alvarinho. Outros são bem mais raros, como os de Colares e Bucelas, ou os vinhos da Beira Interior feitos de Fonte Cal. É muita diversidade para caber em uma só Master Class, mas se na aula não houve espaço para tudo, deu uma boa introdução; e a semana que se seguiu ajudou a preencher algumas lacunas. Tivemos a oportunidade de provar até vinhos do Algarve e Madeirenses! Mas isso são assuntos para outros textos.
Para não me delongar muito, citarei apenas 3 dos vinhos apresentados na aula, três que se sobressaíram em relação aos demais.
Colares branco
Já comentei neste blog sobre esta região super particular e sua casta tinta Ramisco (reveja aqui). Se na outra ocasião eu tomei o tinto, desta vez tive a oportunidade de conhecer o branco. A uva dos vinhos brancos da região é a Malvasia; e se a Malvasia é uma casta muito mais comum que a tinta Ramisco, ela traz toda a sua excentricidade na forma de cultivo da região: vinhas muito velhas plantadas sem condução na areia, e protegidas da força do vento Atlântico por paliçadas de cana seca. Devido ao solo de areia, a filoxera não sobrevive, por isso são plantadas em pé franco. E quando o cacho de uvas começa a se desenvolver, é necessário suspender um a um com pequenas canas para impedir que o contato direto com a areia quente queime as uvas. É necessário muita perseverança para se cultivar uvas ali!O vinho que provamos foi o Fundação Oriente Branco 2009. Como a Malvasia é uma variedade aromática, o vinho apresentou aromas intensos que remetiam desde flores brancas, a guaraná e carambola, passando por ervas aromáticas. A influência marítima se fazia notar por um toque de salinidade, e algo calcário, remetendo a gesso. O tempo também começava a se fazer notar no vinho, com um toque iodado. Enfim, um vinho muito complexo, com ótima acidez, boa estrutura, e persistência.
Dão da Master Class para o almoço
Outro vinho que se destacou na minha opinião foi o Julia Kemper Branco Reserva 2011, do Dão. É feito de Encruzado e Malvasia Fina, com estágio de 14 meses em barricas (os três primeiros meses sur lies com bâttonage). A madeira se faz notar, mas sem sobrecarregar, contribuindo com notas de coco que se somam a eucalipto e frutas de caroço. Na boca também apresenta uma nota salina, boa acidez, bastante untuosidade, e ótima persistência.Mas o melhor deste vinho foi ter nos acompanhado até o almoço. Sim, a aula foi de manhã, e logo em seguida nos dirigimos aO Comercial, um requintado restaurante dentro do prédio da Bolsa. De entrada, tivemos uma 'bruschetta' com sardinhas, queijo de cabra e doce de abóbora: uma combinação completamente inusitada, que eu nunca imaginaria que daria certo, mas deu, e muito. Uma delícia! O Julia Kemper, por sua vez, com seu aroma levemente adocicado do estágio em madeira me pareceu o vinho ideal, e casou muito bem. E na minha opinião, mesmo com o prato principal, achei-o o mais apropriado para não atropelar a sutileza da vitela e do risoto de cogumelos.
Mais um Malvasia
É total coincidência que os três vinhos que mais me encantaram tenham sido de Malvasia. O terceiro Malvasia a me cativar na Master Class foi um fortificado doce, da Ilha da Madeira: Blandy's Malmsey Colheita 1996. É o estilo mais doce de Vinhos Madeira, mas ainda assim possui uma excelente acidez para equilibrar seu teor de açúcar. Apresenta aromas de caramelo, casca de laranja cristalizada e frutos secos como amêndoas e avelãs. Ao colocar na boca, a acidez rapidamente predomina, e o sabor persiste por um longo tempo. Fantástico.Logo após o almoço, seguimos para a freguesia de Sousela, no concelho de Lousada, para visitar um produtor. Mas isso é assunto para o próximo texto...
Prezado Rodrigo:
ResponderExcluirProssiga nos seus relatos que continuaremos a nos deliciar. Parabéns por ter tido seu blog citado na mídia como um dos mais lidos no mês.
JFGioia - Cozinhando com Gioia