6 de março de 2015

Paixão e conhecimento na viticultura

Texto da série: Descobrindo e Provando Portugal com a ViniPortugal

Este relato trata da minha visita a Portugal como convidado da Vinhos de Portugal. Caso ainda não tenha lido, leia o prólogo.


A paixão com que cultiva as suas vinhas, o gosto com que descreve seu trabalho, seu método de cultivo: este foi o sentimento transmitido a todos, ao ouvirmos o Professor Rogério de Castro descrever seu trabalho. Dá gosto de ouvi-lo falar.

Rogério de Castro e sua família são proprietários da Quinta de Lourosa, localizada na freguesia de Sousela, a meros 40 Km do Porto, em plena região dos Vinhos Verdes, sub-região de Sousa. Como é comum à região dos Vinhos Verdes, o clima da sua propriedade é intensamente influenciado pelos ventos Atlânticos, que trazem muita chuva durante todo o ano, e temperaturas mais amenas no verão, trazendo um desafio à plena maturação das uvas.


Foi neste clima de inverno, que alternou sol com diversas pancadas de chuva e ventos frios, que ele nos recebeu em sua quinta, para nos apresentar seu projeto. Enquanto a chuva permitiu, em seus intervalos, ele nos apresentou suas vinhas, e diversos métodos de condução, cada um com objetivos específicos, até chegar ao método Lys.

A paixão pela agricultura o levou a formar-se em Engenharia Agronômica, e posteriormente ao doutorado em Ciências Agrárias. Hoje, é professor catedrático do Instituto Superior de Agronomia. Sua paixão e conhecimento o levaram a desenvolver o método chamado de Lys, que busca otimizar a exposição solar para garantir uma boa maturação com produtividade. É um sistema relativamente trabalhoso e que depende muito de conhecer e interpretar a vinha para decidir o momento certo para cada ação na vinha à medida que a folhagem das videiras vai se desenvolvendo. Mas seu trabalho, além de render teses de mestrado e doutorado de seus alunos, também começa a ser replicado mundo afora. Ele conta com orgulho a respeito de uma visita a um produtor no Uruguai, que lhe apresentou o sistema, sem saber que ele o havia desenvolvido.


À parte a Quinta de Lourosa, Rogério de Castro trabalha há mais de duas décadas como consultor em viticultura para a Dão Sul. Para quem não se recorda, a Dão Sul é responsável pelas marcas Quinta de Cabriz e Quinta do Encontro, entre outros, além do projeto Rio Sul, no Vale do São Francisco. Por isso, Rogério de Castro vem frequentemente ao Brasil. A sua relação com a Dão Sul transformou-se em uma sociedade em que os vinhos da Quinta de Lourosa aproveitam-se das estruturas de marketing e distribuição da Dão Sul, além de poder contar com a consultoria de enólogos do grupo.

Mas a direção de enologia fica a cargo de sua filha, Joana de Castro, que comanda o destino das uvas uma vez que entram na adega. Com o mesmo espírito do pai, busca experimentar novos métodos e procedimentos, de modo empírico, em busca de melhorias no processo produtivo. Quando a chuva voltou a apertar, corremos para a adega, onde ela nos mostrou os equipamentos, os tanques, e contou um pouco sobre o processo de produção dos vinhos: desengace, prensa programável, diferenças de abordagem em relação a cada casta, microvinificações, maceração, etc.


Após a adega, fomos para a sala de prova, que se localiza na edificação principal da quinta. Esta edificação mescla estruturas do século XVIII com alas novas, contendo alojamentos de turismo rural. Na sala de provas, com parede de vidro com vista para o pátio interno de um lado, e lareira acesa do outro, Joana apresentou alguns de seus vinhos.

As duas castas mais importantes da propriedade são Loureiro e Arinto, que dão origem aos dois Vinhos Verdes da casa: Lourosa e Quinta de Lourosa, ambos da safra 2014, e recentemente engarrafados, mas ainda sem os rótulos definitivos, e carecendo de descanso em cave antes de serem liberados no mercado. Descanso que ela luta para garantir, pois os vinhos das safras anteriores já se esgotaram, e os distribuidores ficam ávidos pela nova safra. Mesmo que distintos entre si, ambos possuem toda a tipicidade dos Vinhos Verdes. O primeiro, entrada de gama, é mais simples, mais leve, e ligeiramente mais adocicado. O segundo possui leve maceração com as cascas, apresenta mais volume, e é mais seco.

Além das duas castas já mencionadas, cultivam algumas outras variedades, entre as quais a Alvarinho, que compõe o Quinta de Lourosa Alvarinho 2013, um vinho classificado como Vinho Regional do Minho, é mais encorpado, sem agulha, e com leve passagem por barrica, estágio esse que se faz perceber de forma discreta no aroma.


A vontade era de continuar ali, conversando com os dois, sobre vinhos e sobre Portugal, mas o tempo não para, e ainda teríamos um longo caminho pela frente até o hotel onde nos hospedaríamos, a 2 horas de carro dali, em Trás-os-Montes, não muito longe da fronteira com a Espanha.

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