8 de março de 2015

As vinhas mais altas de Portugal

Texto da série: Descobrindo e Provando Portugal com a ViniPortugal

Este relato trata da minha visita a Portugal como convidado da Vinhos de Portugal. Caso ainda não tenha lido, leia o prólogo.

Depois de almoçarmos na Quinta dos Termos, visitamos outra propriedade na Beira Interior: a Quinta do Cardo.


Fomos recebidos pelo gerente comercial de exportações, Rodrigo Leitão, e pelo enólogo, Luis Leocádio, que nos apresentaram e mostraram a quinta. Ela possui 179ha de extensão, sendo 80ha de vinhas, além de 60ha de pinheiros e sobreiros. Seu nome é derivado de uma planta, o cardo, que é utilizada no fabrico de queijo, pois tem ação coagulante.

Apesar de também estar na região da Beira Interior, está localizada em uma posição geográfica razoavelmente diferente. Enquanto a Quinta dos Termos se localiza na sub-região de Cova da Beira, mais ao sul, completamente abrigada pela Serra da Estrela, a Quinta do Cardo se localiza na sub-região de Castelo Rodrigo, mais ao norte, mais perto do rio Douro. Castelo Rodrigo é a região vinícola mais alta de Portugal, e as vinhas da Quinta do Cardo estão a altitudes acima de 700m. A altitude maior implica em temperaturas ainda mais frias, tanto no inverno, quanto nas noites de verão, trazendo muito frescor para os vinhos.

Uma moita de cardo

Outra diferença está nas variedades cultivadas. A uva branca de excelência na Quinta do Cardo é a Síria, e as tintas são Touriga Nacional, Tinta Roriz, e em menor quantidade a Touriga Franca, que tem maior dificuldade de atingir o ponto ideal de maturação nessas altitudes.

A Quinta do Cardo pertence ao grupo Companhia das Quintas. Mas em vez de um grande grupo produtor e exportador, o que enxergamos nas estruturas da quinta e nos rostos da equipe que ali trabalha é o duro labor de uma vida rural e agreste.


A visita

A Quinta não costuma receber visitas turísticas, e não possui infra-estrutura para este fim. Visitamos o galpão de vinificação, com espaço para a recepção de uvas e os tanques de vinificação; depois passamos ao galpão com tanques de armazenamento de inox, onde os vinhos ficam armazenados até o engarrafamento. Vale lembrar que era inverno, por isso o frio era tão intenso, que havia uma pequena salamandra improvisada no meio do galpão, para aquecer o ambiente onde os vinhos estavam repousando, prevenindo a mudança brusca de temperatura. Em seguida, passamos à cave, com as barricas.


Não tivemos exatamente uma degustação dos vinhos, mas sim uma pequena confraternização com a equipe da quinta, ali mesmo na cave, nos corredores, entre os barris. Trouxeram uma mesa repleta de queijos, enchidos e doces, que apreciamos em companhia da equipe, enquanto provávamos os vinhos da quinta. Não ouso fazer uma descrição dos vinhos que provei na ocasião. O ambiente, a comida, o posicionamento desajeitado entre as barricas, o cheiro defumado do aquecimento, enfim, foi apenas uma confraternização para conhecer e apreciar os vinhos, e não para analisá-los.


Quinta do Cardo Reserva

Por outro lado, fomos brindados com uma garrafa cada um de seu melhor vinho, o Quinta do Cardo Reserva 2010. E este sim, pude analisar com calma, sentado, confortável em casa. É um vinho 100% Touriga Nacional, com estágio de 20 meses em barricas francesas. É um vinho muito intenso, com uma cor retinta, aromas jovens, de frutas vermelhas e notas da madeira bem presentes, e estrutura intensa, taninos intensos, corpo pesado, acidez alta. Ou seja, tem 5 anos, e se mostra demasiadamente jovem. Eu penso que tem potencial melhorar pelo menos pelos próximos 5 anos, mas não duvido que possa evoluir por mais 15 anos, como sugere a ficha técnica do produtor.

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