3 de março de 2015

Vinhos da Ponte de Lima n'O Gaveto

Segundo texto da série: Descobrindo e Provando Portugal com a ViniPortugal

Este relato trata da minha visita a Portugal como convidado da Vinhos de Portugal. Caso ainda não tenha lido, leia o prólogo.


Nosso primeiro compromisso em Portugal ocorreu já no dia de chegada, à noite. Nos reunimos com representantes da Adega Cooperativa Ponte de Lima, para um jantar harmonizado e comentado no restaurante O Gaveto, na cidade de Matosinhos, que se localiza na região litorânea próxima à cidade do Porto. Vieram representar a cooperativa a presidente de direcção, Dra. Maria Celeste do Patrocínio, e a enóloga adjunta, Rita Araújo.

Os restaurantes de Matosinhos têm reputação com pratos de frutos do mar, e O Gaveto possui viveiros próprios. Portanto, frutos do mar mais frescos, impossível. Havia até mesmo lampreias que, a julgar pelos cartazes de anúncio, são uma iguaria cobiçada no país. Mas ninguém do grupo se mostrou muito aventureiro para provar a lampreia, por isso nos ativemos ao menu que já havia sido planejado.

Encara uma lampreia?

A Cooperativa

A Adega Cooperativa Ponte de Lima foi fundada em 1959, reunindo produtores da sub-região do Lima, uma das sub-regiões da Região Demarcada dos Vinhos Verdes. Uma das sub-regiões mais ao norte do Minho, logo ao sul de Monção e Melgaço, abrange uma faixa ao longo da bacia do rio Lima, possuindo diferenças de relevo do litoral para o interior. Nesta região, a casta mais importante é a Loureiro, uma das mais importantes de toda a região dos Vinhos Verdes.

Eu já tomei algumas vezes o Vinho Verde Loureiro aqui no Brasil, e inclusive o elegi como um dos melhores brancos que provei em 2014. E o melhor, não é caro! Eu já o encontrei por volta de R$30 no Pão de Açúcar, no ano passado, e este ano ele deve vir novamente.

Mas agora, no restaurante, tivemos a oportunidade de provar vários vinhos da gama, incluindo um espumante, alguns brancos, um tinto, e até mesmo uma aguardente de 40 anos!


Jantar harmonizado e comentado

O serviço começou com o Espumante Loureiro Bruto, como aperitivo. Devido à alta acidez dos Vinhos Verdes, é um espumante leve e frutado, muito agradável. À medida que se iam servindo diversos couverts, como bolinhos de bacalhau, presunto cru, e pães tostados com azeite, etc. foi servido o Loureiro. Como já disse, adoro este vinho, com seu intenso aroma cítrico. Logo em seguida, foi servido o Ouro do Lima, um Grande Escolha feito em lote entre Loureiro e Trajadura. Eu adoro Vinho Verde, o que poderia achar deste? Muito bom!

O Ouro do Lima foi servido para harmonizar com as amêijoas a Bulhão Pato, uma prato simples, e delicioso na sua simplicidade. Frita-se o alho no azeite, e em seguida se adicionam as amêijoas, coentro e um pouco de vinho branco. As amêijoas com este monte de conchas, não vão alimentar ninguém. Mas é no embeber uns pedaços de pão em seu caldo saboroso que reside a beleza do prato.


O vinho harmonizou perfeitamente, aliás, qualquer um dos brancos servidos teria sido um par à altura para o prato, na minha opinião. Eu sou bem pragmático, neste sentido. Mas sigamos, pois logo foi servido o arroz malandro de mariscos. Arroz malandro é uma versão portuguesa do risoto, mas com mais caldo. Uma delícia, muito saboroso, e ficou perfeito acompanhado do Loureiro Colheita Selecionada, que é o vinho da categoria superior, feito com a uva Loureiro. É muito parecido com o Loureiro anterior. Podendo compará-los lado a lado, o Colheita Selecionada é um pouco mais encorpado, e por isso sente-se menos a agulha, mas ainda apresenta toda a tipicidade de um Vinho Verde.


O segundo prato foi um filé ao molho de cogumelos, servido com cenouras, batatas fritas e grelos. Eu já havia comentado sobre os Vinhos Verdes tintos, de como eles são considerados estranhos por quem os provam pela primeira vez (provavelmente também pela segunda e terceira vez), mas que são considerados muito gastronômicos. Pois esta foi a minha primeira oportunidade de provar um Vinho Verde tinto junto à comida. E o que achei? Talvez não tenha sido o melhor prato para o vinho. É tudo o que eu tenho a dizer.

Já estava estufado de tanta comida, mas sempre há espaço para a sobremesa: no caso, um pão de ló de ovar. De acordo com o atendente, é uma receita muito simples, mas que quase ninguém consegue fazer. Há necessidade de muitas tentativas para aprender o ponto da massa, e deixar o interior parcialmente sem assar, dando a consistência correta.


E para finalizar, uma dose de Aguardente Velha, como digestivo. Uma aguardente vínica, isto é, obtida a partir da destilação de vinho, que estagiou em barrica por 40 anos (segundo informação da Sra. Maria Celeste). Uma aguardente super macia e saborosa, resultado da sua longa maturação. Eu fiquei impressionado com a sua maciez.


Ao escrever este texto já sinto saudades de Portugal. Esta foi a minha terceira viagem ao país, e O Gaveto é um dos melhores restaurantes em que já comi em Portugal. Certamente, quando voltar a passar pelo Porto, voltarei lá. Quanto aos vinhos, é mais fácil, já que pelo menos alguns deles, encontramos no Brasil. E espero que eu os encontre com cada vez mais frequência, para amenizar um pouquinho a saudade.

Um comentário:

  1. Minhas férias em Portugal não chegou nem perto do que você citou neste texto e eu só de ler já me deu saudades do que não vivi...rs..rs..rs.. Espero ansiosa pelos próximos textos para tentar viver os momentos bons que você teve durante a sua viagem. Que venham outras viagens!

    ResponderExcluir

Sintam-se livres para comentar, criticar, ou fazer perguntas. É possível comentar anonimamente, com perfil do Google, ou com qualquer uma das formas disponíveis abaixo. Caso prefiram, podem enviar uma mensagem privada para sobrevinhoseafins@gmail.com.