14 de junho de 2015

Kronos e Rhea, um casal mitológico

De acordo com a mitologia grega, Rhea e Kronos são deuses Titãs, descendentes do deus-céu (Urano) e da deusa Terra (Gaia). Kronos, que possuía o poder de controlar o tempo, destronou o pai, e reinou o cosmos durante a era dourada da mitologia grega. Ele teve com Rhea 6 filhos. Porém, assim como o tempo devora tudo, Kronos devorava seus filhos, para tentar impedir a profecia de que um descendente seu iria destroná-lo. Ele devorou todos, exceto o 6º, Zeus, que Rhea escondeu, e que veio efetivamente a destroná-lo, terminando a era dourada, e dando origem ao Olimpo.

A história deles não é das mais românticas, mas este casal nos fez companhia no jantar de 12 de junho, e tornou nossa noite ainda mais especial. Optamos por um jantar em casa, sem o caráter comercial dos restaurantes. Além do mais, onde poderíamos comer melhor do que em casa? Comida preparada da melhor forma, com os ingredientes frescos e de origem conhecida. Thais preparou um cardápio delicioso, e eu escolhi os vinhos para acompanhar: Rhea Viognier 2011 e Kronos Pinot Noir 2011, ambos topo de gama da Cramele Halewood.


Cardápio

Como amuse-bouche, tínhamos cogumelos Portobelo recheados de queijo gorgonzola gratinado. O gorgonzola é um desafio para se harmonizar. Em seguida, o primeiro prato foi salada de bifum (um macarrão fininho, de arroz) com cogumelos, cenoura e pepino ralados, temperado com azeite trufado. E de prato principal, manicaretti recheado de queijo e manjericão, puxado na frigideira com tiras de filé mignon e tomatinhos-cereja confitados.


Considerando a tipicidade da Viognier, achei que seria o vinho perfeito para o gorgonzola gratinado, mas seria um pouco pesado para a salada de bifum. Por outro lado, seria um exagero abrir três vinhos para duas pessoas, e me ative ao Rhea. Devo dizer que o vinho me surpreendeu, pois ele não era assim tão pesado. Era encorpado, mas de intensa mineralidade tanto no nariz (iodo) quanto na boca (muita sapidez), além de boa acidez; de forma que não chegou a passar por cima da salada. É bem verdade, que o azeite ajudou a unir os dois.


Para o prato principal, o desafio foi menor. Como havia o manicaretti junto da carne, optei por um tinto com taninos menos intensos, e o Kronos foi perfeito: com uma elegância de Velho Mundo, cor rubi clarinha, já com reflexos granada, corpo de leve a médio, taninos leves, muito boa acidez, e bom aroma, que evoluiu com o tempo: de cereja fresca a ameixa passa, com toques de pimenta verde, folhas secas, e um pouco de terra seca. Caiu como uma luva de seda.


Os vinhos

A Cramele Halewood, uma das principais vinícolas da Romênia, buscou na mitologia grega a inspiração para sua linha de vinhos topo de gama. Rhea, a mãe dos deuses do Olimpo, dá nome ao branco feito de Viognier. Este vinho é proveniente da primeira plantação de Viognier em Dealu Mare. Ele ficou por 15 horas de maceração com as cascas, para reforçar seu corpo; em seguida, passou por uma lenta fermentação, que durou 28 dias; e para finalizar, 10% do vinho estagiou em barricas novas.

Já o Kronos, deus do tempo, foi inspiração para este elegante Pinot Noir, também produzido em Dealu Mare. O mosto passou por 3 dias em maceração pré-fermentativa, em baixa temperatura, seguida de uma lenta fermentação, e terminando com 14 meses de estágio em barricas francesas novas. Sinceramente, mal dá pra perceber a barrica. Ficou um vinho muito elegante e frutado, com taninos leves, mas ainda firmes, com boa acidez, e apesar da cor mostrar alguma evolução, creio que ainda melhore com mais uns anos de guarda.


Estes vinhos são edições limitadas: foram produzidas 6300 do Rhea 2011 e 6500 do Kronos. E assim como quase toda a linha de produtos da Cramele Halewood, eles foram importados pela Winelands, e estarão a venda no novo site da importadora, a ser lançado em breve. (Mas se você for cliente do clube, pode ligar para o Fernando, e consegue comprar já).

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