Mas no início do mês, ela teve a oportunidade de se encantar novamente com o vinho de Santorini. Meus pais estavam em São Paulo, e eu e Thais fomos nos encontrar com eles. Almoçamos em um restaurante grego, recomendado por uma tia minha. Mas desta vez não foi o Acrópoles, que eu e Thais adoramos, mas sim um chamado Myk. O estilo e a proposta é completamente diferente do primeiro, mas a comida é igualmente boa.
Todos toparam ir de vinho, e coube a mim escolher. A carta não tinha uma grande quantidade de gregos, afinal é difícil encontrar deles aqui. Mas dos 5 brancos gregos da carta, 3 eram de Santorini. Foquei no Assyrtiko 2013 do Domaine Sigalas, e confirmei com o atendente que não passava por madeira. Foi o escolhido.
O vinho era delicioso! De cor dourada brilhante, bem frutado, com ótima acidez e um toque salino, típico dos vinhos que crescem de cara para a brisa marítima. Mesmo assim, muito estruturado, com bom volume de boca. Foi bem com tudo: palitos de abobrinha empanada com tzatziki, salada de folhas com queijo coalho grelhado, peixe grelhado com azeitonas, lula recheada de camarões, moussaka e até com filé e batatas ao mel. Um espetáculo, todos adoraram, e não deu para ficar em uma garrafa só.
Por trás do vinho
Não havia dúvida de que seria um grande vinho. Santorini é muito reconhecida pelos seus brancos. É uma ilha essencialmente de vinhos brancos, sejam secos ou de sobremesa. Os melhores são feitos com uvas locais, e a mais importante delas é a Assyrtiko (Ασύρτικο). É considerada a mais nobre uva branca grega. É uma variedade capaz de reter excelente acidez, e totalmente adaptada às condições climáticas da ilha.Aliás, por falar nisso, a ilha é um dos terroirs mais extremos para produção de vinhos. Com verão tórrido, só é possível cultivar uvas com técnicas ancestrais, muito próprias da região. As vinhas são conduzidas a crescerem em um formato de cesta, próximas ao solo. Os cachos crescem dentro da cesta, protegidos do excesso de sol e vento. O vento marítimo da ilha, que pode ser muito intenso na primavera, garante uma distinta mineralidade aos vinhos, uma sapidez que os tornam formidáveis para acompanhar comida.
A precipitação anual não passa de 350mm por ano, um valor extremamente baixo. No entanto, o vento úmido do mar causa nevoeiros nas noites de verão, que garante a água necessária para a sobrevivência da planta. O solo, ao mesmo tempo de origem vulcânica e arenoso, garante imunidade contra a filoxera. E a renovação dos vinhedos é feita pela mesma técnica há séculos, utilizando mudas do próprio vinhedo para substituir as plantas mortas. Portanto, são vinhas essencialmente velhas, com idade média que supera os 50 anos de idade, plantadas desde sempre em pé-franco.
Foto original: Flickr |
Não pode faltar uma palavrinha a respeito do produtor, o responsável por este delicioso vinho existir. O Domaine Sigalas foi fundado em 1991, por Paris Sigalas, nativo da ilha, e mais dois amigos. No início, a produção ocorria nas instalações da própria família Sigalas, mas em 1998 a empresa construiu um novo centro de vinificação e engarrafamento condizente com o seu crescimento. Em 2003, com a inclusão de novos sócios, a empresa se converteu em Sociedade Anônima, mas Paris Sigalas se mantém à frente do projeto, como presidente. Hoje, eles possuem 19ha de vinhas, 80% de uvas brancas, sendo que 90% das uvas brancas são de Assyrtiko, o que mostra como esta variedade é importante e valorizada.
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