Alguns números
Produção em 2014: 4 milhões de hectolitros.Ranking de produção: 12º
Área cultivada: 182 mil hectares (5ª maior da Europa)
Consumo per capita: 25L por ano
Nas estimativas da OIV para 2014 [*], a produção da Romênia deve ter atingido 4 milhões de hectolitros, mantendo o país na 12ª posição no ranking. A área cultivada tem se reduzido sistematicamente: em 2000, ocupava 248 mil hectares, e hoje possui apenas 182 mil [*].
Vinhos brancos representam 51% da produção, em tendência de queda (em 2000 representava 63%) [*]. Por um lado, estes fatos refletem a preferência nacional (65% do mercado interno é de vinhos brancos), e por outro, mostram como o mercado externo - que tem maior demanda para vinhos tintos - tem exercido cada vez mais influência sobre a produção.
Mapa de autoria deste autor, e publicado sob licença Commons Wikimedia. |
Geografia
Existem 3 grandes elementos naturais no país que regulam o clima, influenciam diretamente a produção vinícola, e, portanto, definem as principais macro-regiões vinícolas. São eles, a cadeia de montanha dos Cárpatos, o rio Danúbio, e o Mar Negro.Os Cárpatos são uma cadeia de montanhas que se inicia na Eslováquia, passa pela Ucrânia, entra pelo norte da Romênia, e faz um "L" invertido, terminando na fronteira com a Sérvia, a oeste do país. Ao norte dela, dentro do "L", se localiza a Transilvânia, principal região de vinhos brancos e espumantes. Nas encostas dos Cárpatos, ao sul, do lado de fora do "L", está Dealu Mare, a principal região de vinhos tintos.
O rio Danúbio, um dos principais rios da Europa, nasce na Alemanha, passa pela Áustria, Eslováquia, Hungria e Sérvia, define a fronteira entre Romênia e Bulgária, e próximo à foz, entra em território romeno, até se abrir em um delta e terminar no Mar Negro. A pequena região litorânea, entre o Danúbio e o Mar Negro é Dobruja (acredite ou não, este é o nome em português; em romeno, ela se chama Dobrogea). Esta é a área com maior influência do Mar Negro, que regula o clima, minimizando amplitudes térmicas, e trazendo ventos úmidos e chuva.
E entre os Cárpatos e o Danúbio, compreendendo a maior parte do sul do país, está a Valáquia. Ela sofre moderada influência do Mar Negro (quanto mais interior, menor a influência), e as principais áreas de cultivo estão ou no norte, aos pés dos Cárpatos, ou no sul, às margens do Danúbio (Terasele Duñarii).
Imagem obtida do site Romania Winegrowers |
Regiões
A área de maior produção vinícola do país (com 39%) é a Moldávia (Moldova, em romeno), região da Romênia a leste dos Cárpatos, que possui o mesmo nome do país vizinho. Região de baixa pluviosidade, boa insolação, e diferentes altitudes, produzindo vinhos brancos, tintos e vinhos de sobremesa. A DOC mais importante da região é Cotnari, exclusiva para produção de vinhos doces botrytizados.A Transilvânia corresponde a um planalto no centro-norte do país. As áreas mais baixas estão a 300m de altitude. Conforme dito acima, ela é delimitada a leste e a sul pela cadeia de montanhas dos Cárpatos, bloqueando completamente a influência do Mar Negro. É uma região fria, de invernos rigorosos, e verões amenos, o que significa um desafio para a plena maturação de uvas tintas. Para uvas brancas, ou para a Pinot Noir usada em espumantes, é o clima ideal. Produz apenas 4% da produção do país, porém metade dela com status DOC: Alba, Sebeş-Apold, Aiud, Lechinţa e Târnave.
A Dobruja possui verões quentes e invernos amenos, termorregulados pelo Mar Negro. A pequena região possui solo calcário, ideal para a viticultura: possui vinhas por todo lado - tanto tintas quanto brancas - e é responsável por 10% da produção do país. Possui uma IG Colinele Dobrogei (colinas da Dobruja), mas a área mais importante é Murfatlar, com status DOC.
A Valáquia é a região que engloba todo o sul do país, desde os Cárpatos, até a fronteira com a Bulgária. Como é muito grande, é dividida em Muntênia e Oltênia. Na área ao norte das duas, as vinhas são plantadas em áreas montanhosas, próximas aos Cárpatos: Dealurile Munteniei (Montes da Muntênia) e Dealurile Olteniei (Montes da Oltênia). Quanto mais a oeste, menor é a influência do Mar Negro. Não obstante, as áreas mais importantes se localizam mais a leste, na 'curva' dos Cárpatos. Ali, os diferentes perfis de solo geram diferentes DOCs, sendo Dealu Mare, a mais conceituada do pais para vinhos tintos.
Ainda na Valáquia, no sul da Muntênia, localizam-se vinhedos na área próxima ao Danúbio, com IG Terasele Duñarii (Terraços do Danúbio). É responsável por 6% da produção nacional.
E para completar a lista de regiões, no oeste e noroeste do país, estão as regiões de Banat, Crișana e Maramureș, que juntos correspondem a outros 6% da produção. Enquanto os tintos de Banat têm boa reputação, os brancos, produzidos em Crișana e Maramureș, são normalmente usados para produção de brandy (destilado de uva).
Mapa de autoria deste autor, baseado em trabalho do Commons Wikimedia |
Variedades de uva
Como um país de longa tradição de produção e consumo local, possui diversas variedades autóctones, que convivem com a grande incidência das variedades internacionais. Dentre as castas internacionais preferidas no país, estão Merlot, Aligoté, Riesling, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Sauvignon Blanc e Chardonnay.Mas hoje em dia as variedades autóctones, nativas, têm sido resgatadas. O governo tem incentivado que novas culturas sejam plantadas com essas variedades. Dentre elas, as mais comuns são: Fetească Neagră, Fetească Albă, Fetească Regală e Tămâioasă Românească.
- Fetească Neagră: esta uva, cujo nome significa 'donzela negra', não é a uva tinta mais plantada, mesmo assim é mais icônica do país, a mais conhecida internacionalmente, e de melhor reputação. Ela é originária da República da Moldávia, mas hoje praticamente só é cultivada na Romênia. Ela é rica em acidez, taninos e antocianinos (pigmentação corante), além de boa dose de aromas frutados. Apesar do nome, ela não tem relação genética com as outras duas Feteascăs.
- Fetească Albă: esta é a 'donzela branca', a variedade mais antiga da Romênia, e a segunda mais plantada. Variedade rica em aromas, com muito açúcar, e dificuldade de reter acidez, por isso seu local ideal é a Transilvânia, em que o clima frio garante que mantenha a acidez necessária.
- Fetească Regală: uma mutação recente da Fetească Albă, é a 'donzela real'. Ela foi citada na literatura pela primeira vez em 1930, porém hoje é a variedade mais plantada do país. Ela resiste bem a extremos de temperatura, e diferentemente da Albă, ela possui boa acidez, e menos álcool. Além disso, tem um distinto aroma floral.
- Tămâioasă Românescă: variedade branca extremamente aromática, da família das Moscatéis. Seu nome significa 'romena de incenso', devido ao seu caráter floral. É uma variedade naturalmente doce, responsável por alguns dos melhores vinhos semi-secos do país.
- Băbească Neagră: variedade tinta mais popular do país, é geralmente associada a vinhos de mesa. É cultivada principalmente na região da Moldávia.
- Grasa de Cotnari: uva branca utilizada nos vinhos doces botrytizados da região de Cotnari.
Classificação
A legislação do país está alinhada com a da União Européia, classificando os vinhos em três níveis: vinho de mesa, Indicação Geográfica (Indicaţie Geograficã - IG) e Denominação de Origem Controlada (DOC). Atualmente, 75% da produção é de vinhos de mesa, que atende o mercado nacional. Porém, o investimento em melhoria da produção para atender o mercado externo tem feito aumentar a produção de vinhos de qualidade (IG e DOC).As principais indicações geográficas são: Colinele Dobrogei (Colinas da Dobruja), Dealurile Munteniei (Montes da Muntênia), Dealurile Olteniei (Montes da Oltênia), Terasele Duñarii (Terraços do Danúbio) e Podisul Transilvaniei (Planalto da Transilvânia). Existem 32 Denominações de Origem Controlada no país, mas muitas delas são pouco expressivas. Algumas das mais importantes são: Dealu Mare (na Muntênia), Murfatlar (em Dobruja), Cotnari (na Moldávia), Alba e Sebeş-Apold (na Transilvânia).
Além disso, os vinhos com Denominação de Origem Controlada (DOC) são também classificados de acordo com o nível de maturação das uvas (pela quantidade de açúcar na uva no momento da colheita). Por isso, você normalmente irá encontrar nos contra-rótulos as siglas DOC-CMD, DOC-CT, ou DOC-CIB.
- CMD (Culesi la Maturitate Deplină): uvas colhidas na maturidade adequada, entre 187 e 220g/L de açúcar;
- CT (Culesul Tarziu): colheita tardia, mínimo de 220 g/L de açúcar;
- CIB (Culesi la Innobilarea Boabelor): colheita tardia com podridão nobre (botrytis)
Agora que já sabemos compreender os rótulos dos vinhos romenos, só resta prová-los! A Winelands importou dezenas de rótulos diferentes, e recebemos alguns pelo clube, e também vimos outros em sites de vinho. Aqui no blog, já fiz algumas recomendações. Veja os vinhos já comentados, no marcador: Romênia, e siga o blog para conhecer novos vinhos.
Fontes
Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural: www.madr.roAssociação dos Produtores e Exportadores de Vinho da Romênia: http://www.wineromania.com/
Romanian winegrowers: http://www.romanian-winegrowers.com/
Organização Internacional da Vinha e do Vinho: http://www.oiv.int
Excelente conteúdo! Obrigado por deixar referências. Por mais escritores assim, haha.
ResponderExcluirSimplesmente um luxo que precisa ser degustado na vida.
ResponderExcluirMatéria excelente, parabéns a equipe!
ResponderExcluirObrigado, Fernando! E saiba que sou uma equipe de um homem só!
ExcluirObrigado, muito bom resumo.
ResponderExcluirEu que agradeço o elogio.
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