9 de outubro de 2015

Silvio Carta Vernaccia di Oristano Riserva 2004

"O mundo do vinho não cansa de nos surpreender e nos oferecer novas descobertas." Assim começa o texto de Luiz Cola (blog Vinhos e mais vinhos), a respeito do Silvio Carta Vernaccia di Oristano Riserva 2004. E não há forma melhor de começarmos a falar deste vinho.


Como um Jerez

Vernaccia di Oristano é a resposta da Sardenha aos vinhos de Jerez. Ela representa uma Denominação de Origem, na costa oeste da ilha da Sardenha, ao redor da pequena comuna de Oristano. Eles são feitos de uma variedade local, que chamam de Vernaccia, mas que nada tem a ver com a Vernaccia di San Gimignano. Na realidade, Vernaccia é um nome usado para designar diversas variedades na Itália, porque vem da palavra vernacular, que significa local, nativo. Ou seja, esta Vernaccia é uma variedade de uva autóctone da província de Oristano, e provavelmente só é cultivada lá [*].

Mapa da Itália e da Sardenha - créditos Commons Wikimedia (1 e 2)

Mas o que faz estes vinhos comparáveis aos Jerez é que, enquanto envelhecem, os barris não ficam completamente cheios, deixando um espaço com ar que permite que se desenvolva uma 'flor', isto é, uma camada de leveduras que fica por cima do vinho durante alguns anos. Esta camada de leveduras interage com o vinho e lhe fornece uma característica única, uma nuance aromática típica dos Jerez com crianza biológica. Os Vernaccias di Orristano sofrem ainda uma ligeira oxidação, o que os deixa mais parecidos com um Amontillado (se não conhece o que é um Amontillado, leia Jerez Amontillado, Palo Cortado, Oloroso).

A conjuntura atual dos vinhos Vernaccia di Oristano não é das mais promissoras. De acordo com um artigo em publicação italiana (SOS Vernaccia di Oristano), só nos últimos 25 anos as plantações se reduziram de 2000ha a 100ha, devido à queda na popularidade local, e pelo desconhecimento do mercado externo. Alguns poucos produtores seguem mantendo a tradição, entre eles, Silvio Carta, o produtor deste vinho. A empresa, fundada nos anos 1950 por Silvio Carta, é também uma destilaria, possuindo ampla gama de licores. Não obstante, é uma referência da região de Oristano na produção de vinhos.


O vinho

Para a produção de seus Vernaccia di Oristano, as uvas são colhidas a mão entre a segunda semana de setembro e a primeira semana de outubro. Após uma prensagem leve, o mosto é extraído, e colocado para fermentar a partir de leveduras nativas, e elas levam entre 70 e 90 dias para consumir todo a açúcar [*]. A título de comparação, muitos vinhos brancos levam 10 dias ou menos, e tintos, em contato com as cascas, geralmente não chegam a 20 dias fermentando. Esta lenta fermentação resulta em um vinho com 16,5% de álcool, incrivelmente sem fortificação. Após esta etapa, mais uma peculiaridade típica da região: o vinho envelhece em barris de castanheira, e permanece nos barris por um período entre 8 e 10 anos, sob flor, em depósitos ventilados e sujeitos às variações de temperatura ao longo dos anos. Diferentemente do que pode ser encontrado a respeito em outras publicações, ele não envelhece em um sistema de soleras, como o Jerez. Ele é um vinho de safra determinada, e sistemas de solera necessariamente misturam safras.

Seu envelhecimento oxidativo lhe deixa com uma cor âmbar de média intensidade. No nariz, é nítida a influência da 'flor', que lhe aporta notas de fermento e massa crua de pão, junto nas características notas oxidadas, que remetem a avelãs e amêndoas torradas. Na boca, ele é seco, mas mostra uma ligeira sensação de doçura, com sabor intenso em que prevalecem os aromas de nariz, mas também aparecem notas de uvas passas. Tem uma sensação de glicerina, típica de vinhos com alto teor alcoólico, sem deixar arder a boca. A acidez é bem equilibrada, e o final deixa um leve amargor, além de uma boa persistência aromática. Ele foi muito agradável servido como aperitivo, e também acompanhou perfeitamente um tiramisu de sobremesa.


Eu o comprei no Sonoma, por R$129,90. Vale muito a pena para quem gosta de conhecer novidades, e principalmente, para quem conhece e gosta dos vinhos de Jerez.

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