Château Jupille-Carillon 2002, Saint-Émilion Grand Cru

Eu acabei comprando este vinho sem querer, querendo. Ele estava sendo vendido no site do Sonoma, no mês de outubro de 2015, e pelas suas características, me interessei: Bordeaux, ainda por cima Saint-Émilion, além disso um Grand Cru - uma classificação oficial dada em função da qualidade do vinhedo - e pra completar, é de 2002, já com 13 anos de idade. Mas inicialmente acabei optando por não comprar, primeiro pelo preço em si, e depois por causa do custo do frete para uma compra pequena (de uma só garrafa).

Mas quando a minha cunhada me pediu a indicação de um vinho top para presentear uma pessoa que gosta muito de vinho, ele logo me veio à cabeça. Como eu não conhecia o agraciado, achei mais prudente sugerir um clássico a um bom vinho exótico, que a pessoa talvez não desse o devido valor. A pedido da minha cunhada, eu mesmo fiz a encomenda da garrafa no site, e coloquei endereço de entrega para Cuiabá, cidade em que ela mora.

O recebimento foi uma novela. O porteiro rejeitou a entrega, e o site de rastreamento dos Correios informava que o pacote tinha sido entregue. Com a confusão dos Correios (cujos serviços caíram muito de qualidade nos últimos anos), a garrafa perdida em trânsito, e minha constante requisição por informações junto à equipe de vendas do Sonoma, eles acabaram me enviando outra. Nesse meio tempo, a equipe de logística da empresa recebeu a garrafa que havia sido recusada, e me ligou para confirmar os dados de envio. Sem saber que se tratava de uma segunda garrafa, eu confirmei os dados, e uma semana depois, minha cunhada havia recebido duas entregas do vinho. Como eu já tinha mesmo vontade de prová-lo, eu optei por ficar com a segunda, e paguei por ela.

Saint-Émilion Grand Cru

O vinho foi produzido em uma propriedade de pouco mais de 10ha, que está nas mãos da família Visage desde 1950. Atualmente está na terceira geração, sob comando de Isabelle Visage, desde 1997. A composição do vinhedo é de 70% Merlot, e 30% Cabernet Franc, e parte das vinhas é classificada como Grand Cru, de onde se originou este vinho. Ele estagia 100% em barris novos de carvalho, 70% francês, 30% americano, entre 10 e 12 meses.

Quem for à página da empresa (Vignobles Visage) talvez possa se sentir confuso, ao ver que o site não apresenta o Jupille Carillon como um Grand Cru (eu, pelo menos, fiquei). Conforme a Mme Visage me explicou por email, a casa possui duas marcas: Château Jupille Carillon, e Château Jucalis, sendo a segunda, mais recente. Como referência, ela costuma rotular a produção Grand Cru como Château Jucalis, mas eventualmente, a pedido do négociant, ela pode rotular parte dela com a marca mais antiga, assim como fez em 2002. Resumindo, ela possui dois vinhos e, seja um ou outro château, é o termo Grand Cru o que indica qual é qual.

Abri o vinho na companhia de Thais e dos pais dela. Verti-o cuidadosamente no decanter, e para minha surpresa, não havia borras. Ele tinha cor rubi intensa, com reflexos café e borda cor granada. É desses vinhos que precisam de um tempinho para se abrirem, e por isso ele foi mudando, e apresentando novas nuances. No início, predomínio de notas defumadas e de couro. Com o tempo, foi mostrando grande complexidade, com chocolate amargo, geléia de ameixa, alcaçuz, grafite, pimenta negra, e eventualmente até mesmo um toque de pimentão vermelho, tudo sempre escoltado por um toque balsâmico. Na boca mostrava uma acidez viva, com taninos intensos e muito finos, muito volume de boca e intensidade, sem nenhuma ponta de álcool sobrando (12%), e final de média duração, mesclando notas defumadas, de chocolate e balsâmicas.

Ele não apresenta um caráter tão frutado, sendo um Bordeaux mais austero, e por isso não agrada a qualquer um (as mulheres não gostaram). Por outro lado, longe de ser pesado, ele não cansa, e permite que o apreciemos vagarosamente, ao longo da noite.