8 de fevereiro de 2016

Sauvignon Blanc Rosé ?!?


A Bodega Lauca, localizada no Vale do Maule, Chile, criou um vinho inusitado: o Lauca Sauvignon Blanc Rosé 2014. Para quem possa estar se perguntando como pode-se fazer um vinho rosé a partir da Sauvignon Blanc, que é uma variedade branca, sem nenhuma pigmentação de cor, informo que na realidade foi utilizada uma pequena quantidade de Carignan, uma variedade tinta, para dar a cor rosé. E como esta quantidade foi muito pequena, a legislação permite que o vinho seja considerado um monovarietal, como se tivesse sido feito unicamente de Sauvignon Blanc.


Eu fiquei curioso para conhecer o resultado, comprei uma garrafa, e abri com os amigos da Nossa Confraria. Porém, eles provaram às cegas, sem saber do que se tratava. A primeira impressão foi um uníssono "goiaba!". O aroma realmente remetia muito a goiaba. Com poucos minutos, logo também se percebia o forte herbáceo característico da Sauvignon Blanc, aquele cat's pee on a gooseberry's bush, bem ardido. Abre parêntesis: a expressão em inglês, que se traduz como 'mijo de gato em um arbusto de groselhas verdes', é uma sátira, mas já foi realmente utilizado para descrever o aroma desta casta; existe inclusive um vinho neozelandês que, por irreverência, foi chamado assim pelo seu produtor. Fecha parêntesis.

Por isso, não foi muito difícil, e o primeiro palpite da turma já foi direto ao ponto: "seria Sauvignon Blanc com alguma variedade tinta pra dar cor?". Exceto pela cor - um belíssimo rosé cor de pêssego, diga-se de passagem - é realmente um vinho com toda a cara de um autêntico Sauvignon Blanc: aroma intenso, com goiaba, maracujá, e o herbáceo característico da variedade, acidez em alta, bem seco, de sabor intenso, e álcool discreto.


Os vinhos da Lauca são importados pela Mercovino; e eu comprei esta garrafa na loja Excelência Vinhos, em Campinas, por R$44 (antes dos reajustes causados pelos aumentos cavalares nas alíquotas de impostos). Mas ela também pode ser encontrada a venda em alguns sites da Internet.

3 comentários:

  1. Muito interessantes as coisas que se descobre sobre vinhos...

    Acho que a percepção olfativa de goiaba que você relatou pode ser bem próxima à de maracujá em determinados casos. Vou manter o nariz calibrado para meus próximos Sauvignon Blanc!

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    1. Edward,
      demorei a responder porque estive tentando pesquisar um pouco a esse respeito.
      Encontrei uma apresentação bem interessante a respeito do assunto, porque mesmo sem ser químico, consegui entender alguma coisa.

      Aromas de goiaba, folha de tomate, e maracujá são causados por distintas substâncias do grupo tiol. Esses tióis, assim como outros, estão presentes na Sauvignon Blanc, porém 'encapsulados', isto é, presos dentro de outras substâncias (chamados precursores inodoros). Na fermentação, as leveduras quebram os precursosres inodoros, liberando os tióis.
      Também é interessante que é possível manipular a quantidade de um ou outro tiol em função de técnicas de cultivo e vinificação. Por exemplo, o tiol da goiaba (tiol vegetal/ pirázico) se exprime mais quando a maturação é menor, e o tiol de frutos exóticos, do maracujá, é maior quando a maturação é um pouco maior. E se seguir para uma sobre-maturação, caem as concentrações dos dois tipos de tiol. Outros fatores, como maior stress hídrico no cultivo, favorecem o aroma de maracujá em vez do aroma de goiaba.

      A apresentação foi feita por uma empresa expecializada em produtos enológicos, chama Enotext. Baixe aqui o arquivo para consulta.

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    2. Olá, Rodrigo.
      Muito boa a informação, já vou baixar o arquivo. Obrigado por compartilhar o link!

      Sua explicação sobre o tióis faz todo o sentido, principalmente porque os aromas dos Late Harvests que já provei feitos a partir de Sauvignon Blanc (todos foram de SB até agora, hehehehe) nada tinham em comum com os aromas que se espera de um SB normal.

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