27 de agosto de 2016

Querciolaia 2007 Maremma Toscana

Eu ganhei este vinho de presente de aniversário, e logo surgiu uma ocasião em que ele foi o escolhido: acompanhar um arroz de pato feito pela Thais. Escrevi a respeito da harmonização no texto anterior (clique aqui para ler), mas senti a necessidade de dedicar um texto exclusivo ao vinho.


O Querciolaia 2007 é produzido pela Fattoria Mantellassi, uma vinícola estabelecida em 1960, no sul da Toscana. O vinho é produzido com uvas da região de Maremma Toscana, que desde 2011 é um Denominação de Origem (DOC). No entanto, como a garrafa que ganhei era de safra anterior (2007), ele foi classificado como IGT. Ele é 100% Alicante, e envelheceu entre 13 e 16 meses em barricas.

Legado espanhol

A DOC Maremma Toscana[*] está inserida dentro de uma área geográfica conhecida mais genericamente como Maremma, que engloba o litoral sul da Toscana, e norte do Lazio. O nome vem do espanhol Marisma, um termo que se refere a áreas litorâneas pantanosas, invadidas pela água do mar. Isso porque parte desse litoral consistia de pântanos, que foram drenados no passado (primeiro pelos etruscos, depois pelos romanos, e finalmente, na década de 1930, durante o governo Mussolini). Porém, hoje a área conhecida como Maremma também engloba terras mais afastadas da costa, incluindo até mesmo algumas colinas.

O nome de origem espanhola vem do período em que a região fez parte do Stato dei Presidi, uma possessão da Coroa Espanhola, no período entre 1557 e 1707. E o nome da DOC não foi a única herança que os espanhóis deixaram nos vinhos. Assim como fizeram em outras partes do Mediterrâneo, eles plantaram na região a Garnacha, que também é conhecida como Alicante [**][***]. É uma variedade relativamente secundária (a Sangiovese é a mais cultivada), ainda assim, está razoavelmente difundida, sendo cultivada por diversos produtores. E como está na região há séculos, hoje é tida como autóctone.

Obs: alguns autores escrevem que a uva deste vinho se trataria da Alicante Bouschet, que é um cruzamento de Grenache com Petit Bouschet, criado no ano de 1866. Porém, considerando as versões do produtor e de outras fontes italianas, creio ser um equívoco. Todos deixam claro: a Alicante é a mesma Garnacha da Espanha, Grenache da França, e Cannonau da Sardenha; e é cultivada no litoral da Toscana desde mais de 2 séculos antes de existir a Alicante Bouschet.


O vinho

Ao abrir o vinho, a rolha estava embebida a até 3/4 de sua altura, o que já é um sinal de atenção. Mas não apresentava nenhum problema. A evolução era esperada, visto que se tratava de um vinho com 9 anos. Cor granada, já apresentando um pequeno halo aquoso, e nenhum depósito.

Coloquei-o no decanter, antes mesmo de prová-lo, e o deixei por aproximadamente uma hora. Mostrou bastante complexidade, pleno de notas de evolução: frutas passas (como ameixas e tâmaras), além de mentol, fumo, um toque de couro, bálsamo e amêndoas. Era encorpado, sem exagero, com ótima acidez, que domava bem o álcool, mas os taninos eram um pouco ásperos. Os aromas de boca traziam muito mais fruta que o nariz, mas também um pouco de mentol, fumo e bálsamo; e o longo final trazia chocolate amargo junto ao bálsamo.

Se mostrou um belo vinho, porém bateu de frente com o pato (e perdeu). Por isso, tomei muito pouco na hora do almoço, e voltei com ele para a garrafa. E nos dias seguintes, pude apreciá-lo em mais duas ocasiões, antes que a garrafa terminasse: uma beleza de vinho.

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