Cirò
Apesar de ter uma tradição tão longa quanto qualquer outra região italiana, a Calábria não é muito conceituada. Região mais pobre da Itália, particularmente rural, pouco desenvolveu sua vinicultura nas últimas décadas, sendo limitada ao consumo local. Espremida entre os mares Jônico e Tirreno, possui terreno muito montanhoso, de solos pobres e rochosos, e um clima escaldante no verão. As águas marítimas possuem efeito termo-regulador, que ameniza as temperaturas de verão, e por isso a produção vinícola se concentra em regiões próximas ao mar.Provavelmente o que eles têm de maior renome seja a Cirò, uma pequenina DOC situada em encostas montanhosas voltadas para o Mar Jônico. Apesar de também incluir vinhos brancos e rosés, a produção principal é de tintos feitos da uva Gaglioppo (como de costume, a cada nova região da Itália, descobrimos uma nova variedade).
A Gaglioppo é cultivada em outras regiões da Itália, mas os vinhos de Cirò são considerados os melhores exemplares. As descrições sobre sua tipicidade se dividem entre taninos tímidos, ou a opinião do produtor, de que são intensos. Eu, particularmente, achei que tinha baixa intensidade, porém eram algo rugosos, de forma que se faziam notar bastante. Em comum, dizem que tem aromas intensos, com muitas frutas vermelhas, e notas florais. Ela costuma se adaptar bem em climas secos e quentes, como o da Calábria, no entanto, são precisos certos cuidados para impedir que desenvolva aroma muito intenso de fruta cozida. As melhores vinhas são cultivadas em maiores altitudes, para que o frio da noite diminua a velocidade da maturação. Caso contrário, devem ser colhidas um pouco antes do tempo.
Liber Pater
A vinícola Cantine Ippolito, localizada na comuna de Cirò Marina, foi fundada por Vicenzo Ippolito em 1845. É a mais antiga da Calábria em operação. Hoje, na quinta geração da família, possui 100 hectares de vinhas contabilizando os vinhedos em Cirò e outras áreas da Calábria. Eles nomearam seu vinho mais icônico de Liber Pater, que no início da mitologia romana era o nome do deus do vinho, da fertilidade (da terra e das mulheres), das orgias e dos excessos. Com o passar do tempo, este deus foi sendo substituído por Baco.A DOC Cirò engloba um punhado de comunas ao redor de Cirò, mas as uvas provenientes das comunas de Cirò e Cirò Marina recebem a menção de Classico. O Liber Pater Cirò Rosso Classico Superiore é 100% Gaglioppo, proveniente da área clássica, como se infere pelo nome. Além disso, o vinho recebe também a distinção Superiore, que define um teor alcoólico mínimo de 13,5%.
As vinhas mais velhas são conduzidas em formato alberelo alto, que significa em forma de arbustos, o que protege um pouco mais os frutos do calor excessivo do verão. As mais novas estão conduzidas em espaldeira, que facilita a mecanização. De acordo com a ficha técnica, o vinho passou por longa maceração com as cascas (sem precisar quanto tempo), e após a fermentação, estagiou por 8 meses em barricas de carvalho francês.
Apesar do 'longo' tempo de maceração, é um vinho de cor pálida, de tonalidade rubi, bem jovial e brilhante. O forte é seu aroma, intenso, de geléia de frutas vermelhas, notas florais e sutis notas de especiarias (provavelmente remetendo à barrica). Tem corpo de médio a leve, acidez adequada, e é recomendável estar ligeiramente refrescado (16ºC) para que o álcool não se destaque. Os taninos, como havia dito, de baixa intensidade, porém um pouco rugosos, de forma que apareciam com um pouco de destaque, mas não incomodavam.
Em linhas gerais, foi um vinho que não esconde que veio de um clima quente, porém feito para ser bebido de forma descompromissada. Com certo exotismo, agradou dentro de sua tipicidade. Para quem tiver interesse, ele está disponível no Vinhosite.
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