Um espaço onde relato minhas experiências no mundo dos vinhos.
E eventualmente, também experiências relativas a outras bebidas.
14 de janeiro de 2017
Montes Vendimia Tardia Gewürztraminer 2013
Na colheita tardia, as uvas secam no pé, perdendo água, e concentrando açúcar. Mas além de perder água, o processo de maturação segue normalmente, e a uva também perde acidez, e os aromas evoluem para geléias e frutas ressecadas. Já na botrytização - em que as uvas são atacadas pelo fungo botrytis cinerea - o resultado é diferente, já que a uva perde água mais rápido, os ácidos não se transformam; e o resultado final é que a concentração de ácidos também aumenta, assim como a de açúcar. E isso faz com que os vinhos feitos dessas uvas 'estragadas' sejam muito valorizados.
Os Tokaji da Hungria, os Sauternes franceses e os Beerenauslese alemães são os principais exemplares desse estilo de vinho de sobremesa, com preços inflacionados pelas suas respectivas famas. Mas é claro que tem gente querendo abocanhar uma parte desse mercado, tentando reproduzir esse efeito em outras partes do mundo. No Chile, por exemplo, a Viña Montes, no Valle de Curicó, produz o Montes Vendimia Tardia Gewürztraminer. A importadora Mistral importa os vinhos dessa vinícola, porém já faz algum tempo que esse vinho está indisponível. Mas eu consegui encomendar uma garrafa direto do Chile, para matar a minha curiosidade a respeito do vinho. Comprei uma meia-garrafa de 2013, que era a última safra lançada no momento da compra.
Esperei pouco tempo por uma oportunidade adequada para abrir o vinho. Uma certa noite, fizemos em casa um lanche especial, com pão, patê de gorgonzola, geléia de figo e queijo maasdam. Achei que o vinho iria bem - principalmente com o gorgonzola, por contraste, e com a geléia de figo, por afinidade.
A Gewürztraminer não costuma dar muita acidez aos seus vinhos; mas eu esperava que a botrytização compensasse essa deficiência, motivo pelo qual eu esperava um vinho mais fresco e vibrante; mas não é o caso. Trata-se de um Colheita Tardia de estilo bem concentrado, bem doce, de cor dourada intensa, e aroma também intenso, com frutas compotadas, mel, e um leve cítrico, na forma de geléia de laranja. Não senti nenhum caráter varietal da Gewürztraminer, e também não identifiquei o aroma típico de botrytis. Na boca, é encorpado, até ligeiramente untuoso, devido à concentração de açúcar. Ele é bem doce, de sabor intenso, e média acidez.
A combinação com a geléia e o gorgonzola foi perfeita. No entanto, ele passou por cima do queijo maasdam. No geral, foi uma experiência interessante, mas eu não compraria este vinho novamente.
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