18 de março de 2017

Revisitando o Banyuls de M. Chapoutier

É incrível como a nossa impressão sobre um vinho pode mudar tanto em safras e ocasiões diferentes. Há um par de anos, provamos em minha confraria o Banyuls 2009 de M. Chapoutier. Na ocasião, achamos com unanimidade se tratar de um vinho extremamente enjoativo, muito doce, deficiente em acidez, e com aroma forte de jabuticabas. Fortemente rejeitado, foi escolhido o pior da noite.


Contextualizando

Para quem não conhece, Banyuls é uma denominação de origem localizada na fronteira entre a França e a Espanha. É uma DOP exclusiva de vinhos fortificados doces - chamados de Vin Doux Naturels - compostos majoritariamente de Grenache. Banyuls está localizada no litoral, e seus vinhedos estão plantados em terraços construídos sobre solos compostos de xisto, nas encostas da extremidade oriental dos Pirineus, de cara para o Mediterrâneo. O xisto retém o calor do sol, intensificando a maturação das uvas - ou, nas palavras de Chapoutier, cozinhando as mesmas, intensificando sua doçura [*].

Michel Chapoutier é um grande nome da vinicultura francesa. Original do vale do Rhône, é provavelmente o mais importante produtor daquela região. E seu sucesso financeiro o levou a expandir sua atuação para o Roussillon, além de Austrália, Portugal e Estados Unidos. Entusiasta da agricultura biodinâmica, ele converte todas as propriedades que adquire.

Seu Banyuls é composto de 90% Grenache, com 10% Carignan. De estilo moderno (em Banyuls, chamado de rimage [*]), a fermentação ocorre em contato com as cascas, sendo interrompida com a adição de aguardente vínica. Essa fortificação ocorre em um momento mais avançado da fermentação, conservando menos açúcar que outros exemplares dessa DOC. O vinho ainda permanece por mais um período em contato com as cascas, para extrair mais taninos e aromas. Em seguida, ele estagia por 16 meses, em tanques inox, totalmente protegido de qualquer contato com o oxigênio (ambiente redutivo), para manter caráter predominantemente frutado.


Revisitando

Este mês, o Banyuls cruzou novamente o meu caminho - desta vez, na safra 2011 - e ele me surpreendeu. Em vez daquele xarope enjoativo, me deparei com um vinho delicado, equilibrado, com aroma bem mais fresco (tendia mais às frutas vermelhas em calda que ao licor de jabuticaba), e acidez adequada. Os taninos são perceptíveis, porém agradáveis, e ainda mais amenizados pelo açúcar e álcool. Independente de ser uma turma diferente, dessa vez, ele foi eleito o melhor da noite. Uma bela reviravolta!

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