π - a constante matemática definida pela razão entre a circunferência e o diâmetro de um círculo, é o nome desse vinho. O Pi - 3,1415 é produzido pelas Bodegas Langa, vinícola familiar com atuação na região de Aragón, norte da Espanha, e que neste ano de 2017 completou 150 anos. O nome faz referência ao vinhedo que o origina, que tem 3,14 hectares; e o rótulo - nerd, porém criativo - é rodeado por algumas centenas de dígitos que correspondem à constante π - 3,141592653589...
A curiosidade atrai a atenção dos amantes das ciências exatas (veja, por exemplo, aqui e aqui). E a vinícola aproveitou a oportunidade, promovendo um dia de atividades no dia do π, que começou com um seminário matemático a respeito do número, seguido de degustações com seus vinhos, e finalizado com um concurso de teste de memória a respeito das casas decimais de π.
Mais especial que o tamanho do vinhedo e sua coincidência matemática, é a sua composição: vinhas de mais de 90 anos, de uma variedade à beira da extinção, conhecida por Concejón ou Moristel. Essa variedade, encontrada apenas em algumas áreas de Aragón, é tradicionalmente usada em blends, para aportar cor. Mas as Bodegas Langa viram nesse vinhedo potencial para produzir um monovarietal de grande estirpe. Além disso, ele está plantado em solos pedregosos entre 900 e 1000 metros de altitude - entre os vinhedos mais altos da Europa, e fora de qualquer denominação de origem.
Quem importa o vinho no Brasil é a Wine, mas as remessas são pequenas e a procura é grande, e ele sempre se esgota rápido. Eu comprei duas garrafas do Pi 2008, há quase um ano, por R$82 cada.
A primeira que abri, me pareceu um vinho elegante, com boa estrutura, e evoluído. Por isso, não quis guardar a outra por muito mais tempo. Porém, quando abri a segunda, fui pego de surpresa. A cor violácea que tingiu as paredes da taça já dava a entender que não tinha nada a ver com o outro, e que com 9 anos, ele ainda era uma criança. Encorpado, denso, com uma estrutura nervosa, certamente foi aberto muito cedo, e se beneficiaria de muita aeração.
Quando abro um vinho assim, sem estar preparado para aerá-lo, eu guardo de volta na adega, sem me preocupar em protegê-lo do ar. Pelo contrário, espero que o ar que entrou na garrafa faça aquilo que faria no decanter, só que mais lentamente: uma longa aeração.
Depois de 3 dias, o vinho estava já bem melhor: plena estrutura, a mesma cor violácea, taninos ainda intensos, mas já mais agradáveis. Ainda tinha uma ótima acidez, bom corpo, e boa complexidade de aromas: geléia de frutas negras, chocolate amargo, especiarias, um toque terroso, e algo balsâmico. Mas poderia melhorar ainda mais. Tomei só mais um pouco, e com 5 dias, abri de novo: estava fenomenal. Ainda mantinha o frescor e a intensidade aromática, e o corpo e taninos tinham amenizado mais um pouco. Estava no ápice.
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