8 de outubro de 2017

Bacalhôa Moscatel Roxo 2002

Há três anos, tive a oportunidade de degustar o Moscatel Roxo 1998 da Bacalhôa, durante um curso de vinhos portugueses. Desta vez, eu pude tomar o vinho (e não apenas degustar), e apreciando-o mais profundamente. A garrafa me foi trazida sob encomenda por um amigo que visitou Portugal, e a compartilhei em um jantar. Tratava-se do Bacalhôa Moscatel Roxo 2002; 4 anos mais novo do que aquele do curso. Mas as impressões foram as mesmas.


A Moscatel Roxo é uma mutação da Moscatel de Alexandria, que teria ocorrido naturalmente na região de Setúbal. Ela é mais rosada do que propriamente roxa, tendo pouca matéria corante. Com ela, se produz um vinho fortificado com a DO Moscatel de Setúbal, seguindo o mesmo processo que se seguiria com a versão branca. E por ser uma variedade pouco comum, ela é normalmente usada em exemplares de categorias superiores, com grande período de envelhecimento, como é o caso deste.

No processo de produção do Moscatel de Setúbal, o vinho é colocado a fermentar com as cascas, mas a fermentação é logo interrompida, adicionando-se aguardente vínica. Com isso, o vinho conserva uma grande concentração de açúcar. Ele é mantido em contato com as cascas durante todo o inverno, quando finalmente é sangrado (separado das cascas), e colocado em barris.

No caso desse exemplar, foram usados barris de whisky, onde ele permaneceu por um período entre 8 e 10 anos, perdendo 10% do volume por ano por evaporação (de água e álcool), ficando cada vez mais concentrado. Além disso, os armazéns propositalmente têm grande amplitude térmica, intensificando a oxidação característica desses vinhos.

Pelo menos na pouca experiência que tenho, não posso perceber o quê a variedade roxa traz de diferente ao vinho, em comparação à variedade branca. Não creio que colocando lado a lado dois exemplares de qualidade equivalente, seja possível identificar qual é um, e qual é outro.

A cor é âmbar, resultado da oxidação ao longo dos anos; e a variedade roxa não deixa o vinho mais escuro. Os aromas são os mesmos: as duas variedades são muito aromáticas, com intensas notas florais e cítricas. Com a oxidação, esse aroma se transforma em casca de laranja cristalizada, mel e damascos secos, que se somam a notas de amêndoas tostadas. No sabor, como é típico dos Moscatéis de Setúbal, a concentração provocada pelos sucessivos anos envelhecimento traz uma grande doçura (186g/L), equilibrada por uma acidez incrível, que não deixa o vinho ficar enjoativo. Pelo contrário, não dá vontade de parar de beber, e de ficar sentindo o aroma da taça.

É um vinho memorável, e em Portugal tem um preço bastante acessível: €22,20, comprando-o na Garrafeira Nacional. Conheço a loja física, e a recomendo a quem for a Lisboa: inclusive, essa garrafa foi comprada lá. A propósito, eles dizem que despacham para o Brasil, só que nunca testei, e não sei como é o desembaraço na Receita Federal.

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