Após um couvert e uma salada também incluídos no preço, o cardápio daquele sábado continha: penne ao molho de gorgonzola; gnocchi recheado e gratinado, ao molho rosé; bisteca suína reduzida em seu molho acompanhado de canjiquinha com agrião; e cartoccio (papelote) de salmão acompanhado de legumes grelhados no azeite.
Como era sábado, resolvi pedir um vinho. Da outra vez, eu já tinha visto na carta do restaurante o Covela Rosé. Por isso, dessa vez nem olhei a carta. Confirmei se tinham, e com ele fui.
Covela
A Quinta de Covela é um produtor de grande reputação da região do Minho, norte de Portugal. Com uma história que remete ao Século XVI, a propriedade é famosa por ter pertencido a Manoel de Oliveira, importante cineasta luso. Na década de 1980, foi adquirida por um empresário, que criou a marca Covela e fez muitos investimentos na vinha. Os vinhos ganharam sua boa reputação, mas dificuldades econômicas levaram a posse da propriedade a um banco, que em total descaso, demitiu a equipe em 2009, deixando-a em total abandono.Em 2011 o abandono acabou, tendo sido adquirida pelo empresário brasileiro Marcelo Lima e o jornalista britânico Tony Smith, amigos que buscavam iniciar um negócio no mundo do vinho. Recontrataram a mesma equipe que havia sido responsável pela fama dos vinhos, e reergueram a propriedade, alçando-a novamente ao seu destaque. Para conhecer um pouco mais de sua história recente, recomendo a reportagem do site português Fugas: O brasileiro, o britânico e a quinta de Manoel de Oliveira
A propriedade de 49ha, com 18 plantados de vinhas, se localiza na sub-região de Baião, quase na divisa entre a região dos Vinhos Verdes e do Douro. A produção de brancos e rosés predomina com 90%, sendo o Vinho Verde Avesso seu 'cartão de visitas'.
Gastronômico
Apesar de produzido na região dos Vinhos Verdes, o Covela Rosé 2015 é um Vinho Regional do Minho. Diferentemente dos Vinhos Verdes, ele não possui agulha. Ele é 100% Touriga Nacional, proveniente de colheita manual, e vinificado com curta maceração, para se obter um vinho rosado bem claro e elegante. No aroma predominam frutas vermelhas frescas, acompanhadas de um toque cítrico e floral. O corpo é leve, mas nem tanto, com bom volume de boca, muito frescor, sem doçura, nem amargor. Um vinho gastronômico.Quando digo gastronômico, me refiro a um vinho versátil, capaz de acompanhar sem problemas uma grande diversidade de pratos. Um só vinho que possa acompanhar uma seqüência de pratos distintos. E o Covela foi quase perfeito nesse quesito: acompanhou da salada à bisteca, passando pela massa com gorgonzola, a canjiquinha e os legumes grelhados.
A única ressalva foi o salmão. É engraçado, que 99 em cada 100 sommeliers vão dizer que vinho rosé vai bem com salmão. Já li até que seria a harmonização perfeita, "porque ambos são rosados". Gosto não se discute, mas pra mim, a combinação resultou em um gosto metálico desagradável. Dizem que isso ocorre por uma reação entre taninos e iodo. Não sei se salmão tem iodo, mas é dos alimentos mais suscetíveis a causar gosto metálico.
Mas a culpa não é do vinho, nem da comida: é de quem escolheu, no caso, eu. E independente de não ter ido bem com o salmão, é um vinho gastronômico. E no final, finalizei com um pouco mais de gnocchi. Se coubesse algo mais, pegaria um pouco mais de bisteca, mas não convinha...
Na minha modesta opinião de cinéfilo os filmes de Manoel de Oliveira são *insuportáveis*, e não me surpreenderia nada com o fato dele ter afundado uma propriedade vinícola com (num paralelo frouxo com o mundo do cinema) seu desleixo disfarçado de arte.
ResponderExcluirDe qualquer forma é bom saber que a propriedade se reergueu.
Já vi um Covela à venda por aqui, se cruzar de novo com ele levarei para casa.
Eu tenho que confessar que não conheço nenhum filme dele. Quanto aos vinhos, ele nunca chegou a explorar comercialmente.
ExcluirCaso encontre, recomendo que compre para provar, e fique tranqüilo, pois não há nenhum desleixo na produção deles; já provei de todos em feiras. Não deixe de provar também o Avesso, que é seu vinho mais emblemático.
E aproveitando o comentário da Daniele, logo abaixo, é possível comprar diretamente da importadora, a Winebrands.
Covela Rosé está aí:
ResponderExcluirhttp://www.winebrands.com.br/vinho-rose-quinta-de-covela-2015/p
Obrigado Rodrigo pelo belíssimo post. A equipe Covela ficou muito feliz com esse seu artigo. Edward, de facto o Manoel de Oliveira nunca explorou a produção de vinho. A marca foi criada no início dos anos 90 por um empresário Português.
ResponderExcluirUm abraço a ambos!
Fico feliz que gostaram, Vitor! Um abraço!
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