Em 2013, eu comentei en passant a respeito do Enira 2008, vinho produzido pela vinícola Bessa Valley, do Vale da Trácia, Bulgária. Eu guardei desde então um certo arrependimento por não lhe ter dedicado um texto exclusivo, pois ele certamente merecia. Dentre tantos bons tintos que provei da Bulgária esses anos, ele está entre aqueles que entregam muito mais do que custam.
Cada safra desse vinho é única, pois a cada ano, as proporções de cada variedade de uva variam, de acordo com o que a natureza ofereceu - aliás, como costuma ocorrer com grandes vinhos. Em 2008, por exemplo, ele teve partes importantes de Merlot e Syrah (48% x 40%); já em 2009, a Merlot dominou o blend (66%), enquanto a Syrah teve participação mais modesta.
O Enira 2009 foi composto de Merlot (66%), e pequenas quantidades de Syrah (12%), Cabernet Sauvignon (10%) e Petit Verdot (12%) - as 4 variedades cultivadas pela vinícola. Elas fermentaram em tanques de concreto, entre 8 e 10 dias, com adicionais 5 a 8 dias de maceração pós-fermentativa; e finalmente o vinho foi colocado para estagiar por 12 meses em barricas de carvalho usadas, sendo 90% de 2 ou 3 usos.
Eu levei uma garrafa no final do ano passado, em um jantar com amigos no restaurante D'Autore, e só arrancou elogios. Tinha cor rubi atijolada, halo aquoso bem destacado e sem depósitos. No nariz, os aromas terciários predominavam, com muito balsâmico, ameixa seca, licor, especiarias (anis, pimenta), leve mentolado, e notas tostadas. Na boca, tinha corpo médio, álcool bem integrado, taninos atenuados pela idade, ótima acidez, e longa persistência. Eu pedi carré de cordeiro com um purê de amêndoas, e o vinho foi na medida certa para o prato.
Essa garrafa já tinha 8 anos no momento do consumo, e por isso o vinho estava bem mais evoluído do que aquela de 2008 (que foi consumida com 5 anos). Eu diria que a safra 2009 está no auge, e vale tanto a pena, que já esgotou na importadora (Winelands), mas certamente novas safras estão por vir.
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