28 de fevereiro de 2018

Grande Vidure

Quem me conhece sabe que não sou fã da Carmenère. De todas as uvas da família (as Cabernets e Merlot), a Carmenère é a que mais tem gosto de pimentão. Eu ainda estou para provar um Carmenère que não tenha gosto de pimentão bem presente. Pode ser mais verde, mais vermelho, mais defumado, mas sempre está lá, o característico sabor da pirazina (o nome da substância que dá gosto ao pimentão).


Em viagem pelo Chile, eu não fiz nenhuma questão de provar nenhum Carmenère. E ainda bem, há bastante alternativas: Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Carignan, Syrah, Cinsault, Pinot Noir, e eventualmente, outras coisas mais inusitadas. É bem verdade que, no caso do Chile, até os Merlots podem ter gosto de pimentão. Afinal, a Carmenère passou 150 anos no Chile, despercebida em meio a vinhas de Merlot. E apenas em 1996, ela foi identificada. Imagino que ainda haja alguns vinhedos de Merlot com umas Carmenères infiltradas.

Uma noite, entramos em um restaurante em Puerto Montt, e não estávamos com fome, queríamos apenas bebericar algo para relaxar. Meu pai quis tomar um tinto, e procurei algo legal na carta, entre um punhado de 'varietais', meia dúzia de brancos, e meia dúzia de blends - estes pareciam ser as melhores opções. Eu escolhi inicialmente um Vigno, mas infelizmente, este não tinha em estoque. Então, fui naquela que parecia ser a segunda opção mais interessante: um Carmen Gran Reserva, num corte de Cabernet Sauvignon e uma tal Grande Vidure. Era uma safra recente, 2015.

Era um vinho encorpado, sem ser pesado, com álcool um pouquinho proeminente, mas a noite estava fresca. No aroma, um pimentão evidente, defumado pelo tempo em madeira, com outras notas empireumáticas, e frutas bem maduras. A acidez não era emblemática, mas dava pro gasto. Não era o meu tipo de vinho, mas meu pai gostou tanto! O principal era isso, o momento em família; e quando acabou a primeira garrafa, ¿para quê trocar, se esse está tão bom? - disse meu pai. Ao final, matamos 2 garrafas.

E como é possível deduzir, Grande Vidure é um sinônimo - em desuso - da Carmenère. E foi exatamente na Viña Carmen, em 1996, que ela foi identificada, e desde então, adotada pelo Chile como sua uva mais emblemática. O Viña Carmen Gran Reserva Grande Vidure Cabernet Sauvignon, passou a ser produzido desde aquele ano, como uma espécie de tributo a esse evento.

Independente de gostar ou não, foi o Carmenère mais memorável que já tomei.

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