Eu ainda não havia tido a oportunidade de provar o famoso Vinsanto. O mais perto que havia chegado foi há alguns anos, quando meus pais visitaram a ilha, e trouxeram uma garrafa na mala. Só que ela se quebrou. Até que, no final do ano passado, enquanto procurava vinhos tintos gregos para montar um painel de degustação (reveja aqui), encontrei no site Freeway E-Commerce o Santo Wines Vinsanto 2010, e aproveitei o frete para encomendar uma garrafa. Tanto a vinícola Santo Wines, que produz o vinho, quanto o site de e-commerce aqui no Brasil pertencem ao grupo Tsántali, uma das maiores empresas vinícolas da Grécia.
As uvas para produção do Vinsanto são colhidas manualmente, de vinhas de até 60 anos de idade. Vale lembrar que o clima severo da ilha exige uma forma de plantio muito especial, em que os galhos das vinhas são conduzidos em circular, para proteger o cacho de uvas do sol e do vento. O rendimento é muito baixo, resultando em uvas muito concentradas. Elas são, após colhidas, deixadas ao sol para secar por mais 8 a 10 dias, para se concentrarem ainda mais.
Foto original: Flickr |
O mosto extraído da prensagem é tão concentrado que as leveduras têm dificuldade de trabalhar, e por isso a fermentação é lenta, levando até 40 dias. E quando ela se interrompe, o vinho ainda contém uma imensa quantidade de açúcar: 285 g/L. Para se ter uma idéia, isso é mais do que o dobro de um vinho do Porto. E diferentemente deste, o Vinsanto não é fortificado, e por isso mantém um teor alcoólico de apenas 11%. A acidez, por outro lado, é muito alta (8,9 g/L de ácido tartárico), garantindo o equilíbrio para a imensa doçura. Finalmente, após a fermentação, o vinho matura por ao menos 3 anos em barris de carvalho, antes de ser engarrafado.
É um vinho doce de características oxidativas, com cor castanha com reflexo ruivo, e aromas intensos que lembram ameixas e tâmaras secas, além de amêndoas, avelãs e especiarias, como canela e cravo. Apesar do alto teor de açúcar, a intensa acidez sempre faz salivar pelo próximo gole, e a persistência aromática é muito longa, como costuma ocorrer com vinhos desse estilo.
Só fui abrir o vinho agora em fevereiro, em um almoço com a turma da Nossa Confraria. Haviam duas sobremesas: a primeira foi um pudim de tapioca com coco, e o vinho acompanhou com perfeição. Mais difícil foi a torta de cupuaçu com chocolate, em 4 camadas (geléia de cupuaçu, creme de cupuaçu, chocolate meio amargo, e chocolate ao leite). É um grande desafio achar um vinho que consiga se equilibrar entre o amargor do chocolate e a acidez do cupuaçu, mas creio que só um vinho intenso e de características oxidadas como esse, poderia se aproximar.
Não foi uma harmonização perfeita, mas independente disso, o vinho é muito bom. E o preço também é atrativo, por apenas R$95, no site da Freeway E-Commerce.
- Para se aprofundar nos vinhos do país, leia: Dos vinhos da Grécia
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