11 de abril de 2018

Villalobos Carignan Viñedo Silvestre 2014

Vinhas velhas de Carignan no Chile, que foram abandonadas no passado, mas têm sido resgatadas na última década, estão mais associadas ao Vale do Maule, como comprova o projeto Vigno. Mas o vinhedo silvestre de Enrique e Rita Villalobos são uma exceção à regra: plantado entre as décadas de 1940 e 1950, na zona costeira do Vale de Colchagua, o vinhedo passou 60 anos abandonado. Os 4 hectares de vinhas foram tomados pelo mato, e pela mata; e as videiras sobreviveram e cresceram sem intervenção humana, em meio à vegetação.


O vinhedo está a 30Km do mar, em zona de secano (como os chilenos se referem a vinhedos sem irrigação). A chuva, concentrada no inverno, é suficiente para manter as plantas durante o resto do ano. No verão, a temperatura pode variar de 30ºC a 10ºC entre o dia e a noite. O ecossistema formado dispensa tratamentos fitossanitários, e a 'poda' está a cargo dos cavalos.

A propriedade de Villalobos está em um lugar chamado de Valle de los Artistas [*], uma propriedade convertida em uma espécie de coliving de artistas, que trocaram parcelas de terrenos por obras de arte. Enrique e sua mulher, que vivem da arte, nunca tinham produzido vinhos, mas foram convencidos por um amigo e em 2008 resolveram se aventurar no ramo. Conta com amigos e familiares para se embrenharem no mato para colher as uvas.

O vinho fermenta com leveduras nativas, e sem nenhuma espécie de correção química. Estagia 12 meses em barricas de carvalho francês (que imagino sejam reusadas muitas vezes), e posteriormente é decantado por gravidade, para eliminar a borra, sem filtração. Tanto o equipamento usado na vinificação quanto o rótulo foram desenhados por Enrique.

Eu tomei conhecimento deste vinho pelo blog da Lis Cereja, a maior divulgadora de vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos, no Brasil. Creio que ele já seja importado no Brasil, mas a minha garrafa veio do Chile. Como um vinho leve, fresco e sem muita adstringência, ele pode ser servido um pouquinho mais frio do que outros tintos, sendo uma ótima pedida para um tinto em um dia mais quente.


Ao vertê-lo na taça, ele mostrava uma cor rubi de baixa intensidade. O nariz era modesto, mas fresco e complexo. Aos tradicionais aromas de frutas vermelhas, flores e especiarias, se somavam notas 'pouco usuais' para os vinhos industriais a que normalmente estamos mais acostumados (mas que costumam ocorrer em vinhos 'naturebas'): desde o início, tinha uma nota bastante nítida de giz, e com o tempo, passou a lembrar também casca de laranja. Na boca, era leve, com álcool discreto, e taninos leves e ao mesmo tempo algo rústicos, o que até lhe dava uma graça a mais. Um vinho bem legal, que vale a pena conhecer.

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