Este ano, aproveitei algumas oportunidades para comprar umas garrafas. É que a Winelands importou 3 rótulos diferentes de vinhos laranjas; e apesar de custarem mais de R$300 cada um, em diferentes oportunidades eles entraram na seleção 'Top do mês', oferecidos por R$100 para membros do clube.
Laranja da Bulgária
Um deles foi o Maryan Orange Barrel Fermented 2016. Ele é produzido pela Maryan, vinícola recente, fundada em 2010, e localizada na cidade de mesmo nome, aos pés dos Bálcãs, e não muito longe do Mar Negro. Ela foi fundada pelo casal de advogados Ilia e Svetla Ivanov, que são auxiliados pelos filhos, e pelo enólogo Stefan Choranov, em uma pequena produção que atualmente alcança 25 mil garrafas ao ano. Para conhecer um pouco mais a respeito da vinícola, recomendo a leitura do texto The story behind Maryan Winery, escrito por um dos filhos do casal, Vladimir.O vinho é produzido por uma uva típica da Bulgária, chamada Dimyat, que apesar de ser a variedade branca mais cultivada do país, ela é em geral considerada de baixa qualidade, gerando vinhos simples, sem estrutura, sendo usada principalmente em corte de vinhos de mesa, ou para destilação [*]. Mas a família Ivanov tem uma visão diferente desta variedade, tanto que além deste laranja, eles produzem outros 2 vinhos brancos 100% Dimyat, incluindo fermentação e estágio em barricas.
Sendo um vinho laranja, o Maryan Orange Barrel Fermented 2016, é fermentado com as cascas, mas a ficha técnica não explicita por quanto tempo o vinho permaneceu em contato com elas. O que a ficha informa é que foi fermentado e estagiou por 5 meses em barricas novas de carvalho francês.
Prova e harmonização
Se já tive poucas oportunidades de provar vinhos laranjas, ainda não tinha testado harmonizações. Para uma primeira tentativa, escalei o vinho para um almoço de domingo com amigos no restaurante D'Autore. Como eu nem tinha provado dele ainda, fiquei em dúvida de qual prato ficaria mais interessante, e optei pelo atum selado, servido com purê de batatas com raspas de limão siciliano, aïoli de gengibre, e farofa crocante.Como era de se esperar, era bem diferente do que estamos acostumados. Na cor, nem tanto: parecia mais dourado do que propriamente laranja ou âmbar. Já no aroma, mostrava sua peculiaridade. No primeiro plano, frutas maduras, principalmente de caroço, casca de laranja, e algo herbáceo, como uma folha verde. Após respirar um pouco, apareceu um aroma bem curioso, que me lembrou extrato de tomate, ou catchup. - Me lembrei da degustação da ABS, em que foi dito que esses aromas associados ao umami, ao gosto de carne, ao gravy, etc. são razoavelmente comuns em vinhos laranjas. - Continuando a descrição, na boca ele tinha corpo médio, alta acidez, taninos leves mas perceptíveis, álcool bem equilibrado, e boa persistência aromática, que trazia sobretudo uma geléia de casca de laranja.
Ele acompanhou o atum, sem brigar nem se sobrepor ao prato. Não houve aquela interação em que um torna o outro melhor. Talvez não tenha sido o prato ideal para este tipo de vinho. Também pude prová-lo acompanhando um camarão rosa grelhado, e a impressão foi a mesma: se por um lado não houve nenhum conflito entre os dois, por outro, também não se melhoraram mutuamente.
É mesmo um vinho bem diferente, muito interessante, uma experiência bem legal. Mas preciso provar outras harmonizações que interajam mais com vinhos laranjas.
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