15 de julho de 2018

Às margens do Reno, na Suíça

Eu não poderia imaginar que um dia tomaria um Pinot Noir proveniente de Rheinau. Não, não estou falando da famosa região de Rheingau, na Alemanha. Rheinau (sem o 'g') é uma cidadezinha localizada no norte da Suíça, contornada pelo rio Reno, em seu percurso que define a fronteira entre Suíça e Alemanha. Está localizada no Cantão de Zürich (Zurique).



De monastério a adega

Neste ponto do rio, há uma ilha dominada por um antigo monastério beneditino, que data provavelmente do ano 778 AD. Entre 1585 e 1588, o monastério ganhou uma adega subterrânea, construida para proteger o vinho do risco de congelamento. O complexo monástico recebeu ainda sucessivas extensões até 1744, quando adquiriu o seu formato atual.

Em 1862, o monastério foi dissolvido pelo Conselho Cantonal de Zurique, tendo sido convertido em um hospital; e a adega do complexo passou a ser responsável pelo fornecimento de vinho a todos os hospitais cantonais, dando início à Staatskellerei Zürich. A empresa passou então a comprar e processar as uvas de boa parte dos viticultores da região. Hoje, processando uvas de 90 viticultores, é um dos maiores produtores de Zurique (o que não significa muito, em função da modesta produção da Suíça alemã).

Foto aérea do antigo monastério (fonte: site do complexo turístico)

AOC Zürich

A parte alemã da Suíça tem uma produção pequena por um bom motivo: o clima muito frio traz dificuldade ao cultivo e maturação adequada das uvas. Assim como na Suíça em geral, grandes massas de água - como rios e lagos - são fundamentais para auxiliar na maturação das uvas, além de evitar geadas que possam danificar as plantas durante o ciclo produtivo.

O cantão de Zürich contém a maior produção da Suíça alemã, graças sobretudo ao lago de Zürich, e ao rio Reno. A área onde fica Rheinau, banhada pelo Reno e afluentes, é chamada de Weinland, ou terra do vinho (pelo menos na perspectiva de Zürich). Mesmo com a presença de rios e lagos, não são muitas variedades que alcançam uma maturação adequada. Com a preferência do consumo local por vinhos tintos, a Pinot Noir ocupa 50% dos vinhedos. O restante é composto principalmente de variedades de origem alemã (como Müller-Thurgau, Regent, Räuschling).


O Pankraz Pinot Noir Prestige Barrique 2013, AOC Zürich, foi produzido pela Staatskellerei Zürich. É 100% Pinot Noir, e estagiou por 12 meses em barricas novas de carvalho francês, além de adicionais 6 meses em barris históricos - de mais de 150 anos - da época do monastério.

Em climas muito frios, os vinhos tendem a exibir maior acidez, taninos mais ásperos, e aromas mais vegetais. O Pankraz tinha algumas dessas características: cor rubi de baixa intensidade, aroma com pouca fruta, bastante vegetal (chá verde, folhas murchas) e terroso (cogumelos, terra úmida), além de tostado e baú velho (certamente devido aos estágios em barril novo e velho, respectivamente). Tinha corpo leve, taninos pouco intensos, porém rústicos; só faltou a acidez, que era mediana. Talvez, já estivesse em declínio, pela idade.

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