Já não é segredo que a Bulgária nos brinda com muitos bons vinhos. Desde 2015, Winelands tem trazido uma grande diversidade de bons vinhos búlgaros - sobretudo tintos - maduros, com boa acidez, boa maturação fenólica, equilibrados e saborosos. Uma das uvas que tem demonstrado maior sucesso é a onipresente Merlot, como é o caso do Motif Merlot 2014, produzido pela vinícola Via Verde.
A Via Verde foi fundada em 2013, com a aquisição de 20ha de vinhas na vila de Levunovo, localizada no vale do Rio Struma, sudoeste da Bulgária. Eram vinhas jovens, com 8 a 13 anos de idade, mas já em condições para produção da primeira safra, em 2014. Escolheram como símbolo a libélula, que representa uma natureza sem poluição, já que este inseto precisa de água e ar limpos para sobreviver.
O Rio Struma corre expremido entre uma série de maciços e cordilheiras na Bulgária, para em seguida atravessar a Grécia e desaguar no Mar Egeu. A situação geográfica do vale lhe dá uma condição única na Bulgária: o clima é altamente influenciado por correntes de ar do Mediterrâneo, que entram pelo canal formado pelo trajeto do rio. Por essa razão, o Vale do Struma possui as médias de temperatura mais altas do país.
Motif é a linha premium, produzida com as melhores uvas, em um rendimento baixíssimo. A colheita é manual, e as uvas passam por uma segunda triagem manual na adega. A fermentação ocorre em tanques de inox em temperatura controlada, e posteriormente o vinho estagia por 9 meses em barricas de carvalho búlgaro. Apesar de ser produzido no Vale do Struma, o Motif Merlot 2014 recebe a classificação IGP "Vale da Trácia", assim entre aspas, tal como consta no contra-rótulo. Não sei se as aspas foram ocasionais, ou uma forma de protesto em relação à classificação.
O problema é que, de acordo com o que relatei em Geografia dos vinhos da Bulgária, a União Européia não reconhece Vale do Struma como uma Indicação Geográfica Protegida. A UE só reconhece duas denominações: Planícies do Danúbio e Vale da Trácia. Sendo assim, para se adaptar às regras da UE, a saída para os produtores do Struma tem sido adotar a IGP Vale da Trácia. Observe, no entanto, que a Trácia e o Vale do Struma estão isolados um do outro por nada menos que 3 grandes cadeias de montanhas: Pirin, Rila e os Ródopes.
Eu levei o vinho em um fim de semana que passamos no sítio de amigos. Após o jantar, a maior parte da turma foi dormir, os mais persistentes fomos jogar uma sinuquinha, e resolvi abrir essa garrafa para embalar o jogo. O vinho, de cor rubi de média intensidade e muito brilhante, tinha um nariz intenso, com predominância de frutas negras maduras, e até algo licoroso, lembrando vinhos de clima quente como do sul da Itália. A madeira aportava complexidade na medida certa, com um leve tostado, e um toque de caramelo. Na boca, corpo médio, taninos muito macios, álcool (14%) discreto, e alta acidez, que mais do que garantir o equilíbrio, fazia a boca salivar pelo próximo gole. O final era de boa persistência, com predominância dos aromas licorosos.
Era um vinho com jeito de novo mundo, fácil de tomar, bem redondinho, de aroma exuberante; mas que também trazia uma lembrança de sul da Itália, com aquele equilíbrio entre aromas licorosos e boa acidez.
De fato os Merlots búlgaros são ótimos.
ResponderExcluirNão estou mais no clube Winelands, mas espero pegar algumas garrafas avulsas em breve.
É, Edward. Esse vinho realmente, é bem superior ao nível do clube. Pode comprar dele, que vale a pena.
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