Outro dia, ao dar uma passada de olho pela adega da Quinta do Marquês, fiquei surpreso ao ver o Covela Avesso por R$78. O vinho normalmente custa mais do que isso, e a adega da Quinta do Marquês não costuma ter preços competitivos. Neste caso, suponho que o preço mais baixo tenha a ver com a safra sendo vendida: de 2014, já com 4 anos. A maioria dos vinhos brancos não tem condições de ser armazenado por esse tempo, e o Covela Avesso não foi feito para guarda. Mas, conhecendo a reputação do produtor e a qualidade do vinho, era de se imaginar que ele ainda estaria em boas condições.
A Quinta da Covela se localiza na região dos Vinhos Verdes, mais especificamente na sub-região de Baião. Já falei a respeito de sua história e de sua reputação (veja aqui). O Covela Avesso é seu vinho mais emblemático. Primeiro, porque a Avesso - variedade de que é feito - está intrinsecamente ligada à sub-região de Baião. E segundo, porque é uma variedade pouco difundida, e graças ao Covela Avesso, vem ganhando notoriedade.
A Avesso é uma das 47 variedades permitidas na produção de Vinhos Verdes. No entanto, seu cultivo está restrito a Baião, e arredores. Esta sub-região se localiza próxima à região do Douro, afastada do litoral. Ela tem, portanto, um clima ligeiramente mais continental: menos úmido, e um pouco mais quente. Além disso, os solos de xisto, similares ao do Douro, propiciam uma melhor drenagem da água da chuva. Em Baião, a Avesso consegue atingir com mais facilidade a maturação adequada.
É uma variedade bastante particular, no cenário dos Vinhos Verdes: ela prioriza o teor alcoólico sobre a acidez, o avesso em relação às outras variedades do Minho (daí seu nome). Por isso, tradicionalmente, ela entrava apenas em cortes. Mas o sucesso do Covela Avesso trouxe a atenção de enólogos renomados de Portugal, que já começam a enxergá-la como a nova sensação da região [leia Avesso, the next star grape of Vinho Verde].
O vinho, com 4 anos, já mostrava alguma evolução, mas ainda estava em perfeito estado. Tinha cor amarelo-palha, tendendo ao dourado. O aroma, intenso, ainda trazia bastante fruta madura, agora mesclada com toques melados e amendoados. A acidez era adequada, não refrescante como na versão mais jovem, mas ainda plenamente equilibrada, sem deixar aparecer amargor, nem álcool. Tinha corpo médio, e a boa persistência aromática trazia a fruta envolta em nuances de mel. Acompanhou com maestria uma cataplana de polvo.
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