11 de novembro de 2018

Cointreau e as origens do triple-sec

Durante a Idade Média, os monges europeus costumavam criar remédios e fortificantes a base de vinho, temperados com ervas, frutas, raízes, etc. Com a popularização da destilação na Europa, o álcool passou a substituir o vinho. Além das propriedades medicinais próprias do álcool, os monges também perceberam que ele era mais eficiente para extrair as propriedades essenciais das plantas e raízes que utilizavam. Esses elixires foram precursores dos licores. Considerados fortificantes e profiláticos, passaram a ser muito requisitados nas cortes.

Com o tempo, o interesse por propriedades medicinais foi se esvaindo, e os licores ganharam o status de uma bebida alcoólica requintada. O Século XIX é repleto de histórias de empreendedores que inventaram algum licor e se tornaram milionários, adoçando os paladares cosmopolitas da Belle Epoque. A maioria dos licores mais tradicionais dos dias de hoje surgiram nessa época. É o caso do Cointreau.

Rótulo antigo de Cointreau (fonte: Pinterest)

Dois irmãos, de sobrenome Cointreau, confeiteiros na cidade de Angers, França, se meteram a criar um licor para servir aos seus clientes. Surgiu assim, em 1849, um licor de cereja chamado Guignolet. Eles tiveram um razoável sucesso com ele, mas foi o filho de um deles, Edouard Cointreau, que em 1875, inspirou-se no Curaçao para criar sua versão de licor de laranja. Ele usou cascas de laranja secas de dois tipos - doces e amargas - que maceravam em álcool, e posteriormente eram redestilados por três vezes em alambiques. Finalmente, o destilado era diluído em água, e adoçado com açúcar.

Ele foi o primeiro licor oficialmente registrado como triple-sec. De acordo com a Cointreau, o termo faz referência a que seu produto tinha o triplo de concentração, e era mais seco que os licores de laranja da época. O sucesso foi tão grande, que apenas 3 anos depois, na Exposição Universal de Paris de 1878, já existiam diversos copy-cats, com suas versões de triple-secs. Com o tempo, a Cointreau passou a se dedicar exclusivamente a este licor, e em 1930, eles eliminaram o termo triple-sec de seu produto, para dissociar sua imagem à de equivalentes de qualidade inferior.

Com o aumento da produção, a fábrica foi transferida para Saint-Barthélemy-d'Anjou, na periferia de Angers, em 1969. Hoje, são produzidos 15 milhões de litros de Cointreau por ano, exclusivamente ali; e a receita segue a mesma desde a criação. A empresa permaneceu familiar até 1989, quando fundiu com a casa de Cognac Rémy-Martin, criando o conglomerado Rémy Cointreau. Em 2014, a empresa lançou um novo produto, pela primeira vez em um século: o Cointreau Noir, a síntese da fusão entre as empresas, já que corresponde a uma mistura de Cointreau com Cognac.

Controvérsia

Apesar de o Cointreau ser o primeiro triple-sec registrado oficialmente, existe um outro produtor que reclama para si a invenção do estilo. De acordo com a Combier, o inventor seria seu fundador, Jean-Baptiste Combier. Também confeiteiro, ele teria criado em 1834 o licor para ser colocado dentro de seus doces. Porém era um licor que levava muitos outros ingredientes além da laranja, e só veio a ser registrado e vendido a partir de 1879, quando já existiam diversos triple-secs no mercado. De acordo com a Combier, sec seria o mesmo que destilado; ou seja, triple-sec significaria triplamente destilado.


Coquetéis

Os triple-secs ganharam um status de importante componente de coquetéis, sobretudo ao lado do suco de limão. Os mais conhecidos são o Cosmopolitan (suco de cramberry, suco de limão, triple-sec e vodca), a Margarita (suco de limão, triple-sec e tequila), White Lady (suco de limão siciliano, triple-sec, gin e clara de ovo), e o sidecar (cognac, triple-sec e limão siciliano).

A Cointreau investe fortemente nessa imagem, e apresenta em seu site uma longa lista de coquetéis. Além dos clássicos mencionados acima, vale uma referência às diversas versões de Cointreau Fizz: em uma base de Cointreau, gelo, suco de limão e água com gás, pode-se adicionar o que der na telha, gerando uma infinidade de drinks diferentes.

Hoje, meu uso mais recorrente é para incrementar o sabor de sangrias e, principalmente, de clericots (a versão da sangria com vinho branco), incluindo um elemento aromático e doce, e eliminando a adição de açúcar. O licor é um verdadeiro coringa, uma ótima ferramenta para inventar coquetéis. Seu slogan publicitário bem poderia ser "existem mil maneiras de preparar Cointreau, invente uma".

Referências

Abaixo, alguns textos interessantes a respeito da história da destilação, do Cointreau e dos triple-secs.

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