25 de novembro de 2018

Zind: um fora-da-lei aos 12 anos

Quando um colega postou no grupo de Whatsapp a oferta do Zind 2006, no site da Sonoma, fiquei tentado. Adoro vinhos evoluídos, e um bom branco de 12 anos - a preço acessível - é bem raro de encontrar. Mas antes de fechar a compra de uma caixa, eu resolvi pesquisar.

O produtor, Domaine Zind-Humbrecht possui grande reputação na Alsácia. A vinícola foi formada a partir da união das famílias Zind e Humbrecht, em 1959, mas ambas possuiam séculos de tradição, produzindo vinhos na Alsácia. Desde 1989, a condução dos negócios está nas mãos de Olivier Humbrecht.

M. Humbrecht adota a filosofia biodinâmica, e desde 1998 eles possuem certificação. Isso implica muito mais trabalho no vinhedo - nada de agrotóxicos, em caso de risco de praga ou fungos, é preciso sanitizar o vinhedo com podas. Na adega, por sua vez, a fermentação ocorre naturalmente, com leveduras indígenas; e isso significa que frequentemente seus vinhos possuem um teor mais alto de açúcar residual. Independente disso, são quase sempre vinhos com longa capacidade de guarda.


Fora da lei

O Zind é um vinho fora-da-lei. Confiante no potencial da Chardonnay na Alsácia, desde 2004, o M. Humbrecht decidiu vinificar este vinho a partir de 2/3 de Chardonnay e 1/3 de Auxerrois (também conhecida como Pinot Blanc), provenientes do vinhedo Clos Windsbuhl, de vinhas plantadas em 1988. Curiosamente, a Chardonnay só é permitida para os espumantes (Crémants d'Alsace), mas não para vinhos brancos da Alsácia. E como está fora da lei, o vinho acaba classificado como um Vin de France.

O site do produtor descreve 2006 como um ano de extremos. O calor do verão avançou a maturação mais rápido que em anos anteriores, mas chuvas no final de setembro e início de outubro exigiram bastante trabalho de controle de fungos. No caso do vinhedo que dá origem ao Zind, optaram por colhê-lo antes da chuva anunciada. A fermentação ocorreu naturalmente até o final, e o resultado foi um vinho com grande acidez, e totalmente seco.

Curiosamente, a ficha técnica do produtor recomenda o consumo desta safra até 2012. Não é possível que a Sonoma fosse vender um vinho assim. Confuso, escrevi um email ao produtor, que me respondeu rapidamente. M. Olivier disse que ainda possui garrafas do vinho, que o abre regularmente, e que continua em perfeito estado; mas prefere dar uma sugestão muito mais conservadora, porque muita gente não sabe apreciar vinhos maduros. Por outro lado, a última vez que ele havia exportado aquela safra foi em 2010, portanto, o vinho já está no Brasil há algum tempo.


Pagando para ver

Sua resposta me deu ânimo de comprar uma garrafa para provar. Quando ela chegou, achei estranho que não tinha cápsula sobre a boca: tinha apenas uma pequena camada de cera protegendo a rolha. Por outro lado, a rolha de 50mm de cortiça tinha grafado o nome do vinho e a safra, e estava em boas condições: embebida em apenas 2mm a 4mm. Além disso, a altura do líquido na garrafa era adequada.

O vinho tinha cor dourada, com certo brilho, e o aroma de média intensidade estava mais puxado para os terciários do que para os primários. Pouca fruta, na forma de geléia, mel, melado, torta de maçã (um sinal de oxidação), especiarias, algo de geléia de kinkan, e algo químico. Na boca, tinha bom volume de boca, acidez ainda adequada, boa intensidade de sabor, e longa persistência. Ele deveria ser servido em uma temperatura um pouco mais alta (acima de 12ºC), para evitar amargor e não apagar a acidez.

É um vinho peculiar, e como alertou M. Humbrecht, não é pra qualquer um. Eu adoro vinhos maduros, e gostei deste, mas acho que, pelo menos no caso desta garrafa em particular, talvez em função do tempo e condições armazenado no importador, acho que já havia passado do seu ótimo.

Este vinho oferecido pela Sonoma havia sido importado pela Expand. Hoje, os vinhos da Zind-Humbrecht são importados pela De la Croix, onde é possível adquirir o Zind 2015.

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