30 de maio de 2019

Justino's Madeira Colheita 1995

Na Madeira, as uvas brancas são consideradas as mais nobres, mas quem domina os vinhedos é a Tinta Negra Mole. De acordo com as estatísticas oficiais[*], ela ocupa 80% da área de vinhedos. Versátil, resistente a doenças, adaptada ao clima local, vigorosa e produtiva, ela provavelmente foi introduzida na ilha durante o Século XVIII, mas passou a dominar os vinhedos com o replantio que se seguiu à filoxera, que atingiu a ilha em 1872.

Associada a vinhos básicos, cozidos em estufagem, coloridos com caramelo, e usados principalmente na cozinha, a Negra Mole não é muito bem vista pelos críticos de vinho. Por isso, nem costuma constar no rótulo das garrafas. Mas alguns poucos produtores da ilha perceberam que a variedade não é um problema se for bem tratada: com manejo para controlar a produtividade, vinificação cuidadosa, e sem adição de corante caramelo, é possível obter um grande Vinho Madeira, 100% de Negra Mole.

Um dos produtores a perceber seu potencial foi a Justino's Madeira, uma das empresas de maior estoque de vinhos, e maior visibilidade no mercado internacional. A prova é o Justino's Madeira Colheita 1995, um vinho 100% Negra Mole, de uma só safra (algo relativamente raro, reservado aos melhores vinhos), vinificado em bica aberta (sem contato com as cascas) e envelhecido em sistema de canteiro, em cascos (barris) de carvalho francês e americano, por ao menos 10 anos, antes do engarrafamento.


O vinho tem cor âmbar de média intensidade (na foto, parece mais escuro devido à luz ambiente), e aromas muito intensos que remetem à tipicidade dos Vinhos Madeira: caramelo, figos secos, amêndoas torradas, avelãs, damasco e um toque de café. Também é intenso na boca, com a acidez característica desses vinhos, que equilibra plenamente a alta doçura (120g/L de açúcar residual) e o álcool (19%). E para melhorar, tem uma imensa persistência. Apesar de ser um vinho considerado "imortal" (porque já é um vinho totalmente cozido e oxidado), a minha garrafa apresentou um pouco de depósitos no final, o que indica que provavelmente já havia sido engarrafado havia bastante tempo.

Eu levei uma garrafa ao restaurante Bonelli, para acompanhar uma crostata di mandorle (torta de amêndoas) com calda de damasco, por ocasião do jantar mensal da SBSomm. Ele ofuscou os outros vinhos de sobremesa da ocasião, e acompanhou com maestria com a sobremesa.


Os vinhos da Justino's são importados pela Casa Flora / Porto a Porto. A safra 1995 se esgotou, mas ainda há disponíveis as safras 1997 e 1999.

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