Desde o início a indústria vinícola se centrou no Vale do Bekaa. O Vale está encrustado entre duas cordilheiras (Monte Líbano e Antilíbano), que correm paralelas ao litoral. As montanhas fornecem abrigo de influências marítimas, garantindo ao vale um clima continental. A altitude base de 1000 metros sobre o nível do mar garante importante amplitude térmica entre o dia e a noite 0 que compensa a baixa latitude (33°N). E além de proteger contra influências mediterrâneas, as duas cadeiras de montanha proveem grande quantidade de água, na forma de degelo, que garante ao vale um clima muito propício para produção de diversas frutas, inclusive uvas.
A influência francesa na vinicultura, se intensificou no período entre guerras (1918-1945), em que o país foi colonizado pela França. Neste período, imigrantes franceses fundaram novos châteaux no Vale do Bekaa, plantaram mais variedades francesas, principalmente do sul do Rhône - Cinsault, Carignan, Grenache, Syrah - além das internacionais Cabernet Sauvignon e Merlot. Além das vinícolas e das variedades de uva, até a associação nacional de produtores tem nome francês: Union Vinicole du Liban.
Château Musar
Uma das vinícolas fundadas no período de domínio francês foi o Château Musar, fundado pelo francês Gaston Hochar, em 1930. Hoje referência em termos de qualidade, que é reconhecida pelos principais críticos de vinho do mundo. Seu vinho topo de gama, chamado simplesmente Château Musar, se tornou o grande ícone dos vinhos do Líbano.A vinícola tem atualmente 180ha de vinhedos. Estes sempre foram cultivados de forma orgânica, o que é facilitado pelo clima seco, quente, com 300 dias de sol por ano. As uvas são colhidas manualmente (a mão de obra é mais barata que maquinário), e as uvas fermentam espontaneamente com leveduras nativas.
O Château Musar é um corte de Cinsault, Carignan e Cabernet Sauvignon. Cada variedade fermenta separadamente em tanques de cimento; após 6 meses, ocorre o blend, e o vinho é colocado em barris franceses (de Nevers) sem tosta, onde estagia por 1 ano. Depois, o vinho volta aos tanques de cimento por mais um ano, e só então é engarrafado. O vinho ainda permanece por 4 anos em adega, sendo vendido apenas 7 anos após a safra.
De acordo com a ficha do vinho, o ano de 2010 não foi fácil. Apesar do refresco dado à noite, o verão teve 23 dias seguidos em que as temperaturas se passaram dos 40°C. Esse excesso de calor causa stress às videiras, que passam a dedicar sua energia à sobrevivência, prejudicando a maturação das uvas. A principal afetada foi a Cabernet Sauvignon, que teve 40% da safra perdida.
Provamos do vinho em uma degustação de confraria da SBSomm, cujo tema era Oriente Médio. O painel foi dominado por vinhos do Líbano - nada mais justo, considerando a qualidade dos vinhos da região. E não poderia falta o Château Musar 2010, que recebeu a maioria dos votos como o melhor da noite. O vinho tinha cor rubi, com bordas granada, e um pequeno halo aquoso. O aroma de boa intensidade trazia fruta vermelha madura, tostado, um toque de baunilha, balsâmico, folhas e chá. Na boca, tinha acidez, taninos e corpo de intensidade média/alta; mas o álcool esquentava um pouco a boca, penalizando o equilíbrio. O final era razoavelmente longo.
A conclusão final é de um vinho complexo, de clima quente, mas não tão prejudicado pelo calor, sem fruta cozida, e com acidez adequada. Também é possível perceber um estilo mais tradicional, sem marcar o vinho com a barrica.
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