Qual a variedade mais cultivada da África do Sul? Não é a Cabernet Sauvignon, e muito menos a Pinotage. As uvas mais cultivadas no país são as brancas, e a Chenin Blanc, de longe, ocupa a primeira posição.
A Chenin Blanc é originária do Vale do Loire, na França, onde, no clima marítimo e frio, costuma ser usada para vinhos secos e minerais, ou néctares doces, inclusive com botrytis cinerea. Na clima mais quente da África do Sul, gera estilos bastante distintos, do Loire, e entre si. Grande parte da produção se destina a vinhos frescos, para matar a sede. A outra parte busca na malolática, bâtonnage e estágio em carvalho, diferenciar seus vinhos, aportando mais corpo e complexidade.
Ainda não tive a oportunidade de viajar à África do Sul, e por isso, fica mais difícil achar um grande Chenin Blanc de lá. Assim, quando um casal de amigos do vinho viajou pra lá, desafiei-os a trazer o melhor Chenin Blanc que eles tomassem. E este foi o vinho que trouxeram: Stellenrust Chenin Blanc "48" Barrel Fermented 2012.
A vinícola Stellenrust foi fundada em 1928, e tem um porte razoável, considerando-se que é uma vinícola familiar. A empresa tem no total 400ha (200ha dos quais com vinhedos) em duas propriedades: uma na zona chamada informalmente golden triangle, aos pés do monte Helderberg, zona especial de tintos, e outra nas encostas da Botellary Hills, principalmente cultivada com uvas brancas, e de onde vem as uvas deste vinho.
Ela provém de um vinhedo que, em 2012, tinha 48 anos de idade. Por isso, o número 48, no selo da garrafa, que obviamente, se incrementa a cada safra. Os cachos foram colhidos em duas passagens pelos vinhedos, para se obter a madurez ótima, sem sobrematuração. Após a débourbage (clarificação do mosto), o vinho foi colocado em barris de carvalho (90% francês, e 10% húngaro), para fermentar naturalmente (com leveduras indígenas). A fermentação levou 6 meses, e o vinho permaneceu nas barricas, com as lias, por mais 3. No total, foram 9 meses em barril.
Com 7 anos, ele apresentava uma cor dourada, muito brilhante. O aroma trazia muita fruta, e notas da barrica presentes, mas agregando complexidade, sem se sobrepor a fruta. Entre os aromas, tínhamos frutas de caroço, maçã verde, flores brancas, mel, cera, manteiga de cacau (um misto de amanteigado e chocolate branco), além de um toque defumado. Era encorpado, com uma excelente acidez, álcool (13,8%) muito bem equilibrado, e final longo. Creio que estava em seu ápice, mas ainda poderia ser guardado por alguns anos.
Levei-o ao jantar mensal da SBSomm, e o vinho ficou delicioso tanto ao lado de uma quiche de cogumelos, quanto com um delicioso confit de pato acompanhado de um gratin dauphinois.
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