O grande orgulho dos gregos são seus vinhos doces. Seja fortificado, ou feito de uvas secas ao sol, esses vinhos eram o grande sucesso de exportação durante a Idade Média, e foram os primeiros a ganhar o status de Denominação de Origem Controlada (Ονομασία Προέλευσης Ελεγχόμενη). Há vinhos doces produzidos no continente, e em diversas ilhas. A variedade de uva mais usada e difundida em mais regiões é a Moscatel, dando origem aos vinhos: Moscatel de Patras, Moscatel de Rio Patras, Moscatel de Lemnos, Moscatel da Cefalônia, Moscatel de Rodes, e o mais renomado de todos, Samos.
Samos é a única denominação que não inclui o nome Moscatel: se é Samos, é Moscatel doce. A ilha de Samos, quase na costa da Turquia, tem boa quantidade de chuvas, concentrada no inverno, e os vinhedos são cultivados a até 800m de altitude. A Moscatel Branca (Muscat Blanc à Petit Grains) domina 95% dos vinhedos; e os poucos vinhos secos produzidos na ilha só podem ser classificados como IGP Mar Egeu. Apenas um produtor controla a produção: a Cooperativa de Agricultura e Vinícola de Samos (UWC Samos, da sigla em inglês). Eles impõem rendimentos baixos, para garantir vinhos concentrados, dignos de sua fama.
Apesar de altamente conceituados, esses vinhos não chegam no Brasil. Por isso, pedi a um confrade que iria para a Grécia para trazer uma garrafa para a gente. (Eu tenho muitos confrades de vinho, e pra minha sorte, eles viajam muito!) Foi difícil, mas ele conseguiu achar uma garrafa em Atenas, e trouxe para dividir com a gente.
Ele trouxe o Anthemis Samos 2011, o second vin da cooperativa. Ele é feito com uvas colhidas em plena maturação, e fortificado até atingir 15% de teor alcoólico. Depois passa 5 anos maturando em barris de carvalho, evaporando e micro-oxigenando lentamente, para atingir grande concentração e caráter.
O vinho tem cor âmbar intensa e brilhante, e aroma igualmente intenso, com tudo o que se poderia esperar de um Moscatel fortificado com longo envelhecimento oxidativo: floral, cítrico (casca de laranja cristalizada), notas oxidativas evidentes (caramelo, amêndoas torradas, mel e damascos secos). Era tudo o que se poderia esperar de um grande vinho doce de Moscatel.
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