Este ano, voltei a participar da Essência do Vinho - Porto; desta vez, como morador da cidade. Uma das atividades que me chamou a atenção na feira, e que não pude deixar de participar, foi a degustação Loureiro, a Estrela do Lima, que prometia abordar a capacidade de envelhecimento desta variedade.
A Loureiro é uma das principais castas utilizadas no Vinho Verde, um nome que remete a um estilo de vinho leve, jovem, de alta acidez, simples, levemente frisante, e equilibrado com um pouco de açúcar residual (normalmente adicionado a partir de mosto não fermentado). Este é o perfil com que a maioria dos consumidores identificam o Vinho Verde, e que é um grande sucesso de mercado.
Mas como sabemos (se não sabia, leia o texto dos Vinhos Verdes, aqui), Vinho Verde é uma denominação de origem, que não se limita a um só tipo de vinho. A Alvarinho tem uma reputação dissociada desse perfil mais popular, mas outras variedades também podem ser usadas para se produzir brancos mais encorpados, complexos e com capacidade de guarda. É o que a degustação ocorrida na Essência do Vinho quis e demonstrou com relação à Loureiro, especialmente alguns daqueles produzidos no Vale do Lima, sub-região de excelência dessa casta.
Foram provados 8 vinhos, dos quais vou destacar apenas 3 (ou 4) que mais demonstraram essa longevidade.- Quinta das Fontes Loureiro: esta quinta, com casa centenária e 10ha de vinhas, produz exclusivamente Loureiro (branco e espumante) e Vinhão (tinto). Degustamos as safras 2016 e 2017. O vinho passa 8 meses com as borras, sendo os 5 primeiros meses com batonnage. Não estão no mesmo nível dos outros dois, mas são achados incríveis, considerando o preço (apenas 6€).
- Ameal Loureiro 2010: a Esporão, originalmente do Alentejo, explora esta propriedade de mais de 300 anos, para enoturismo e produção de Verdes. Este é o mais "básico" dentre os Loureiros produzidos ali, com estágio de 7 meses com borras em inox, e mesmo assim chegou aos 12 anos de idade com plena forma.
- Aphros Loureiro 2009: a Aphros Wine, uma das pioneiras em vitivinicultura biodinâmica em Portugal, possui duas quintas no Vale do Lima, e produz majoritariamente Loureiro. Este vinho passou por maceração pré-fermentativa, posterior fermentação e apenas 2 meses sur lies. Foi o mais longevo, e o melhor do painel.
E um detalhe interessante: nenhum destes estagiou em barrica.
Os vinhos da Quinta das Fontes tinham um pouco menos de corpo (médio), e de intensidade de aroma e sabor (médio+), mas mostravam muita saúde, cor jovial, alta acidez, e muito aroma primário (o 2017 tendia mais a frutas de caroço, enquanto o 2016 mostrava o lado mais herbáceo da Loureiro, que chegava mesmo a lembrar um Sauvignon Blanc), mas também já exibiam notas terciárias, de mel e cera de abelha, e até um pouco de óleo mineral.
O Ameal e o Aphros já mostravam a idade na cor, dourada. Eram também um pouco mais encorpados (médio+), e com alta intensidade de aroma e sabor. Ambos tinham muita fruta madura, mas os aromas terciários estavam mais em evidência. Ambos traziam mel, cera e avelãs, e o Aphros ainda trazia muito cítrico de cascas de laranja.
A apresentação abordou en passant o dilema desses vinhos: a denominação está associada a uma imagem que não lhes corresponde, mas eles não têm outra opção: ou se identificam como Vinhos Verdes, ou nada. Isso não é exatamente bom nem para o marketing dos vinhos, nem para o consumidor em geral. É um tema em que já abordei aqui no blog, e que, infelizmente, é um tanto difícil que a legislação venha a trazer mudanças nesse sentido. Como resposta, buscando-se afastar do estigma, observa-se nos rótulos, como vários deles nem mencionam a denominação Vinho Verde. O caminho pode ser mencionar unicamente a sub-região Vale do Lima, como faz a Quinta das Fontes, ou mesmo omitir qualquer menção à denominação, como no caso do Ameal.
Boa noite Rodrigo, parabéns por agora ser residente do Porto, cidade pela qual os Brasileiros demonstram muito carinho.
ResponderExcluirComo sempre, excelente artigo e continue com o seu bom trabalho de nos manter informados. Abraços.
Muito obrigado, Carlos!
ExcluirEstou com uma duvida !
ResponderExcluirParticularidade dos processos de vinificação mais importante - tintas e brancas areas historicas barossa valley particularidade do solo de coonawarra
Me parecem diversas dúvidas juntas!
ResponderExcluirNo que diz respeito aos processos de vinificação, recomendo o texto: http://www.sobrevinhoseafins.com.br/p/da-vinificacao.html.
Quanto aos vinhos da Austrália, incluindo as regiões de Barossa Valley e Coonawara, leia o texto http://www.sobrevinhoseafins.com.br/p/dos-vinhos-da-australia.html. As duas regiões estão no estado da Austrália do Sul (South Australia).