No Brasil, a aguardente vem da cana-de-açúcar; mas em Portugal, (salvo raras excepções) vem da uva. São muito tradicionais a aguardente vínica - que provém da destilação do vinho - e a aguardente de bagaceira - obtida do bagaço (como a grappa italiana). E aproveitando a minha nova fase da vida em Portugal, tenho conhecido um pouco mais a respeito destes e outros destilados de cá.
Uma que me chamou a atenção pela relação idade/preço foi a Aguardente Vínica Velhíssima 1966, produzida pelas Caves São João. Esta casa fundada em 1920 comercializa vinhos da Bairrada e do Dão, e produz aguardentes com a DOC Bairrada. Ela foi destilada de vinhos da safra de 1965; e iniciou em 1966 o envelhecimento em pipas de carvalho francês Limousin (uma floresta de carvalhos na França). A aguardente foi engarrafada em 2003, após 37 anos de envelhecimento.
Logo que eu abri a garrafa, a bebida tinha um forte aroma à cânfora. Este aroma, em um primeiro momento muito intenso, mascarava outros, e acabava por tornar a bebida menos prazeirosa. Mas dei tempo ao tempo, e de vez em quando, abria a garrafa, sentia o aroma, e até provava um pouco. Finalmente, após vários meses, o aroma medicinal se reduziu a índices agradáveis. Talvez esses quase 20 anos em garrafa lhe tenham causado uma reação redutiva?
A aguardente tem cor âmbar intensa, quase caramelo. O aroma é intenso, com muita característica da madeira: frutos secos, baunilha, fumo, caramelo, açúcar mascavo, e também um pouco de coco, ameixas secas, uvas passas, e claro, cânfora, e aromas medicinais (como xaropes para tosse). Tem apenas 40,5% de álcool, mas esquenta um pouco a boca, em consoância com outros brandies: na minha modesta experiência, sinto que eles esquentam mais a boca do que scotch whiskies, o que pode ter a ver com o método de destilação. Enfim, após alguns meses, gostei bastante da aguardente. Mas foi a primeira vez que pensei em passar um destilado por um decanter.
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