Cuidado! O ministério da saúde adverte que este texto pode causar aumento de pressão, mudança de temperamento e fúria em enochatos irredutíveis. Se você é um deles, que acha vinho doce é sinônimo de vinho ruim, que não se pode misturar vinho com outras bebidas, e despreza os vinhos de tampa de rosca, você irá se espantar com o tanto que você está perdendo por se prender a preconceitos bobos.
'Não é permitida a entrada de enochatos' (Foto de Quinn Dombrowski, no Flickr) |
Temperatura ideal de serviço
"Vinho tinto tem que ser bebido à temperatura X". "Vinho branco barricado, a temperatura Y". "Vinho branco leve, temperatura Z". Vinho rosé seco, rosé docinho, espumante encorpado, espumante leve, Porto Ruby, Porto Tawny, Jerez Fino, Amontillado, Oloroso, Vin Jaune...A temperatura faz diferença no vinho? Faz. Mas em vez de tentar decorar uma tabela de temperaturas para cada tipo de vinho que há por aí, veja a que temperatura o vinho mais te agrada. Esta é a temperatura certa. Se o vinho parece amargo, certamente precisa ficar mais quente. Parece alcoólico? Talvez resfriá-lo um pouco ajude. Não, ele está gelado, e ainda alcoólico. Neste caso, pode ser que esteja é gelado demais, e precise esquentar um pouquinho. Afinal, a temperatura correta se refere a isso, a temperatura em que o vinho vai estar mais agradável.
Tem gente que mora em lugares muito quentes, e gela o vinho tinto antes de servir. Outros põem gelo na taça. Pode isso? Ora, se gosta do vinho assim, pode! Melhor tomar o vinho gostando da forma 'errada', do que desgostando da forma 'certa'. Tem gente que pega aquele Malbec guardado no armário, num dia de 40ºC e o serve a temperatura ambiente. Pode? Claro! Se realmente aprecia o vinho assim, fique à vontade! Mas não sirva assim porque acha que é certo, e sim porque realmente gosta.
Harmonização equivocada!
Existem diversas 'regras' de harmonização: por exemplo, 'peixe com branco e carne com tinto', ou 'vinho de sobremesa tem que ser mais doce que a sobremesa'. Ora, são regras fáceis de memorizar, que ajudam a evitar combinações desastrosas, mas não são leis, e cada um tem o direito de tomar o vinho que quiser com a comida que quiser!Tem gente que tem a presunção de criticar a idéia de harmonização dos outros. De achar que as combinações dele são certas, e as do outro são erradas. Isso é arrogância, e infantilidade. O que funciona para um, não necessariamente funciona para outro. Você gosta de vinho tinto com feijoada? Bom pra você! Quer tomar um espumante Moscatel (docinho) com o prato principal? Fique à vontade! Nem todo mundo é obrigado a gostar de vinho tinto! Por outro lado, se você só toma tinto, e gosta de tinto com o peixe, tome sem culpa, e mande às favas o chato que te criticar por isso!
Mas, sejamos bons anfitriões. Se for convidar alguém à sua casa, tenha diferentes opções de vinho para os convidados escolherem. Se você tem o seu direito de tomar tinto com peixe, seus convidados têm o direito de não gostar, e portanto, é de bom tom ter uma outra opção de bebida (um branco, espumante, cerveja, ou pelo menos um refrigerante).
Só vinho seco
No Brasil temos muitos vinhos 'suaves', que são feitos de uvas ruins, em processos descuidados, e adoçados com açúcar para se tornarem mais palatáveis. Isso sim, são vinhos ruins. Têm gosto ruim, e costumam dar muita dor de cabeça no dia seguinte. Por causa destes vinhos, talvez aqui mais do que em outras partes do mundo, há um forte preconceito de que vinho bom tem que ser seco. Chega a ser tão forte que pessoas habituadas ao vinho (seco), quando provam um bom auslese alemão, o rejeitam de imediato. Algumas chegam até a menosprezar alguém que prefere o semi-seco, o que acaba afastando essas pessoas do mundo do vinho. Não há nada de intrinsecamente errado com vinhos doces; exceto pelos vinhos suaves brasileiros, há alguns muito bons!Alemanha e Áustria produzem muitos feinherbs, que são altamente populares. Os franceses também têm os seus moelleux, assim como Portugal, que tem seus vinhos adamados (já alvo de certo preconceito, como se infere do nome), mas também têm Madeiras e Portos, dos 'secos' aos doces (mas até os 'secos' são doces, nesses casos) e são muito bons, e respeitados por quem entende. O espanhol da foto abaixo é um Jerez Pale Cream delicioso, faz um sucesso enorme na Inglaterra, e certamente faria aqui.
Coquetéis com vinho
"Quem mistura vinho com suco não gosta de vinho". Já me deparei uma meia dúzia de vezes com afirmações como essa. De todas as 'regras', acho que é a mais pedante e infundada. Os mais tradicionais países produtores de vinho possuem diversas receitas de drinques e coquetéis que misturam vinho com sucos, frutas e outros ingredientes. Algumas vezes, para diminuir o teor alcoólico, outras para adoçar um pouco, por não gostar do vinho tão seco; outras vezes apenas para tomar algo mais refrescante em um dia muito quente. Ou seja, em países com cultura do vinho, há menos pedantes.Quer misturar o seu espumante com suco de pêssego para fazer o seu bellini? Ou colocar frutas picadas no vinho tinto para fazer uma bela sangria? Ou quem sabe misturar soda limonada (ou água tônica) para ter um tinto de verão? Fique à vontade. Que os enochatos torçam o nariz, mas em um dia muito quente de verão, prefiro tomar um tinto de verão, do que um vinho tinto puro.
Site: Home Cooking Adventure. Aproveite, e veja uma receita de sangria. |
Tampa de rosca
Já se foi o tempo em que a rolha de cortiça era indiscutivelmente a forma mais recomendada de se lacrar uma garrafa de vinho. Hoje há diversas alternativas: tampa de rosca (screw cap), tampa de vidro (vinolok), rolhas de plástico, ou mesmo rolhas de aglomerado de cortiça. A rolha de cortiça maciça ainda mantém a preferência da maioria dos especialistas como a melhor alternativa para vinhos de longa guarda; porém até isso vem sendo cada vez mais questionado, com testes feitos com tampas de rosca mostrando ótimos resultados.Em países como Austrália, Nova Zelândia e África do Sul as screw caps são preferência dos produtores, e têm total aceitação tanto dos consumidores locais, quanto de mercados exteriores (principalmente Inglaterra, Suíça, Alemanha, Estados Unidos). E não são apenas países do novo mundo. Na Europa, Alemanha e Áustria são exemplos de países que vêm aumentando o uso de tampas de rosca para vinhos de qualidade, sem afetar seus produtos, e com boa aceitação pelos consumidores.
Tem muita gente que não abre mão do glamour que está associado a sacar a rolha de uma garrafa de vinho. Mas quando queremos fazer um piquenique, ou uma reunião informal de amigos, a facilidade de uma screw cap não tem preço. E para nossa sorte, hoje em dia, tem muito vinho bom fechado com elas. Por isso, da próxima vez, não menospreze o vinho só por causa da forma como é fechado.
O que realmente não se deve fazer com o vinho
Por fim, existem realmente algumas coisas relacionadas a vinho que não se pode fazer. Algumas delas são inclusive crimes ou contravenções previstas em lei, em todos os países do mundo!1. Beber vinho e dirigir um carro, ou pilotar um avião;
2. utilizar equipamentos pesados após beber vinho;
3. dar vinho para um menor de idade;
4. acertar alguém com uma garrafa de vinho (a menos que seja em legítima defesa);
5. jogar garrafas de vinho pela janela do apartamento;
6. tentar abrir uma garrafa de espumante mirando a rolha para a própria cara, ou para a de outros;
7. beber até passar mal (ou até entrar em coma alcoólico);
8. jogar vinho em alguém propositalmente (a menos que esteja em Haro, na Espanha, para as festividades da Batalla del Vino).
De resto, beba vinho da forma que gostar, e deixe as regras para degustações formais, ocasiões especiais, e para vinhos que justifiquem um cuidado maior.
Adorei isso, sempre fui discriminada por gostar de vinhos mais doces e branco, é o que não me causa nenhum problema, tomo uma garrafa e fico inteirinha. Acredito que o bom vinho bom é o que nos cai bem e disso não abro mão. Sei apreciar os mais encorpados , porém não são minha preferência.
ResponderExcluirÉ uma pena saber que você é discriminada por isso. Mas espero que meu texto tenha lhe dado os argumentos para mostrar a quem te discrimina, que eles não entendem nada, e ficam se prendendo a preconceitos bobos, criados por quem acha que entende alguma coisa.
ExcluirAproveito para lhe indicar alguns textos que escrevi a respeito de alguns bons vinhos adocicados, e algumas harmonizações interessantes com vinhos desse tipo:
http://www.sobrevinhoseafins.com.br/search/label/Vinhos adocicados.
Bem legal a material e os textos aqui abordados parabens me ajudou muito!
ResponderExcluirObrigado, Glaydson! Fico feliz que tenha te ajudado.
ExcluirExcelente matéria! Dos suaves brasileiros, quais você indica?
ResponderExcluirObrigado, Lulli.
ExcluirNa linha dos demi-sec, eu indico o Luiz Argenta Merlot Uvas Desidratadas. É o último vinho comentado nesse link.
Agora, suave mesmo, só conheço vinhos mais básicos. Tem a linha Naturelle, da Casa Valduga, o Essenza Tinto, da Vinícola Santa Augusta, por exemplo.
Entre os espumantes, eu ainda indico o Moscatel da mesma Santa Augusta e o Adolfo Lona Demi.
Depois de ler toda sua sessão "Entendendo o vinho", me sinto saindo de uma aula. Palavras não podem expressar minha gratidão diante de toda sua generosidade, conhecimento e competência. Muito obrigado.
ResponderExcluirUau! Sinto-me lisonjeado pelo seu comentário! Eu que agradeço!
ExcluirAdorei seus comentários sobre como tomar um vinho branco ou tinto e como Existem diversas 'regras' de harmonização: por exemplo, 'peixe com branco e carne com tinto', ou 'vinho de sobremesa tem que ser mais doce que a sobremesa'. Ora, são regras fáceis de memorizar, que ajudam a evitar combinações desastrosas, mas não são leis, e cada um tem o direito de tomar o vinho que quiser com a comida que quiser! rsrsrsrs Parabéns! Não sou ex-pert em vinhos mais aprecio quase todos eles, desde que sejam bons e com preços razoáveis! Legal a maneira que você trás sua matéria sobre vinho ! Parabéns novante ! Um grande abraço.
ResponderExcluirObrigado, José! Fico muito feliz com seu comentário. Um abraço!
ExcluirAmei seu texto e dicas. Assim me sinto com mais liberdade para escolher meus vinhos. Parabéns e obrigada!
ResponderExcluirObrigado, eu! Fico muito feliz em ajudar a que as pessoas apreciem seus vinhos sem serem coibidos pela enochatice!
ExcluirQue delícia de texto👏👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirAmei! Gratidão pelo artigo muito esclarecedor! Uma dissertação muito bem colocada para desmistificar e simplificar o prazer de apreciar vinhos!
ResponderExcluirÀs ordens!
ExcluirExcelente matéria; bem abordada, suscinta e clara - cumpre a função de informar sem ser chato !
ResponderExcluirSegui os comentários daqui e saiu tudo perfeito: vinhos brancos, um moscatel nacional, outro frisante, português, gelados e ficou esplêndido !
ResponderExcluirQue bom, Leandro! Fico muito feliz com isso!
ExcluirA parte do que não fazer com o vinho é a melhor! Rs Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirObrigado! 😂
ExcluirObrigada....me ajudou muito com o seu conhecimento!!!
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