Das denominações de origem

Informalmente, uma Denominação de Origem é como uma 'marca registrada' de uma região; ou seja, uma marca comum aos vinhos produzidos naquela região. Por um lado, ela busca refletir uma tipicidade, um perfil comum aos seus vinhos. Por outro, ela protege que apenas os produtores daquela região possam usar o seu nome, ou seja, possam se beneficiar da identidade com o consumidor.

Por exemplo, regiões como Bordeaux e Champagne são famosas pelos seus vinhos, e possuem consumidores fiéis. Ou seja, o nome da região ajuda a vender. E a Denominação de Origem, como uma marca, serve para garantir que ninguém de fora da região possa usar o nome.

Mais formalmente, uma Denominação de Origem é uma certificação concedida por algum órgão específico - um conselho regulador - normalmente licenciado pelas leis do país e formado por produtores da região. Portanto, elas são mais ou menos auto-reguladas.

O conceito emergiu na Europa, ao longo dos séculos. O vinho, como vários outros produtos (existem denominações de origem de queijos, salames, azeites, etc.), desde o passado tinham uma tipicidade associada à região em que eram produzidos. Os vinhos de certas regiões eram exportados e conquistavam consumidores. Nomes como Porto, Champagne e Bordeaux ficaram famosos. E com a fama, costumavam vir fraudes, e queda de qualidade (aproveitando a fama, alguns produtores deixavam cair a qualidade, para lucrar mais). E isso prejudicava os produtores mais sérios, e a fama da região. Por isso, surgiu a necessidade de regulamentação e controle.

Porto em Portugal, Tokaj na Hungria e Chianti na Itália, cada uma puxa pra si a criação da primeira Denominação de Origem do mundo. Tokaj e Chianti possuem datas mais antigas, mas Porto, em 1756, foi a primeira a estabelecer regras específicas de produção. As outras duas, apenas tinham uma demarcação oficial do território.

No início do Século XX, a França estabeleceu sua primeira denominação de origem para Champagne, em 1927. E poucos anos depois, em 1935, ela definiu seu sistema de Apéllations d’Origine Controlées, criando um mecanismo comum para todas as denominações de origem do país. Ela determina basicamente 3 níveis:
    Vin de Table (vinho de mesa): se o vinho não possui nenhuma denominação, ele será um vin de table.
    Vin de Pays: um nível de classificação regional, que garante somente a origem das uvas, mas não oferece exigências quanto a estilo e tipo. Na França, uma região com classificação de Vin de Pays, normalmente é uma região com menor apelo comercial, menor tipicidade.
    Apéllation d’Origine Controlée (denominação de origem controlada): além da garantia de origem das uvas, uma AOC pode definir regras de plantio e vinificação, desde a variedade de uvas, métodos de plantio, rendimento dos vinhedos, até formas de produção, como mínimo de álcool, máximo de açúcar, tempo mínimo de envelhecimento, e vários outros aspectos. Além disso, em algumas DOCs, os vinhos estão sujeitos a degustações por uma banca avaliadora, para atender que o vinho atenda à qualidade da classificação.

Após a França, outros países europeus desenvolveram sistemas equivalentes. Em Portugal, o sistema é muito similar ao francês, com 3 qualificações - Vinho de Mesa, Vinho Regional e Denominação de Origem Controlada (DOC). Na Itália, há 4 níveis: Vino da Tavola, Indicazione Geografica Tipica (IGT), Denominazione di Origine Controllata (DOC), e Denominazione di Origine Controllata e Garantita (DOCG). Na Espanha, há o Vino de Mesa, Vino de la Tierra, Denominación de Origen, e duas regiões ganharam a distinção da Denominación de Origen Calificada. Já a Alemanha tem um sistema um pouco mais peculiar.

Estas diferenças estão, no entanto, com os dias contados, já que a Comissão Européia, órgão executivo da União Européia, já estabeleceu um sistema de apelações comum. Possui 3 níveis, como o sistema francês, e estabeleceu as equivalências entre os níveis dos diferentes países. Possui os níveis vinho de mesa, Indicação Geográfica Protegida (IGP), e Denominação de Origem Protegida (DOP).



Europa França Portugal Itália Espanha
Vinho de Mesa Vin de Table Vinho de Mesa Vino da Tavola Vino de Mesa
IGP Vin de Pays Vinho Regional IGT Vino de la Tierra
DOP AOC DOC DOC DO DOCa
DOCG

Enquanto isso, no novo mundo, começam a instituir algumas denominações de origem. No entanto, ao contrário de serem um mecanismo de proteção da reputação, estas denominações são exclusivamente para tentar promover a região. No Brasil, temos a “DO Vale dos Vinhedos”. Chile e Argentina também possuem algumas. Na África do Sul temos Wines of Origin (vinhos de origem), na Austrália temos Geographical Indications (indicações geográficas), e nos Estados Unidos temos as American Viticultural Areas (áreas viticulturais). No entanto, em nenhum desses casos a denominação de origem traz nenhuma garantia de qualidade, apenas de procedência das uvas.

Reserva, Gran Reserva, etc

Termos como Reserva, Gran Reserva e suas traduções, são comuns a vinhos de diversos países. No entanto, muitas vezes eles não significam nada além de marketing. A Espanha é o único país que possui uma legislação nacional determinando o uso dos termos Crianza, "Reserva" e "Gran Reserva", que definem o tempo mínimo de envelhecimento (em barrica e em garrafa) antes de serem colocados no mercado. A tabela abaixo apresenta todos os tempos:

Mínimo Meses BRANCOS e ROSADOS TINTOS
CRIANZA Total
Barrica + Garrafa
18 24
Barrica 6 6
RESERVA Total
Barrica + Garrafa
24 36
Barrica 6 12
GRAN RESERVA Total
Barrica + Garrafa
48 60
Barrica 6 18

Algumas Denominações de Origem de Portugal e Itália também possuem regulações desses e outros termos; no entanto, é muito variável de uma denominação a outra. E quando se trata de países do Novo Mundo (América Latina, África do Sul, etc), não existe nenhuma legislação, e dependemos exclusivamente da ética do produtor. Em geral, o Reserva possui algum tempo de guarda antes de ser vendido, e o Gran Reserva, possui mais tempo de guarda.

Reservado versus Reserva

O termo Reservado não tem nenhuma regulamentação, e é normalmente usado em vinhos sulamericanos para designarem os vinhos de mais baixa gama de uma vinícola.

5 comentários:

  1. Excelente esclarecimento. Hoje tomei um vinho verde, Muralhas da Monção, muito bom, excelente! Dai veio a curiosidade de saber o que é vinho verde. Confesso que não sabia . Pensava que fosse pela cor. Obrigada pelo esclarecimento.

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    1. Não há de quê! Fico feliz que meu blog tenha te ajudado!

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  2. Excelente texto pra começar a entender os vinhos, assim como me encontro ( iniciando), ou melhor Crianza

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  3. Parabéns pelos esclarecimentos relacionados com a classificação dos vinhos verdes.

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